Por João de Sousa Lima
As intricadas
veredas do nordeste serviram de caminhos para os vários bandos de cangaceiros,
assim como fazendas, sítios e roças, dos homens simples aos mais abastados
criadores da época, foram passagens desses grupos. Os catingueiros tinham suas
residências visitadas tanto pelos que andavam “à margem da lei”, como pelos que
se diziam defensores delas.
A cidade de
Itapetim, em Pernambuco não fugiu a regra: Antonio Silvino (Foto ao lado) pisou
aquelas terras.
Segundo a
história registrada em livros, o povoamento daquele município começou em 1885,
sob a orientação do Senhor Amâncio Pereira, que deu início a construção das
primeiras casas. Graças ao seu esforço e espírito progressista organizou-se uma
feira e a primeira casa de comércio, que marcou a evolução do povoado.
Marcos e João
de Sousa Lima na casa visitada pelos cangaceiros
É fácil
desmistificar essa data, pois fazendo uma pesquisa mais detalhada encontramos
casa com datas gravadas nas madeiras, registrando o ano de 1814.
Em 1890 foi erguida uma capela em homenagem a São José do Egito, coube ao padre José Gomes, a celebração da primeira missa. Outro templo, mais amplo, foi construído em 1914, com a finalidade de acomodar maior número de fiéis.
A dupla
próxima à árvore onde os
cangaceiros amarraram os burros.
O primeiro
nome de povoação foi Umburana, em virtude da existência de uma árvore de igual denominação na localidade. Posteriormente passou a ser conhecida como São
Pedro das Lajes. O terceiro nome foi Itapetininga e, finalmente, em 1943, por
decreto lei nº 952, passou a ser Itapetim.
Entre as
várias construções ali existentes, a casa do casal Emídio Ferreira de Lima e
Maria Ferreira da Conceição era uma dessas residências, em suas madeiras e
paredes, apesar de abandonadas, ainda estão registradas essas datas. A casa foi
construída nas proximidades do Riacho do Gato, um dos afluentes do Rio Pajeú.
Data da
construção da casa.
Antonio
Silvino se dividia entre a Paraíba e Pernambuco, Itapetim faz essa divisa com
Teixeira, são dois lugares conhecidos por ter nascido grande cantadores repentistas.
No Sítio Prazeres (tinha esse nome Prazeres por ser o lugar das danças realizadas pelos escravos que ali viveram) Maria Ferreira da Conceição e Emídio Ferreira de Lima viram surgir o famoso Antonio Silvino e seu grupo, o cangaceiro apenas solicitou água e alimentação; Maria serviu alguns biscoitos “Mata-Fome” ou Bolachas Pretas, feitas de rapadura.
Os cangaceiros devoraram a saborosa iguaria e Antonio Silvino, depois desse primeiro contato, sempre que possível passava nessa residência para apreciar as bolachas feitas por Maria, acabaram tornando-se amigos.
Além de Antonio Silvino, outros grupos de homens armados apareceram na região. Um desses grupos era chefiado por Zezé Patriota.
No Sítio Prazeres (tinha esse nome Prazeres por ser o lugar das danças realizadas pelos escravos que ali viveram) Maria Ferreira da Conceição e Emídio Ferreira de Lima viram surgir o famoso Antonio Silvino e seu grupo, o cangaceiro apenas solicitou água e alimentação; Maria serviu alguns biscoitos “Mata-Fome” ou Bolachas Pretas, feitas de rapadura.
Os cangaceiros devoraram a saborosa iguaria e Antonio Silvino, depois desse primeiro contato, sempre que possível passava nessa residência para apreciar as bolachas feitas por Maria, acabaram tornando-se amigos.
Além de Antonio Silvino, outros grupos de homens armados apareceram na região. Um desses grupos era chefiado por Zezé Patriota.
Aspecto atual
da Casa de Maria Ferreira da Conceição.
Como sempre nos rastros dos cangaceiros vinha às volantes policiais, aquela região passou a ser também caminho dos soldados. O tenente Alencar fazia diligências contínuas por lá.
Um dia de feira o tenente chegou entre os feirantes e prendeu Caboclinho Patriota, o tenente forçou o rapaz a dizer o itinerário dos cangaceiros que andavam com seu irmão Zezé; Caboclinho aproveitou um descuido do tenente e fugiu no meio da feira; Na mesma hora o tenente encontrou outro irmão do cangaceiro: Levino Patriota.
O jovem foi
espancado e forçado a dizer quais eram os lugares percorridos pelo irmão
cangaceiro. O jovem acabou contando ao tenente sobre o paradeiro do irmão. O
tenente seguiu com o grupo até a fazenda São Pedro, os cangaceiros foram
cercados, o tiroteio foi intenso, morrendo Bernardo Nogueira, apelidado de
Repentista. O tenente continuou sua busca, indo ao Sítio Mucambo.
Chegando ao sítio, novo cerco foi armado, tiros pipocaram, o combate durou pouco, como saldo dos disparos, morreu Zezé Patriota, o restante do grupo, sem a voz de comando do chefe, partiu mato à dentro, em disparada. Os familiares de Zezé Patriota o enterraram em Itapetim. Como registro daquela época, resta uma cruz tombada e carcomida que marca o lugar do tiroteio, onde Zezé caiu morto.
A casa do
casal Emídio Ferreira de Lima e Maria Ferreira da Conceição, ainda está lá,
teimando contra o tempo, semi destruída, como imagem querendo perpetuar um
tempo que não volta mais.
Nas palavras
emocionadas de minha entrevistada Antonia Dias de Oliveira, neta do casal
citado acima e do seu filho Marcos, ouvi sobre esse tempo de lutas, histórias
que o tempo não apaga.
Na visita a velha casa, durante alguns minutos observando-a, transportando-me no tempo, imaginei sentir o cheiro da fabricação da saborosa bolacha preta, a mata fome, que tanta fome matou, nos confins das terras, no mais distante rincão, da região banhada pelo adorado Rio Pajeú.
João de Sousa
Lima é Pesquisador e escritor.
Paulo Afonso madrugada do dia 20 de dezembro de 2010.
Paulo Afonso madrugada do dia 20 de dezembro de 2010.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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