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sábado, 28 de maio de 2022

PEQUENAS REMINISCÊNCIAS DA MISSÃO NOVA

Por Professor José Cícero

Estive nesta noite de sábado na minha velha Missão Nova prestigiando o lançamento do livro da professora aposentada Luzilmar sobre a vida do seu pai Joaca Rolim. Famoso dono de engenho e pioneiro de muitos afazeres agrícolas daquela terra, antes fértil e produtiva. E na viagem foram tantas as boas lembranças que em mim se misturavam ao sentimento de saudade. Algo tão especial que nem mesmo a escuridão das estradas conseguiram turvar na minha mente as imagens nítidas e claras que eu tinha guardadas comigo daquele bom lugar. Reminiscências bonitas da minha infância, das pessoas e dos momentos felizes dos anos áureos e dos tempos de fartura que um dia colocaram M. Nova na dianteira da então forte e pujante economia canavieira do Cariri.

E eu recordava meu pai, minha vó e os engenhos de rapadura e aguardente. Como de toda aquela gente do eito e da bagaceira nos seus dias de lida. Do som das moendas e do barulho dos cambiteiros com seus burricos. Como ainda, do apito e do cheiro da tiborna nos alambiques, da garapa no parol e por todo canto do mundo o aroma do mel e da rapadura quente. Do belo espetáculo do dançar dos pendões da cana ao sabor dos ventos sobre a verdidão dos canaviais.

Tenho ainda comigo um cipoal de muitas lembranças de todos os engenhos e os seus donos que marcaram o meu tempo de criança.

Da abundância das águas desde as nascentes da serra aos riachos dos brejos às levadas dos úmidos baixios. Desde a chapada das Barreiras até o final da "levada" lá pras bandas dos sítios Morro, Jerimum e Coqueiro. Coisas que não mais existem por sim mesmas.

Lembrei por exemplo, dos engenhos de Heitor Santana já no platô do Cafundó do Araripe. Do de seu Filipim nas Barreiras. E dos que existiam no sítio Saco: de Zé Bertulino, de Lacy e do seu Aparício Xavier. Do de Manoel Novais no Canta Galo, do de Joaca Rolim do Outro Lado, do de Chico de Doninha mais adiante. Como também, do de Dãozinho Abílio no Espalhador, do de Pedro da Cruz depois do Cemitério do povoado, bem como, do de seu Osvaldo Esmeraldo por trás da capela do padroeiro Santo Antônio. Ainda, do de Antônio Argeu ao lado da vila. Seguido do de Pedro Saraiva e do de seu Adalberto no Coqueiro e do dr.Hugo no sítio Faustino.

Dizem que haviam também dois outros mais antigos, quer seja: o do velho Abdon Leite no meio do baixio entre o de seu Joaca e o da vila de Missão Nova, bem como o de Chico Felinto em épocas mais remotas. Mas estes, eu não cheguei a conhecer-los, posto que não foram do meu tempo. Houve tb um recente construído por Moacir Olegário próximo ao antigo de Antônio Argeu.

Hoje, no entanto, tudo isso é só passado. Uma prova de que na vida e no mundo, tudo que nasce e vive está de fato um dia condenado ao fim. Engenhos antigos da minha terra....Escombros do que foi outrora símbolo de riqueza, de progresso e de poder. Agora não passam de ruínas dos anos findos. Algo que nunca esqueço. Porque em meu ser profundo habita sempre a vitória da memória sobre o esquecimento. E como é bom a gente ter história. Como é gostoso este sentimento de poder ter vivido tudo isso e como de saber pertencer ao pedaço sagrado deste chão. Pois, acho que não tem preço esta certeza de se ter motivos de sobra para sentir as saudades que eu sinto.

Eis porque creio e ainda imagino que o segredo da vida é viver. Diria que, sem medo da morte e sem mais nenhum tempo a perder

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