Beto Rueda
Fonte:
MELO. Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: violência e banditismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: A Girafa, 2004.
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CANGACEIRO CASSIMIRO HONÓRIO X JOSÉ DE SOUSA
A AÇÃO NOBRE DE UM RUDE
Por Ângelo Osmiro Barreto
Em 1910,
durante o período da Semana Santa, o lendário Cassimiro Honório do Navio, velho
cangaceiro do alto sertão pernambucano, da afamada região do Navio, promoveu
formidável cerco ao seu inimigo José de Sousa.
Melânia filha de Cassimiro Honório havia sido “roubada” por José de Sousa. O
pai da moça, inconformado com a atitude do jovem sertanejo, arregimenta um
grande contingente de cangaceiros e retoma a filha do jovem apaixonado. O
episódio cria grande rivalidade entre os dois sertanejos, homens valentes e
acostumados às lutas, numa época em que as divergências eram resolvidas à bala.
A justiça, pouco ou nada fazia para resolver essas pendengas.
Durante um grande cerco promovido por Cassimiro Honório à fazenda de José de
Sousa que durou sete dias, um fato interessante chamou a atenção de todos.
Dentre muitos homens valentes de ambos os lados, um iria se destacar pela sua
atitude nobre. José Rajado, sertanejo rude com sangue no olho como se diz até
hoje naqueles sertões, brigava entrincheirado ao lado dos comandados de
Cassimiro Honório.
Passados três dias de luta renhida, José Rajado escuta um choro de criança
vindo de dentro da casa sitiada. O choro persistente chamava a atenção do
cangaceiro. Aquela criança aos prantos só poderia estar com fome, pensa o
cangaceiro naquele momento da luta. Em ato repentino José Rajado levantou as
mãos e aos gritos pediu para que o tiroteio fosse suspenso.
Surpresos com a atitude pouco comum do bravo sertanejo, os contendores pararam
os tiros, o silêncio tomou conta do lugar por alguns momentos, o cangaceiro
propôs aos sitiados que se prometessem não alvejá-lo, iria ao curral,
ordenharia umas cabras e levaria o leite para a criança que estava chorando com
fome.
José de Sousa prometeu todas as garantias a José Rajado que confiando na
palavra empenhada do inimigo, foi ao curral encheu um balde de leite e deixou-o
em frente à porta da casa sitiada. Retornou ao seu local de combate e após
estar novamente seguro, o tiroteio recomeçou. O cangaceiro José Rajado, apesar
de toda sua rudeza, acabara por praticar um ato da mais alta nobreza.
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