Escritor
Wilson Midlej autografa seu novo livro no dia do lançamento. Foto: Arquivo do
autor
Alma inquieta
de jornalista e escritor, WILSON MIDLEJ brindou o público da cidade de Jequié
com o lançamento do livro “Anésia Cauaçu – Lenda e História no Sertão de
Jequié”, no último dia 28 de outubro, no Centro de Cultura, às 19h, com a
presença de integrantes da Academia de Letras e pessoas de diversos segmentos
sociais.
Soteropolitano
de nascimento e jequieense de coração, Wilson – que milita no jornalismo desde
o ano de 1969 -, já publicou outros livros de sua autoria, um deles, o
“Crônicas da Bahia sob o Olhar de Jequié”, demonstra claramente, numa prosa
poética, sua identidade com o município. Desta vez, com “Anésia Cauaçu”, ele
envereda pela história de uma mulher da época Cangaço que aos poucos se
transforma em uma lenda do município.
Para se
conhecer aspectos desta nova obra e um pouco mais sobre a história da
personagem, o blog GICULT entrevistou o escritor WILSON MIDLEJ.
GICULT: Professores
e pesquisadores de Jequié e outras regiões publicaram livros e trabalhos
acadêmicos sobre Anésia Cauaçu. O que seu livro também ressalta?
WILSON MIDLEJ: Vamos
por partes: o professor Emerson Pinto, publicou um livro, que depois foi
revisto, ampliado e reeditado sobre o tema. Ele foi uma das fontes da
dissertação de mestrado da professora Márcia Auad e do roteiro de cinema de
Lula Martins, este último contando com a minha ajuda. Este roteiro está
registrado e seus direitos autorais estão devidamente assegurados. Depois, o
Domingos Ailton abordou também o assunto em livro. A minha iniciativa de
transformar em livro, o roteiro do filme que não aconteceu, atendeu à sugestão
de Lula Martins, no sentido de ampliar as pesquisas e transformá-lo num texto
literário. Debrucei-me nesta tarefa, ampliando as pesquisas bibliográficas nas
citadas obras e outras, adotando maior rigor histórico e acadêmico. Este livro,
recém-lançado, reúne elementos ficcionais e recortes históricos com base em
pesquisas feitas por mim e o referido cineasta nas obras citadas e ressalta
justamente os conflitos entre antigos coronéis da região.
GICULT: A
luta da mulher por emancipação e por respeito na sociedade é constante. Em que
o conhecimento da história de Anésia contribui para a conquista da igualdade de
gênero?
WILSON MIDLEJ:
Em minha visão, apesar do empoderamento feminino ocorrido pelas ações de
Anésia, é preciso salientar que ao despontar como líder, Anésia Cauaçu não
tinha como foco a sua posição diante do grupo. Ademais, ela não era cangaceira
e sim uma fazendeira destemida que atirava bem e que incorporou-se na ânsia de
vingança da sua família, diante do frio assassinato de Augusto Cauaçu, seu
sobrinho. A condição de mulher, mãe, guerreira, estimulou o nascimento de
uma fêmea feroz, um ser humano forte e valente sem, no entanto, abdicar da
doçura e feminilidade que a condição de mulher traduz. Na verdade, Anésia Cauaçu
não tinha a percepção de que por ser mulher naquele fim de século XIX ela não
tinha que ser submissa ou passiva. Tanto que a pesquisadora Marcia Auad, como
eu e Lula, não conseguimos nos jornais da época nenhuma foto sequer com Anésia
vestida de vaqueiro ou jagunço. Os jornais apresentam ela sempre com vestidos
longos, chale nos ombros, revelando o gênero feminino tal como era
culturalmente os costumes da época. Portanto, a história de Anésia Cauaçu
em nada contribui para as questões que só vieram a ser levantadas a partir dos
anos sessenta com movimentos como Woodstock. Nada impede, entretanto, que
venhamos a supor que uma Anésia contemporânea estaria lutando pelos direitos
das mulheres, tais como direito à sua autonomia, à integridade de seu corpo, direitos
reprodutivos, direito a amar a quem o seu coração palpita... etc.
GICULT: Apesar
dos estudos e livros publicados, a vida de Anésia não se popularizou no
município e também ainda não foi tratada com relevância pelos poderes
institucionais da cidade, como Câmara de Vereadores e Prefeitura, e até nas
escolas. Qual sua opinião a esse respeito? O que poderia ser feito?
WILSON MIDLEJ: Olha,
meu prezado editor de Gicult, Anésia não se popularizou no município assim como
Lindolfo Rocha, Nestor Ribeiro, Alves Pereira, Urbano Gondim, também pouco
representam para a população de Jequié que não tem memória pela transição da
sua comunidade. Além dos italianos, os ribeiro, os silva, os gondim, etc. Resta
muito pouco dos pioneiros por aqui. A maioria dos habitantes de Jequié é
oriunda dos anos 40, 50 e 60. Portanto, sem contato com a história do município
agora contada através de Anésia Cauaçu. Que venham outros livros, outros
autores, quem sabe mais talentosos para fazer vibrar uma história tão vibrante
quanto a do sertão de Jequié.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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