Por Isabela Barreiros
Hoje com 88 anos, Nunes relembra que tinha medo das roupas dos cangaceiros, das pessoas que andavam com Lampião e das armas utilizadas por eles
Quando Lampião e Maria Bonita morreram surpreendidos na Grota do Angico, em 1938, depois da batalha contra as tropas do tenente José Bezerra, Expedita Ferreira Nunes tinha apenas cinco anos. Única filha reconhecida do casal cangaceiro, hoje tem 87 anos e segue honrando a memória de seus pais.
Expedita nasceu em 1932 e, como de costume no cangaço, foi necessário decidir o destino da criança. Como não queriam que a menina crescesse na bandidagem, ela foi entregue a um aliado do Rei do Cangaço para que ela tivesse como tutor o tio João Ferreira. Isso tudo ocorreu no maior sigilo e o caso foi tratado como uma espécie de Segredo de Estado.
Os dois mais importantes nomes do cangaço e mais outros nove membros do grupo foram assassinados e decapitados pela polícia da região. A violência da ação marcou a vida de quem morava na região, principalmente da família remanescente do casal.
Expedita Ferreira Nunes / Crédito: Acervo Pessoal
Em entrevista para a Folha de S. Paulo, em 2000, a filha de Lampião e Maria Bonita narrou sua vivência ocupando tal posição. “A lembrança é pouca, mas tenho de pequena até hoje. Quando ele chegava em casa e me pegava, me abraçava. Eu tinha medo das roupas, daquele povo todo que vinha com ele [Lampião], das armas, eu tinha medo de tudo. Mas ele me pegava, me botava no colo”, relembrou.
Apesar de não ter sido criada pelos cangaceiros, a imagem dos dois sempre esteve presente em sua vida. “O Manuel Severo e a Aurora [me criaram], até os oito anos. Eu fui criada por eles sabendo que eles eram meus pais, mas que eu tinha outros pais. Eles não me enganaram, nem podiam. Meu tio João Ferreira terminou de me criar. Meu avô tinha uma fazenda e ele ajudava o meu tio a me fazer estudar e tudo, até eu fazer 18 anos, quando me casei”, explicou ainda ao jornal paulista.
Nos dias de hoje, Expedita é considerada a única filha reconhecida do famoso casal nordestino. Existiram muitas polêmicas em relação a pessoas que alegavam que poderiam ter parentesco com os dois, mas ela segue sendo a única com provas de DNA.
De acordo com a Agência Alagoas, do Governo do estado do Alagoas, a herdeira dos cangaceiros não conseguiu ir prestar homenagens a seus pais em uma cerimônia realizada em memória dos 81 anos da morte de Lampião e Maria Bonita.
Crédito: Domínio Público
Todos os anos, em 28 de julho, os descendentes diretos organizam o encontro que reúne centenas de pessoas e relembra as raízes históricas do movimento nordestino. Ano passado, em 2019, Expedita não conseguiu comparecer devido a sua debilitada saúde.
Neta dos cangaceiros, Vera Ferreira tornou-se pesquisadora no tema que tange sua família. Ela é a principal organizadora dos encontros anuais e escreveu obras a respeito do momento histórico protagonizado por seus parentes, como O Espinho do Quipá - Lampião, a História (1997) e De Virgulino a Lampião (1999).
“Esse evento é a confirmação de um trabalho feito com seriedade e comprometimento, que lança uma semente que vem germinando. São sementes culturais que a gente vai plantando e faz com que as pessoas procurem conhecer mais essa história que poucos sabem até hoje. Infelizmente”, explicou ao portal Agência Alagoas.
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