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quinta-feira, 21 de maio de 2020

UMA PRECE MATUTA

*Rangel Alves da Costa

Misericordioso Senhor, Pai onisciente, onipotente, onipresente, Ser que a tudo vê, a tudo sente, em tudo está. E, por ser assim, que sempre esteja no altar do sertanejo mundo, onde os pobres e desvalidos se ajoelham junto ao pedestal a rogar graças pelas bem-aventuranças de sua terra.
Que o seu tempo de Eclesiastes seja também o tempo do homem do campo. E assim, que o sol saia, mas também que a chuva caia. Que o calor abrase, mas que a mansidão das brisas boas sopre pelas feições de seu povo. Que não seja somente a dor, pois todo ser humano merece também a alegria e a felicidade.
Que o sol por alguns dias se isole, fique nas distâncias dos horizontes sertanejos, para que a chuva chegue como milagre divino cheio de esperanças. Que o calor abrasado se vá para o leito das águas e em seu lugar venha a brisa boa, o frescor confortante e o suave sopro alentador.
Que o céu azulado e aberto se distancie em repouso temporário e nas alturas vão surgindo as cores esperançosas de um sertão nublado, com nuvens carregadas e trovões anunciando a chegada da chuvarada.
Que as portas e janelas se fechem, não apenas pelo isolamento, mas para que os pingos d’água fiquem somente na terra, se esparramem pelo chão, façam transbordar açude e tanque. Que a planta definhando se esconda e em seu lugar surja um viço novo, verdejante e florido.


Que o silêncio das ruas e a calmaria dos descampados, sejam de repente cortados pelo barulho das chuvas, pelos bichos em alarido e o sertanejo em prece de agradecimento. Que ao cair, as chuvas boas escorram pelos campos, inundem as fontes, verdeje a vida, faça renascer a paz.
Que o ficar em casa não seja nem para a tristeza nem para a desolação, não seja para pensar angústias nem tecer mais aflições, e sim uma renovação de tudo que alimente a alma e fortaleça o ser.
Que os dias não sejam cansativos pela espera nem angustiantes pela incerteza, mas tão somente dias que passarão para os novos dias, e estes cheios de luz, de saúde e de paz. Que o coro dos anjos volte a cantar, que os sinos voltem a dobrar, que os cantos de amor e de fé voltem a ecoar pelas ruas, pelos lares, pelos campos e além.
Que tudo se renove e se refaça, pois tudo desejo sagrado. Os seres que agora padecem e sofrem são filhos de Deus. E Deus não abandona os seus!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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