Lampião
segurando o punhal. Disponível
em: http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2015/01/
O sertanejo
que viveu entre as décadas de vinte e trinta do século passado habituou-se à
dureza da vida imposta pelo clima e também pelas inúmeras e graves questões de
cunho social. Além da seca que assolava o chão sobre o qual pisava, a violência
de cangaceiros e forças policiais imprimiram um povo duro, muitas vezes ríspido
e alheio à sentimentalismos.
As ações de
cangaceiros e volantes criaram inúmeros traumas entre “os paisano”, como eram
conhecidas as pessoas que não tomavam partido de um lado ou de outro nas lutas.
Esse clima de
violência e rivalidades entre policiais e bandidos deu margem ao surgimento de
inúmeras lendas envolvendo, sobretudo, os cangaceiros. Como se sabe, Lampião
foi o maior expoente do cangaço e, por consequência, a figura mais presente nas
lendas.
Durante as
minhas pesquisas, fiz inúmeras entrevistas com moradores de Fátima e região. Em
mais de um caso, me deparei com uma história macabra que já tinha ouvido,
inclusive, na minha infância. A história dá conta de que, certa vez, Lampião
pegou um bebê e o jogou para o alto, aparando a criança na ponta do seu enorme
punhal. A narrativa afirma ainda que esse foi o motivo principal da sua morte
em 28 de julho de 1938 na grota do angico, Sergipe. Isso porque, de acordo com
a história, a ação brutal e injusta contra uma criança teria quebrado o feitiço
que “fecharia o corpo do cangaceiro” deixando-o, assim, vulnerável aos tiros
dos seus inimigos.
Escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima
De
acordo com o historiador e pesquisador do cangaço, João de Sousa Lima, esse é
apenas uma das lendas que envolvem a figura de Lampião. Afirma que boa parte
desses lendas eram espalhadas pelas volantes entre a população a fim de
desencorajar as pessoas a ajudarem os bandoleiros ou mesmo agirem como
coiteiros. Além da história da criança supostamente morta à golpes de punhal
por Virgulino, há ainda a lenda de que o cangaceiro teria prendido os
testículos de um homem que praticava incesto em uma gaveta e teria dado o prazo
de dez minutos para que este se soltasse para não morrer, obrigando assim o
indivíduo a castra-se.
Uma
outra lenda diz que os cangaceiros sempre fugiam das perseguições empreendidas
pelas volantes porque enganavam os policiais ao moverem-se pelas copas das
árvores. Essa última história, nos dá a ideia de como tais lendas eram vazias
de significados pois qualquer pessoas que conhece minimamente a vegetação da
caatinga saberá ser impossível pendura-se sobre as pequenas, espinhosas e
espaças árvores desse bioma.
Não
é de se admirar que muitas lendas tenham sido criadas em torno desses icônicos
personagens da nossa história, tampouco é digno de admiração o fato de pessoas
idosas como o morador do formigueiro, Seu Sebastião – 96 anos – ainda
rememorarem essas lendas de cangaceiros.
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