Por José Cícero
Quase tudo relacionado à história do trem do trem do Cariri
foi indelével e determinante. De modo que, assim como foram marcantes as coisas
boas, ficaram também inesquecíveis os seus acidentes. Alguns de grande
repercussão pelos números de vítimas registradas. Portanto, na nossa linha Sul
é imperioso dizer que o Km 322 localizado no município de Piquet
Carneiro(antigo distrito de Senador Pompeu), ocupou um lugar de destaque nestas
narrativas de fatos. Por ter sido, por assim dizer, o palco sinistro de diversos
destes acidentes dramáticos ocorridos ao longo da história do trem da chamada
linha sul. Sendo o maior deles, o que aconteceu na manhã do dia 17 de dezembro
de 1951 deixando um saldo de quase cem mortes como ainda ainda pouco mais de
100 feridos, alguns com sequelas irreversíveis pelo resto da vida. Destaco este
lamentável acontecimento pelo fato do Sr. Joaquim Gregório, morador de Aurora
ter sido um dos seus sobreviventes. E que, conforme sua bisneta Lúcia França,
hoje residente na cidade do RJ ter me relatado como tudo ocorreu. Informes
estes baseados nos relatos do mesmo. "Meu avô sempre nos dizia que aquele
trem virou de repente. E que foi muito triste tudo aquilo. Quando ele viu já
estava desacordado no chão do lastro e sem enxergar nada. Apenas bolas de luzes
coloridas tremulando na sua visão embaçada pela violência da batida. E de
repente sentiu uma sede enorme. Desesperado diante daquele ambiente de tragédia
urinou nas próprias mãos e bebeu. Melhorou um pouco. E quando deu por si.
Percebeu o tamanho do acidente. Era triste e desolador o quadro de sangue e dor
ao seu redor. Esqueceu dos seus ferimentos para cuidar das outras pessoas que
ali sofriam. Muitos corpos ensanguentados espalhados por todo canto. Pessoas
gritando de dor e pedindo socorro. Gemidos e choros de mulher, homens e
criancas. Ele ajudou muitos dos que se encontravam ali sob os vagões de ferro
retorcidos dentro dos barrancos dos matos. Nunca esqueceu daquele acontecimento
triste e fatídico que vivenciou e escapou, segundo ele próprio, "por puro
milagre de Deus". Uma senhora de nome Maria Dolores da cidade de Brejo
Santo também pereceu neste O mesmo é considerado até hoje como o maior acidente
ferroviário da história das ferrovias do Ceará e do Nordeste.
Porém esta tragédia não terminaria ali. Visto que no dia 04
de dezembro de 1957 às 16:30h a senhora Vicencia Gregório de Figueiredo( dona
Nininha), filha do Sr. Joaquim( o sobrevivente na de 51) embarcava na estação
de Aurora com destino à Fortaleza. Ela se fazia acompanhar do seu futuro genro
de nome Abner, telegrafista da cidade e das suas filhas: Maria Eunicia(noiva),
Nena e Silvany.
Dona Nininha(foto abaixo) era esposa do então conhecido
comerciante aurorense e vereador José Lourenço do Amaral. Um casal benquiste
por toda a comunidade e de muita reputação na cidade.
O trem pernoitou no Iguatu. E no começo da manhã do dia
seguinte, 5 de dezembro, uma segunda-feira, seguiu viagem nos rumos da capital
alencarina. Tudo ia bem e os passageiros da primeira classe conversavam de modo
alegre e descontraído. Coincidentemente já em Piquet Carneiro, dona Nininha
começou a explicar para as pessoas ao seu redor os fatos relacionados ao
acidente de 51 em que seu pai sobreviveu por um milagre. E, no instante em que
apontava o lugar exato em que tudo aconteceu, eis que de repente, o trem
tombou. Como num piscar de olhos tudo ficou escuro e empoeirado. Um silêncio e
em seguida, muitos gritos.
Às 20h do dia 05 de dezembro de 1957* a estação de Aurora
recebia o comunicado pelo código morse acerca do acidente. Logo passando a
triste notícia para à família. Duas vítimas fatais foram constatadas sendo uma
delas, dona Nininha, que morria aos 45 anos de idade.
Toda a cidade logo ficou triste e comovida diante da
informação, dando conta da morte de tão boa e conhecida cidadã aurorense.
Onze dias depois, isto é, no dia 17 de dezembro de 1957 no
mesmo km 322 de Piquet Carneiro um novo acidente ferroviário aconteceu.
Passaram-se os anos como sempre tudo passa na vida. E eis que
na manhã do dia 23 de julho de 1967 mais um acidente se daria em Piquet
Carneiro. Novamente vitimando uma pessoa de Aurora. Desta feita, o jovem
universitário Herlanio Leite Cruz, estudante do curso de engenharia de apenas
21 anos de idade. Filho do conhecido dentista, o saudoso dr. Enisio Cruz.
O jovem aurorense retornava para Fortaleza onde estudava,
após passar suas férias escolares em sua terra natal. O mesmo embarcara na
vizinha estação de Missão Velha já que seu avô paterno Pedro da Cruz, famoso
dono de engenho residia no distrito de Missão Nova onde seus netos costumavam
passar o período de férias. Aliás, cumpre registrar que neste mesmo trem de
1951 se encontrava também o ex-prefeito de Missão Velha o saudoso Sr. Geraldo
Soares(seu Geraldão) sendo um dos sobreviventes.
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# Prof. José Cícero
fotos: Arquivo: I,II e III
C. Camocim: grupo Memória
das Ferrovias Cearenses.
IV- Arquivo do Face.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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