Por Honório Medeiros
Leiam,
anteriores a este texto, em www.honoriodemedeiros.blogspot.com,
1) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO; 2) O
ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ: COMO ERA A CIDADE NA ÉPOCA DA INVASÃO
TEORIA: O
ataque à Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e Lampião, no
que foram secundados por Massilon
(PRIMEIRA
PARTE)
Esta
é a versão, digamos assim, “oficial”, encontrada em quase todos os textos
acerca do cangaço.
Em
Raul Fernandes, por exemplo, em seu clássico “A MARCHA DE LAMPIÃO” (2ª edição;
Editora Universitária – UFRN; 1981; Natal), lê-se:
A notória fama
de riqueza de Mossoró aguçava a cobiça dos bandidos. A falta de força policial
os estimulava. Criminosos e aventureiros se movimentavam. Das ribeiras do
Moxotó, do Navio e do Pajeú afluentes da grande bacia do rio São Francisco, e
dos arredores das vilas de Nazaré e Flores, na hinterlândia de Pernambuco,
Lampião formou o bando.
(...)
Os mais
esclarecidos entraram na empreitada desejosos de fugir com o produto dos roubos
para o Sul do País, ou qualquer lugar onde pudessem viver impunes.
Essa teoria
não se sustenta. Não foi assim que aconteceu, muito embora seja inegável que a
ganância foi um dos combustíveis que acionou todos os envolvidos.
O que se quer
dizer é que o primeiro passo do projeto da invasão, a “causa causarum”, não
pode ser atribuída a Lampião, tampouco ao Coronel Isaías Arruda.
E é fácil
inferir essa conclusão, meramente interpretando os textos “canônicos” acerca do
tema.
Sérgio Dantas por exemplo, em outro clássico da literatura do cangaço, “LAMPIÃO E O RIO
GRANDO DO NORTE” (1ª edição; Cartgraf – Gráfica Editora; 2005; Natal), ao
ressaltar a resistência do Rei do Cangaço ao assédio do Coronel Isaías Arruda,
para realizar a empreitada do ataque a Mossoró, cita uma fonte inquetionável:
O cangaceiro
Jararaca, testemunha da conversa (entre Isaías e o cangaceiro) lembrou
com fidelidade, dias mais tarde, a resistência de Lampião ao assédio ferino do
Coronel Arruda:
“Lampião nunca
tencionara penetrar nesse Estado porque não tinha aqui nenhum inimigo e se por
acaso, para evitar qualquer encontro com forças de outros Estados, tivesse que
passar por qualquer ponto do Rio Grande do Norte, o faria sem roubar ou ofender
qualquer pessoa, desde que não o perseguissem”.
Um pouco mais
adiante o mesmo escritor, nas notas ao Capítulo do qual se extraiu o texto
acima transcrito, lembra outro depoimento:
Uma segunda
referência encontra-se em Lucena (1989, p. 99), onde o cangaceiro Manoel
Francisco de Lucena Sobrinho, o “Ferrugem”, também em entrevista, afirma
textualmente: “Lampião não queria atacar Mossoró, alegando que não conhecia o
Rio Grande do Norte”.
Esses
depoimentos são suficientes para inutilizar a teoria da qual Raul Fernandes foi
um dos mais importantes porta-voz. Não é verdade que em decorrência da riqueza
de Mossoró Lampião tenha formado um bando para a atacar.
Teria sido
então o ataque a Mossoró uma idéia nascida no cérebro do Coronel Isaías Arruda?
Coronel Isaías
Arruda
Sérgio Dantas
crê que sim. Em sua obra já citada, na parte denominada “O PARTO DE UM PLANO
MACABRO”, encontramos o seguinte:
Arruda tinha
interesse em Mossoró, cidade rica, centro comercial de incontestável
notoriedade no cenário sertanejo. De forma inicialmente sutil começou a sondar
o cangaceiro. Lembrava-lhe a todo instante o êxito obtido por Massilon em dias
passados.
(...)
Arruda
mostrava-se indiferente aos argumentos do zanaga(Lampião). Mantinha-se
particularmente interessado na pilhagem de Mossoró. A cidade potiguar –
reafirmava o Coronel – tinha fama de prosperidade.
Mas é muito
pouco provável que tenha sido do Coronel Isaías Arruda a concepção da idéia do
ataque a Mossoró. Assim como não foi dele a concepção da idéia do ataque a
Apodi, realizado dias antes, sob o comando de Massilon, com um propósito
eminentemente político, como há de se ver mais adiante.
CONTINUA.
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