Por João Marcos Carvalho
Prezados
Rubens, Ana Cataldi e Luci Guimarães, que, entre outras e outros, se dedicam ao
estudo sério e criterioso do Cangaço, agradeço pelo gentil convite que me
fizeram para voltar a este grupo, no qual eu já havia atuado com muito prazer
em época recente.
Nesse período,
como participante, procurei contribuir com as informações e conhecimentos que
adquiri sobre esse tema apaixonante, árduo e ao mesmo tempo espinhoso, que une
e desune pesquisadores. Ao longo dos últimos 44 anos, como
jornalista e historiador profissional, tive a sorte de entrevistar
ex-cangaceiros, ex-volantes, ex-coiteiros, ex-barqueiros e outros personagens
que interagiram diretamente com o Cangaço Lampiônico (1916-1938), como é o caso
das vítimas atingidas pela crueldade da guerra rural, emoldurada por secas
cíclicas.
Nessa linha,
produzi, a partir de 1998, mais de cem trabalhos sob o tema, seja em forma de
reportagens, artigos, matérias, análises e documentários, publicados e
veiculados por expressivos órgãos nacionais de mídia impressa, radiofônica e
televisiva.
Essa bagagem
me permite afirmar que nessa lida serei sempre um aprendiz, uma vez que o
assunto pelo qual nos dedicamos está longe de se esgotar à medida que novos
fatos ainda teimam em aflorar.
Desta forma,
continuarei marchando pela vereda da investigação jornalística somada às
metodologias científicas que nos fazem chegar mais próximos possível da verdade
histórica.
Assim sendo,
sigo na linha de frente dos que combatem, com veemência, os negacionistas,
oportunistas, ignorantes, mal informados e mal intencionados que, apesar de
todas as provas em sentido contrário, insistem em classificar o
Cangaço como um movimento social que se opôs ao velho coronelismo de
barranco.
Nesse cenário,
reitero aqui minha posição consolidada sobre a questão:
Lampião e seus
cabras eram aliados dos coronéis latifundiários, que lhes forneceram proteção
política, logística e armas, com as quais trucidaram centenas de sertanejos
desvalidos.
Desse modo,
desafio a quem defende a tese segundo a qual Lampião, Corisco e outros
cangaceiros seriam heróis a apresentar uma única prova de um ato heróico,
revolucionário e de justiça social praticado por essas figuras em favor do povo
sertanejo.
Portanto, não
me furtarei a denunciar todos quantos ousarem tentar utilizar
dinheiro público para homenagear bandidos, dando seus nomes à praças e ruas, ou
erguendo estátuas e monumentos em memória de quem praticou crimes hediondos
contra o povo.
Por fim,
presto aqui minha reverência ao meu querido e honrado amigo Silvio Bulhões,
filho de Corisco e Dadá, que jamais tentou encobrir os crimes inomináveis que
seus pais cometeram durante os tenebrosos tempos do Cangaço.
Ao mesmo
tempo, reverencio os sertanejos mortos, roubados e torturados por cangaceiros e
membros arbitrários de determinadas volantes naquela quadra infeliz
de nossa história.
João Marcos
Carvalho - Jornalista e Historiador
http://cangaconabahia.blogspot.com/2022/04/bandidos-estatuas-e-pracas.html
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