Por João Costa
O cangaceiro
Antônio Rosa, segundo relatos orais e textos de pesquisadores abalizados, é
considerado uma lenda entre todos os bandoleiros do início do século XX; pagou
caro pelo fato de demonstrar gratidão infinita à família Ferreira que lhe deu
um lar na infância; manter fidelidade canina a Lampião, ser destemido,
extremamente capaz na arte da guerra e sua morte desperta atenção para o mais
infame dos sentimentos: a traição.
Antônio Rosatambém
atendia pelos nomes de Antônio Ventura, Antônio Mansinho e Antônio do Gelo,
este, o último apelido pelo qual é mais conhecido na galeria dos cangaceiros
mais famosos do Pajeú, embora suas origens não sejam pernambucanas.
Certa feita,
não se sabe quando, uma família de retirantes procedente da Mata Grande,
Alagoas, de passagem pela propriedade de José Ferreira, pediu e obteve abrigo,
mas ao partir, deixou um garoto para que José Ferreira e Maria Sulema da
Purificação dessem seguimento à sua criação e educação.
Assim, o
garoto Antônio Rosa, branco, magricela, cresceu sob o abrigo da família
Ferreira, ao lado dos irmãos Ferreira, Virgulino, Antônio e Livino.
Na
adolescência, o garoto tomou coragem e arribou para Pedra de Delmiro(AL), onde
arranjou emprego de operário na Fábrica Estrela, de fiação e tecelagem, atuando
na produção de gelo, daí o seu mais famoso apelido: Antônio do Gelo.
No decorrer do
ano da graça de 1916, Antônio do Gelo, toma conhecimento que a família Ferreira
está mergulhada em disputas violentas com outras famílias proprietárias de
terra na Serra Vermelha, os Nogueira e Saturnino.
Mais que
ligeiro, Antônio Rosa larga o emprego, volta para junto da família Ferreira e
não vacila em ingressar no cangaço com “seus parentes” por afinidades de
criação, Virgulino, Antônio e Livino Ferreira que, àquela altura da vida no
cangaço, estavam sob o comando de Antônio Matilde, tio “postiço” dos irmãos
Ferreira.
Ao lado dos
irmãos Ferreira vai à guerra com Zé Saturnino, segue os irmãos quando estes
ingressam no bando de Sinhô Pereira, e aí começa o seu protagonismo como cangaceiro
valentíssimo, intuitivo e competente na arte da guerra como conhecedor e
manipulador de táticas guerreiras na caatinga, por ter se mostrado profundo
conhecedor do bioma.
Sua trajetória
de combates e razias o coloca ao lado dos irmãos Ferreira nos ataques a
propriedades, incêndios e matança de gado de Zé Saturnino; também figura como
cangaceiro muito capacitado nos entreveros entre o bando de Sinhô Pereira e as
volantes pernambucanas.
Em 1922, por
encomenda do major e coiteiro José Inácio do Barro, do Carto(CE), e sob o
comando de Sinhô Pereira ataca o povoado de Jericó, na Paraíba, onde os
bandoleiros saquearam as propriedades dos poderosos do lugar coronéis Valdevino
Lobo, Adolfo Maia e Rochael Maia, assaltos que renderam uma fortuna em dinheiro
vivo, moedas de ouro e joias.
Antônio Rosa
também chegou junto aos irmãos Ferreira em ação de vingança quando estes
emboscaram e mataram um certo Manoel Cipriano de Souza, o delator que apontou
para a volante do tenente José Lucena onde morava o velho José Ferreira, pai de
Lampião.
Também esteve
sob as ordens de Lampião quando este assumiu o comando do grupo de Sinhô
Pereira, quando deixou o cangaço, realizando, a pedido do próprio Sinhô
Pereira, o famoso ataque a São José do Belmonte, para vingar uma surra aplicada
por ordens do coronel Gonzaga em um certo Yoyô Maroto, pequeno proprietário de
terra.
Antônio Rosa
se agigantou ao lado de Lampião, quando este enfrentou e saiu em desvantagem
nos combates com a volante paraibana chefiada por Clementino Quelé e as
volantes nazarenas, lideradas pelo major Theóphanes Torres – combates que
resultaram em ferimento grave em Lampião, tirando o “rei do cangaço” de combate
por um bom tempo.
A morte de
Antônio Rosa, ou do Gelo, lança luz sobre muitos mistérios em torno de Lampião
e seus irmãos e tem três versões com base em relatos orais.
A primeira
delas: que Antônio do Gelo foi morto num tiroteio com a volante nazarena, em
Triunfo(PE).
Mas os
pesquisadores atribuem mais crédito na segunda versão, que relata a morte de
Antônio Rosa em decorrência de um ato vil de traição.
Tombou crivado
de balas de rifle disparados por Livino Ferreira em conluio com os cangaceiros
Enéias e Mourão, atendendo ordens de Virgulino.
Lampião,
relatam, não suportava dentro do bando o protagonismo e a capacidade de
liderança de Antônio do Rosa no planejamento e no desenrolar dos ataques.
Um terceiro
relato dá conta que um fazendeiro e coiteiro amicíssimo de Lampião se queixara
de saque e roubo de uma arma por parte de Antônio Rosa, fato este a gota d’água
na relação de Rosa com os irmãos Ferreira; para se livrar do suposto estorvo,
Lampião, mandou executá-lo.
Uma quarta
versão atribui a Antônio Ferreira (irmão por parte de mãe de Lampião) a tarefa
de eliminar Antônio Rosa, também numa ação traiçoeira, motivada por inveja e
também para atender ordens de Vigulino Ferreira, em junho de 1924, dois anos
após Lampião assumir, definitivamente e agora sem sombra de contestação, o
comando do bando deixado por Sinhô Pereira.
Fonte de
consulta; Cangaceiros de Lampião de A à Z, autoria de Bismarck Martins de Oliveira,
segunda Edição.
Lampião na
Paraíba – Notas para a História, de Sérgio Augusto de Souza Dantas.
Acesse:
blogdojoaocosta.com.br
Imagens de
domínio público.
Foto do bando
em 1922. Antônio Ferreira, Virgulino e seu irmão de criação Antônio Rosa.
Fazenda Pedra, em Patos de Irerê(PB).
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