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domingo, 5 de maio de 2019

A RODA DOS ENJEITADOS


Material do acervo do professor Adinalzir Pereira

A Roda dos Enjeitados, também conhecida como Roda dos Expostos, era um dispositivo cilíndrico instalado do lado de fora de uma igreja que era dedicado ao recolhimento de recém-nascidos rejeitados no século XVIII. A mãe que desejasse abandonar seu filho, ao invés de abandoná-lo em qualquer lugar, tinha a oportunidade de entrega-lo à igreja sem se identificar. Inicialmente no Brasil havia cerca de 5 rodas e no Rio de Janeiro haviam 2. A mais conhecida era na Santa Casa de Misericórdia no Centro, a outra em Campos.

Como o número de crianças abandonadas crescia no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, a corte portuguesa inicialmente se preocupou em resolver o problema adotando esse antigo costume europeu, já que o infanticídio não era visto como crime, mas pecado. Ao saber que as crianças abandonadas eram devoradas por cães e porcos, isso se tornou um incômodo aos administradores portugueses.

A roda foi também um processo civilizador. O Estado começa a desestimular as práticas infanticidas, pois não era aceitável uma selvageria dessas. Como as crianças normalmente eram abandonadas perto de rios, em monturos (lixões da época) ou até na beira das praias, muitas morriam sem ao menos receber o batismo. Por isso, o acolhimento em instituições católicas seria favorável para, pelo menos, as crianças receberem a “salvação”. Criou-se um medo entre os adultos de que as almas das crianças ficassem penando naquele lugar de espera eterna.

Até a invenção da mamadeira e do leite em pó e pasteurizado, o único alimento que podia garantir a vida do recém-nascido era o leite materno ou da ama-de-leite. Desde a antiguidade o problema de como alimentar crianças órfãs e expostas já se colocava como relevante, dada a absoluta impossibilidade de alimentá-las de outras formas. Experiências feitas com papas e caldos e água adoçada sempre foram responsáveis por altas taxas de mortalidade entre os recém-nascidos. Na época, nos Relatórios encaminhados anualmente pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro ao Ministro do Império, observa-se uma crescente preocupação em demonstrar que os índices elevados de mortalidade dos recém-nascidos não eram devidos a maus-tratos recebidos na Casa dos Expostos, mas ao fato de serem os recém-nascidos já depositados mortos ou moribundos.

Segundo os Relatórios do Ministério do Império, foram recolhidas na Roda do Rio de Janeiro 47.255 crianças, no período de 1738 até 1888. As explicações mais comuns apontadas pelos estudiosos para o número crescente de crianças deixadas na Roda sempre foram: para que os senhores pudessem alugar as escravas como amas-de-leite; para proteger a honra das famílias, escondendo o fruto de amores ilícitos; para evitar o ônus da criação de filhos das escravas, em idade ainda não produtiva; pela esperança que tinham as escravas de que seus filhos se tornassem livres, entregando-os à Roda; para que os recém-nascidos tivessem um enterro cristão, já que muitos eram expostos mortos ou adoecidos, em decorrência de epidemias que se abateram sobre o Rio de Janeiro, fazendo grande número de vítimas, dizimando famílias inteiras e deixando crianças órfãs ou em estado de necessidade.

O Brasil foi, talvez, o último país a abolir a Roda. Temia-se que, com sua extinção, aumentassem os abortos e os infanticídios de filhos indesejados ou ilegítimos, uma vez que o dispositivo da Roda mantinha o anonimato de quem depositava a criança, preservando a honra das famílias.

Atualmente ainda se abandonam recém-nascidos, e sem a Roda dos Enjeitados, eles são encontrados em lixeiras ou lugares abandonados. É muita crueldade!

Fonte: Fotos Raras do Rio Antigo


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. A Santa Casa de São Paulo também tinha essa Roda dos Enjeitados. Aliás, ainda tem. Está lá, mas virou peça do museu da entidade. Foi desativada em 1950, com quase 5 mil registros.

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