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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

EM SÃO PAULO SEU GALDINO FOI OBRIGADO PAGAR MULTA POR DESOBEDIÊNCIA

Por José Mendes Pereira - Só como arquivo


Nessa madrugada seu Galdino Borba(gato) amanheceu com o Lúcifer nos couros porque uma de suas vacas leiteiras tinha vazado do curral, levando consigo o seu filhote de dois meses de vida. E se achando incapaz de trazê-la sozinho do campo para o seu curral foi pedir ajuda ao seu compadre e amigo Leodoro Gusmão, vez que a bicha era brava e desobediente quando fugia do seu poder, e além do mais, com recém-nascido ao seu lado. E de pressa, foi até a casa do compadre para juntos irem ao campo ver se conseguiam trazer a virada na peste para o seu poder. Seu Leodoro Gusmão se prontificou, afinal, era um grande amigo, e logo foi preparar o seu cavalo, e que seu Galdino o esperasse em sua casa, ele não se demoraria chegar.
Passado alguns minutos seu Leodoro Gusmão chegou à casa do compadre. Tomaram café puro, em seguida pitaram e se mandaram atrás da espantada, isto sem os uniformes de vaqueiro.
Estava no inverno. O lamaçal e os caminhos feitos pelo gado dificultava à procura da vaca, e depois de muito caminharem nas estradas fechadas seu Galdino e seu Leodoro resolveram parar um pouco sob uma árvores de quixabeira, para que os seus animais descansassem um pouco.
O sol estava com temperatura normal, e a finalidade de pararem por ali a convite do seu Galdino era o desejo de falar ao amigo sobre as suas histórias cabeludas. Seu Galdino tinha mania de contar tudo que com ele se passava, mas era bom para aumentar ou criar histórias que apenas imaginava um dia acontecesse com ele. E sentados sobre as montarias seu Galdino Iniciou:
- Meu compadre Leodoro, eu estou aqui me lembrando que os prédios dos dias de hoje quase não têm mais paredes na parte da fachada... A vidraça tomou de conta e até que fica bonito aquelas centenas de vidros dividindo a fachada como se fossem pequenas janelas...
- Isso são as invenções dos homens de hoje, compadre Galdino! - Atalhou seu Leodoro. - Os estudos estão por aí e o homem a cada dia descobre coisa que antes, somente Deus sabia. E olha lá, um dia o homem dirá que encontrou o reino de Deus. E se ele deixar, tenho certeza que o bicho homem dará um grande aperto de mão em Deus e depois um abraço forte.
- Quem sabe, meu compadre! Poderá isso acontecer mesmo..., mas veja bem o que se passou comigo em São Paulo quando eu fiz uma visita a um primo meu que por lar residia. Ocioso na casa do primo eu resolvi sair à rua para ver as belezas da cidade, e de repente me deparei com um enorme arranha-céu. Enquanto eu admirava a bela fachada do edifício resolvi saber quantas janelas de vidro tinha naquele prédio.
E pus a contar uma por uma. E sem menos eu esperar um senhor com fardamento de trabalho municipal apareceu na minha frente dizendo-me:
- Pelo que eu vi o senhor estava contando as janelas deste prédio. É isso mesmo?
- Sim senhor, eu estava contando para ver quantas janelas nele tem.
- Mas o senhor sabe que aqui em São Paulo é proibido contar as janelas dos prédios.
- Sabia não senhor!
- E sabia que quem conta as janelas dos prédios daqui de São Paulo é multado?
- Não senhor. Menos ainda..., eu não sabia.
- Pois é proibido. Eu vou fazer a multa.
Disse ele puxando um talão e uma caneta. E começou a escrever. Depois me perguntou quantas janelas eu já tinha contado. E eu como nordestino e que não tem nada de besta, respondi que eu já havia contado 200 janelas. E ele lá anotou. Em seguida, me passou o papel, paguei a multa correspondente às 200 janelas. E sem mais conversar comigo foi embora. Só que eu peguei o besta, compadre Leodoro.
- Mas por que o senhor diz que pegou o besta?
Eu já tinha contado 400 janelas...
- O senhor é vivo, compadre Galdino! Eu nunca vi um homem mais inteligente do que o senhor.
- Eu sou nordestino e não sou como os sulistas pensam da gente, meu compadre! Sou cabra da peste e conterrâneo do capitão Lampião.
- Verdade, compadre Galdino! Quem nasce neste sofrido Nordeste é cabra macho sim senhor!
E eu brinco, compadre Leodoro!

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