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domingo, 28 de julho de 2019

CORONELISMO.- CORONEL JOÃO SÁ.

Por Geraldo Júnior
Coronel João Sá

João Gonçalves de Sá “João Sá” (Jeremoabo, 25 de Novembro de 1882 - 05 de Agosto de 1958)

Ex-Prefeito da cidade Jeremoabo entre os anos de 1938 e 1943. Fazendeiro e pecuarista, Coronel da Guarda Nacional, deputado estadual pelo PSD. Uma das grandes lideranças políticas do Nordeste baiano.

Em 1928, enquanto viajava, manteve um encontro inesperado com Lampião e seu bando, onde mantiveram o primeiro contato.



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Em 1932 ao ser preso o ex-cangaceiro Volta Seca apontou o coronel João Sá como um dos mais poderosos e influentes coiteiros de Lampião em solo baiano.

O coronel João Sá faleceu no dia 05 de agosto de 1958 aos 75 anos de idade.

Geraldo Antônio de Souza Júnior

ENCONTRO COM LAMPIÃO.

Fonte: Wikipédia.

Em dezembro de 1928, Virgulino Ferreira da Silva o Lampião, estava de passagem pela Bahia, mais precisamente, pela então vila de Ribeira do Pombal. Lampião e seu bando estavam naquela região depois de vários anos atuando nos sertões dos Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, fugindo de uma grande perseguição dos aparatos policiais destes Estados. Depois de passar pela vila, o bando de cangaceiros esteve também em Bom Conselho (hoje Cícero Dantas) e seguiu em direção mais ao norte, cerca de 40 quilômetros, para um pequeno aglomerado de casas denominado Sítio do Quinto, procurando a casa de um homem chamado José Hermenegildo.

Naquela mesma época, o coronel João Sá exercia os cargos de presidência da Intendência de Jeremoabo e, pela segunda vez, o mandato de deputado estadual pelo legislativo baiano. Ele, seu pai Jesuíno Martins de Sá (um dos secretários da Intendência de Jeremoabo) e o jovem José da Costa Dórea seguiam num pequeno automóvel modelo Ford rumo à cidade de Salvador, onde o trajeto naquele tempo exigia seguirem pelo território sergipano e dali prosseguirem por via ferroviária, utilizando os trens da ferrovia conhecida como Leste Brasileiro.

Conforme os relatos de Dórea transcritos no capítulo 5 do livro “Lampião na Bahia”, de Oleone Coelho Fontes, a viagem ocorreu à noite, na madrugada do dia 16 para 17 de dezembro de 1928 devido a um problema mecânico no automóvel. Mesmo sabendo que o grupo de Lampião circulava pela região, o coronel Sá confiou que guiando durante grande parte da noite, seguindo pelas antigas estradas poeirentas da região, eles poderiam passar despercebidos pelo bando.

Ao realizarem uma parada para tomar café na fazenda Abobreira, o medo de um encontro com Lampião e seus cangaceiros se tornou mais real, pois o proprietário do lugar, José Saturnino de Carvalho Nilo, confirmou que eles estavam nas redondezas. Mesmo assim seguiram adiante, em direção ao lugarejo Sítio do Quinto.

Ao entrarem no pequeno arruado, viram diante de uma casa um veículo parado, com alguns homens ao seu redor. Um deles estava com um candeeiro. O coronel João Sá imaginou que a casa onde o veículo e os homens estavam deveria oferecer algum tipo de apoio aos viajantes. Após brecarem, os passageiros do Ford foram cercados por homens armados e intimados a informarem quem eram. Após isso o coronel João Sá descobriu que estava diante do cangaceiro Lampião, e para confirmar suas suspeitas, o homem armado aproximou o candeeiro de seu rosto, mostrando a característico defeito em seu olho. Ele e os outros viajantes foram conduzidos à casa de José Hermenegildo e foram se acomodando em cima de sacos de algodão e de peles de animais, temendo que fossem mortos, assim como ocorreu com outros coronéis.

Mas Lampião não lhes fez mal algum. Em sua chegada à Bahia, ele pretendia firmar contatos, compor alianças, ampliar sua rede de coiteiros que lhe dariam apoio e proteção, e dizia que estava “em paz” no território baiano, que “havia entrado no cangaço pelos sofrimentos sofridos pela sua família” e que se “houvesse condições”, ele largaria aquela vida em armas e buscaria ficar em paz.

Porém, mesmo divulgando estas novas intenções, não deixou de coagir os fazendeiros baianos, pedindo para estes lhe “ajudar” no sustento do seu bando. E assim o fez com o Coronel João Sá, que não transportava dinheiro naquele momento, e sim títulos bancários. Dórea afirmou que foi chamado pelo coronel para fora da casa, onde lhe solicitou 200$000 réis para dar a Lampião. Este por sua vez deixou que os viajantes do Ford escrevessem cartas as suas famílias, que um portador levaria as missivas para Jeremoabo.

Na sequência, Lampião pediu a José Hermenegildo que colocasse três redes para acomodar a ele, ao coronel e a seu pai no mesmo quarto. Neste momento, o coronel pediu ao maior cangaceiro do Brasil que narrasse a epopeia de sua vida. Lampião descreveu as perseguições que sofreu ao longo da vida como bandoleiro das caatingas, mas que estava “a fim de descansar” no sertão baiano. Depois de ouvir as histórias, todos foram dormir, e após o despertar, o coronel João Sá comenta a Lampião que na condição de deputado estadual, teria de informar as autoridades sobre aquele encontro. Consta que Lampião não se alterou com as palavras do político baiano.

Quando o coronel deu na partida do seu automóvel, a máquina não pegou (provavelmente devido ao frio noturno do sertão). Na mesma hora, vários comandados de Lampião deram uma mãozinha ao coronel João Sá, empurrando o carro, que pegou no “tranco” e estes seguiram viagem.

Estes relatos foram documentados pelo jornal carioca "Crítica", de Mário Rodrigues (na edição do dia 30 de dezembro de 1928) e enquanto Lampião esteve na Bahia, as terras e os protegidos de Coronel João Sá permaneceram em segurança. O pesquisador Oleone Coelho Fontes afirma que, fosse por simpatia, por necessidade de preservar seus bens, ou por ter vislumbrando vantagens outras nesta aliança com o grande cangaceiro, o coronel Sá se tornou um dos mais importantes protetores de Lampião na Bahia.


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