Delmiro
Augusto da Cruz Gouveia, mais conhecido como Delmiro Gouveia (Ipu, 5 de junho de 1863 — Pedra, 10 de
outubro de 1917), foi um industrial e empreendedor brasileiro.
Um dos
pioneiros da industrialização do Brasil e do aproveitamento
de seu potencial hidroelétrico, construiu a primeira usina hidrelétrica do
Nordeste e a segunda do país, a Usina de Angiquinho, antecedida
somente pela Usina de Marmelos.[1] Foi
também o criador do que é tido como o primeiro "shopping
center" brasileiro: o Mercado Modelo Coelho Cintra,
inaugurado em 7 de setembro de 1899 no Recife.[2][3][4].
Primeiros anos
de vida[editar | editar código-fonte]
Nasceu na
Fazenda Boa Vista, no município de Ipu, no Ceará, filho da
pernambucana Leonila Flora da Cruz Gouveia com o cearense Delmiro Porfírio de
Farias. Sua família transferiu-se em 1868 para o estado de Pernambuco,
onde se estabeleceu na cidade de Goiana, mudando-se
para o Recife em
1872.
Com a morte de
sua mãe teve que começar a trabalhar aos 15 anos de idade, em 1878,
inicialmente como cobrador da Brazilian Street Railways Company no
trem urbano, denominado maxambomba. Posteriormente chegou a Chefe da
Estação de Caxangá, no Recife. Foi despachante em armazém de algodão.[5]
Em 1883 foi ao
interior de Pernambuco, interessado no comércio de peles de cabras e de
ovelhas, que passou a negociar, tendo obtido grande sucesso. Em 1886
estabeleceu-se no ramo de couros e passou a trabalhar, por comissão, para o
imigrante sueco Herman Theodor Lundgren (Casas Pernambucanas) e para outras empresas
especializadas nesse comércio, como a Levy & Cia. Trabalhava também por
conta própria. Em 1896 fundou a empresa Delmiro Gouveia & Cia e passou a
alijar seus concorrentes do mercado, empregando os melhores funcionários das
empresas concorrentes.[6]
Principais
realizações[editar | editar código-fonte]
Em 1899,
inspirado pela Feira Internacional de Chicago de 1893, inaugurou no Recife o Mercado Modelo Coelho Cintra, um
moderno centro comercial e de lazer, que pode ser considerado o primeiro shopping
center do Brasil. Esse empreendimento foi um grande sucesso e motivo
de orgulho para o Recife, e chegou a atrair multidões estimadas em mais de 8 mil
pessoas, até que foi deliberadamente incendiado em 2 de janeiro de 1900 pela
polícia de Pernambuco, por orientação do Conselheiro
Rosa e Silva, à época vice-presidente do país, que era feroz inimigo
político de Delmiro, e a mando do então governador Sigismundo Gonçalves, fiel rocista.[7]
Após o
incêndio, ateado por razões políticas no Derby Centro Comercial, e também em
virtude de ter-se apaixonado por, e depois raptado, uma filha natural de 16
anos do então governador de Pernambuco,
seu arqui-inimigo político, Delmiro concluiu que sua vida corria perigo no
Recife e transferiu-se, em 1903, para Pedra, em Alagoas, uma
povoação perdida no coração do sertão, mas de localização estratégica para seu
comércio, na Microrregião Alagoana do Sertão do São Francisco, fazendo
fronteira com Pernambuco, Sergipe e Bahia, e hoje denominada Delmiro Gouveia em
sua homenagem. Delmiro comprou uma fazenda em Pedra, às margens da Ferrovia
Paulo Affonso, onde centralizou seu lucrativo comércio de peles e construiu
currais, açude, sua residência, e prédios para abrigar um curtume.[5]
Planejando
construir ali uma fábrica de linhas de costura - que até então eram importadas
da Inglaterra,
as conhecidas Linhas Corrente, que monopolizavam o
mercado brasileiro - e apelando para ideais nacionalistas, nativistas e cívicos
então em voga, conseguiu do governo de Alagoas concessões
que incluíam o direito à posse de terras devolutas, isenção de impostos para a
futura fábrica, e permissão para captar energia da cachoeira de Paulo
Afonso, além de recursos governamentais para ajudar na construção de 520
quilômetros de estradas ligando Pedra a outras localidades.[5][8] A
partir de 1912 iniciou a construção da fábrica de linhas e da Vila Operária da
Pedra, com mais de 200 casas de alvenaria. Em 26 de janeiro de 1913 inaugurou a
primeira hidroelétrica do Nordeste brasileiro com potência de 1.500 HP na
queda de Angiquinho. Em 1914 iniciou as atividades da nova fábrica sob a razão
social Companhia Agro Fabril Mercantil, produzindo as linhas com nome
comercial "Estrela" para o Brasil, e "Barrilejo" para o
resto da América Latina. Com preços muito abaixo das "Linhas
Corrente", produzidas na Inglaterra pela Machine
Cotton, que até então monopolizava o mercado de linhas de costura em toda a
América Latina,[8] logo
dominou o mercado brasileiro, e amplas fatias dos mercados latinoamericanos.[7]
O sucesso da
empresa - que em 1916 já produzia mais de 500.000 carretéis de linha por dia -
chamou a atenção do conglomerado inglês Machine
Cotton, que tentou por todos os meios comprar a fábrica.[8] Por
motivos políticos e questões de terras, Delmiro Gouveia entrou em conflito com
vários coronéis da região, o que provavelmente, segundo a maioria dos
historiadores, ocasionou seu misterioso assassinato à bala. Outros
historiadores - apoiados no conceito de Direito
Romano qui prodest? - a que isto serviu? a quem isto aproveitou?
- incluem a Machine Cottton no rol dos suspeitos.[9] Seus
herdeiros, não resistindo às pressões da Machine Cotton, venderam a fábrica à
empresa inglesa, detentora na América Latina da marca "Linhas
Corrente", que mandou destruir as máquinas, demolir os prédios, e lançar
os maquinários e escombros no rio São Francisco, livrando-se assim de uma
incômoda concorrência.[5][10]
Delmiro
Gouveia, industrial brasileiro (c. 1885).
Destaques[editar | editar código-fonte]
Construiu a
segunda hidrelétrica do Brasil, uma usina com potência de 1.500 HP, na
queda de Angiquinho, uma cachoeira em Paulo
Afonso. "Ele exportava peles de bode para a moda de Nova Iorque um
século antes de se ouvir falar por aqui no tal do mundo 'fashion'",[1] diz
um artigo. Em 1899 inaugurou em Recife o primeiro shopping
center do Brasil, o Derby, um centro comercial e de lazer
com mercado, hotel, cassino, velódromo, parque de diversões e loteamento
residencial.[5] Em
1914 fundou a Companhia Agro Fabril Mercantil, a primeira na América do
Sul a fabricar linhas para costura e fios para malharia. Após seu assassinato -
até hoje não bem esclarecido - o maquinário original da Companhia Agro
Fabril Mercantil foi atirado em um penhasco do rio São Francisco pelo
grupo escocês Machine Cotton que comprou a empresa de seus
sucessores, para destruí-la, livrando-se assim da sua concorrência no ramo.[1]
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário