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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

TRAIÇÃO E LIBERDADE.

Por João Filho de Paula Pessoa

Na reta final da passagem pelo Ceará durante sua fuga de Mossoró/RN em 1927, Lampião foi traído por um fazendeiro que julgava ser seu amigo e que tinha participado dos planos ao ataque à Mossoró, o Cel. Isaías Arruda. 

O Bando de Lampião já tinha passado por vários combates de perseguição e muitas provações de força e resistência durante esta fuga, muita fome, sede, exaustão, perdas, mortes e deserções, encontrando-se o bando já bastante reduzido, em frangalhos e extremamente debilitado. Lampião esperava encontrar guarida na fazenda do amigo em Aurora/Ce, para se recompor e prosseguir sua viagem de volta à sua terra. 

O Cel. Isaías Arruda o recebeu e o encaminhou à uma outra fazenda próxima, Fazenda Ipueiras, para hospedá-los na casa grande, mas ao se aproximar da casa, Lampião, seguindo seus instintos, resolveu não entrar e acampou numa vargem próxima, debaixo de algumas árvores. No outro dia, o Cel. Isaías Arruda convidou o bando para um almoço na mesma casa grande, onde seria mais confortável, mas ao se aproximar o horário do almoço, Lampião, instintivamente, novamente não entrou na casa e pediu que o almoço fosse servido no pátio da fazenda, ao ar livre. 

Os instintos, as precauções e a sagacidade de Lampião lhes salvaram a vida, pois seu suposto amigo tinha tramado um plano cruel e covarde para sua morte, mandou envenenar a comida que lhe seria servida, para quando estivessem envenenados dentro da casa, fosse tocado fogo em todo o canavial que a rodeava por todo o pasto e ainda posicionou sua tropa de jagunços armados de tocaia fora da casa, em posição de combate, para abater à tiros todos os que, por ventura, se salvassem do veneno e saísse da casa, tendo ainda as chamas do fogo e a intoxicação da fumaça para assim aniquilar Lampião e todo o bando de uma vez só. 

Iniciou-se então o almoço e logo alguns cangaceiros começaram a passar mal e o fogaréu também iniciou e se alastrou rapidamente por toda a fazenda, a fumaça tomou conta do pátio e da roça, formando uma imensa e tóxica nuvem negra de fumaça, que agravou o mal estar dos envenenados. Lampião estranhou tudo aquilo e imediatamente ordenou a retirada e iniciou o combate com os jagunços empreendendo fuga simultaneamente. 

Os Cangaceiros envenenados correram aos tropeços, combateram, tombaram e fugiram aos vômitos, enjoos e fortes dores, recorrendo ao que restava de suas últimas forças e sumindo na negritude da nuvem de fumaça e na vermelhidão das chamas do fogo, alguns caíram e ficaram pelo caminho, mas, heroicamente e inimaginavelmente, Lampião chegou às terras pernambucanas em condições totalmente precárias, com seu bando quase moribundo, mas vivos e em “casa”, sentindo enfim o gosto da liberdade. 

Isaías Arruda morreu no ano seguinte, em agosto de 1928, por uns oito tiros à queima roupa na Estação de trem de Aurora, sua cidade natal, aos 28 anos. Lampião por sua vez, viveu por mais dez anos, até 1938, quando foi morto em Angico/SE aos 40 anos. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 14/02/2020.

Assista este conto narrado em vídeo: https://youtu.be/6Vlk49SlBSE

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