Seguidores

domingo, 10 de outubro de 2021

GENERAL SIQUEIRA, CANUDOS, EUCLIDES E BOMBINHO

Por Zozimo Lima

Por aqui andou, em dias da semana última do ano findo, como sempre o faz todos os anos, o nosso Dr. Calazans, estudioso da história e folclorista de bom preço. Das andanças por casas de parentes e amigos, sobrou-lhe tempo para se informar do comportamento do general Siqueira de Menezes quando governador do Estado, bem assim sobre a sua situação, como oficial superior, da armada de engenharia, na chamada Guerra de Canudos.

Parece-me, não afirmo com certeza, que o precípuo intuito do saboroso e exuberante advogado post-mortem do valoroso e desventurado pau-mandado do Barão de Maruim - Inácio Barbosa, o Catinga - é apurar a verdade sobre a afirmativa de Gilberto Amado, num dos seus livros de Memórias, de referência a notas escritas por Siqueira, com futuros propósitos publicitários, e delas ter se aproveitado o escritor Euclides da Cunha.

Afirmou-me o Calazans, na palestra que tivemos no Instituto Histórico, que tem trabalho publicado, esclarecedor à saciedade, sobre o assunto. Desconheço esse trabalho. Que o general Siqueira não via com bons olhos o desgraçado e glorioso autor dos SERTÕES, não padece dúvida. É o que se depreende do que escreveram Afrânio Coutinho e Gilberto Amado.

O famigerado “jagunço aloirado” teria guardado, com usura, documentário escrito, em cadernos, sobre a guerra de Antônio Conselheiro, e Euclides, que as lera, abafou-as para enriquecer sua monumental obra literária, histórica e científica.

A saga de Canudos está preocupando hoje, passados tantos anos, depois de Euclides, ficcionistas, historiadores e folcloristas. Pesquisadores percorrem área dominada pelos fanáticos de Antônio Conselheiro.

Paulo Dantas faz, no momento, história romanceada, evocando, com profundidade, episódios, e figuras autênticas do passado, separando a lenda da história, num processo honesto de decantação, sem o preciosismo de João Felício dos Santos no seu JOÃO ABADE.

Os aficionados de Antônio Conselheiro e sua gente vão ser surpreendidos, em breve, com a estória em versos do místico sertanejo, até hoje inédita, escrita pelo antigo rábula Manuel Pedro das Dores Bombinho, espectador dos acontecimentos da época.

As 256 páginas daquela história, em versos, estão em poder do jovem escritor Paulo Dantas.

___

Vamos tratar, ainda, do falecido general Siqueira de Menezes. Onde nasceu ele? Dizem os seus biógrafos, inclusive Armindo Guaraná no seu DICIONÁRIO BIOBLIOGRÁFICO SERGIPANO, que foi em São Cristóvão.

Converso com o historiador Sebrão, sobrinho, sobre o assunto. E ele, numa sarcástica gargalhada, me declara peremptoriamente: — “Está tudo errado. O general Siqueira nasceu no povoado Gameleira, ao tempo pertencente ao município de Itabaiana, passando, depois, com a divisão territorial para a formação de município, ao de Campo do Brito. Seus pais lá nasceram, descendentes dos Siqueira de Pedra Mole”. E continua, pitando um mata-rato de Boquim: — “O velho sapateiro Rozendo Vieira, de Itabaiana, mais conhecido por Rozendo Lombo Puro, era primo próximo do Siqueira, e dele fora condiscípulo na escola primária de Gameleira”.

E, indignado com a adulteração dos fatos e da história, prossegue: — “Só por gabolice Siqueira afirmaria ser natural de São Cristóvão, em cuja freguesia debalde se procurou, até hoje, a sua certidão de batismo, a qual deverá estar, se ainda existe o livro, na freguesia de N. Sra. da Boa Hora, do Campo do Brito, criada em 1845”.

Conteste-o quem quiser e puder a revelação acima.

Correio de Aracaju (SE) – 13/01/59

 https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?multi_permalinks=1750433851832218%2C1749658425243094&notif_id=1633812230892206&notif_t=group_activity&ref=notif

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário