*Rangel Alves da Costa
Eu que não danço nem valsa, não tiro o pé do lugar nem em xote nem baião, ainda assim fico todinho arrepiado e estremecido quando o amigo Sávio do Acordeon puxa o fole e começa: “Nenhuma carta lembrar, e nem um anjo pra me ajudar, será que já me esqueceu, eu não sei, eu preciso só saber. Quantas vezes eu falei, pra que você não me iludisse assim, me deixou sempre a sonhar. Fale agora, por favor, fale agora eu preciso só saber. Meu grande amor diga pra mim aonde está. Diga pra mim qual a razão, dessa triste solidão...”.
Ele sabe que gosto demais dessa música, e até me avisa antes quando vai dedilhar na sanfona o nostálgico romantismo. E quem não gosta de ouvir Sávio, de dançar com os acordes de Sávio, de passar a noite inteira vendo esse menino mostrando sua arte maior, que é a da sanfona? Em sua simplicidade, que o torna sempre o mesmo sobre os holofotes e na roda de amigos, Sávio faz do palco, da sanfona e da voz, a demonstração que Poço Redondo também é culturalmente rico através de seu nome.
Sávio, o tão conhecido e festejado Sávio do Acordeon, é autenticamente sertanejo de Poço Redondo, na região semiárida sergipana. Desde cedo, ainda meninote, que começou a dedilhar sanfona e logo se mostrava com habilidade sem igual na música regional, principalmente o forró. E seu aprimoramento foi tamanho que atualmente é requisitado para shows em toda a região sertaneja e tem cadeira cativa no município alagoano de Piranhas, onde os turistas que por lá chegam se comprazem de sua maestria no acordeon, também cantando magistralmente.
Por isso mesmo que toda vez que se pensar em festa grande, em multidões na Praça de Eventos, o primeiro nome a ser recordado deve ser sempre o de Sávio. E não precisa dizer muito sobre os motivos, apenas que ele é nosso, é da terra e é bom demais. Apenas que Sávio é mestre na sua arte. Então, amigo Sávio, puxe o fole que quero ouvir “Anjo Querubim”:
“Fiz você pra mim, meu brinquedo, meu anjo querubim, meu segredo guardado só pra mim, meu amor mais louco. Até de tanto amar, fiz também algo pra gente ninar, uma criança pra gente adorar, tudo num sufoco. E você não gosta mais de mim, vem dizer que eu não soube dar amor. E achar que a vida é mesmo assim, cada um leva um barco sofredor. Meu baião, coração, arranca essa dor do meu peito pra eu não chorar. Meu baião, coração, arranca essa dor do meu peito pra eu não chorar. Meu baião, coração...”.
Contudo, Sávio, para além da música e do artista, e em pedestal mais alto, está o amigo. E este guardado sempre do lado esquerdo do peito, bem dentro do coração... A você, meu amigo, esta singela homenagem.
Escritor
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