Estive nesta
noite de sábado na minha velha Missão Nova prestigiando o lançamento do livro
da professora aposentada Luzilmar sobre a vida do seu pai Joaca Rolim. Famoso
dono de engenho e pioneiro de muitos afazeres agrícolas daquela terra, antes
fértil e produtiva. E na viagem foram tantas as boas lembranças que em mim se
misturavam ao sentimento de saudade. Algo tão especial que nem mesmo a
escuridão das estradas conseguiram turvar na minha mente as imagens nítidas e
claras que eu tinha guardadas comigo daquele bom lugar. Reminiscências bonitas
da minha infância, das pessoas e dos momentos felizes dos anos áureos e dos
tempos de fartura que um dia colocaram M. Nova na dianteira da então forte e
pujante economia canavieira do Cariri.
E eu recordava
meu pai, minha vó e os engenhos de rapadura e aguardente. Como de toda aquela
gente do eito e da bagaceira nos seus dias de lida. Do som das moendas e do
barulho dos cambiteiros com seus burricos. Como ainda, do apito e do cheiro da
tiborna nos alambiques, da garapa no parol e por todo canto do mundo o aroma do
mel e da rapadura quente. Do belo espetáculo do dançar dos pendões da cana ao
sabor dos ventos sobre a verdidão dos canaviais.
Tenho ainda
comigo um cipoal de muitas lembranças de todos os engenhos e os seus donos que
marcaram o meu tempo de criança.
Da abundância
das águas desde as nascentes da serra aos riachos dos brejos às levadas dos
úmidos baixios. Desde a chapada das Barreiras até o final da "levada"
lá pras bandas dos sítios Morro, Jerimum e Coqueiro. Coisas que não mais
existem por sim mesmas.
Lembrei por
exemplo, dos engenhos de Heitor Santana já no platô do Cafundó do Araripe. Do
de seu Filipim nas Barreiras. E dos que existiam no sítio Saco: de Zé
Bertulino, de Lacy e do seu Aparício Xavier. Do de Manoel Novais no Canta Galo,
do de Joaca Rolim do Outro Lado, do de Chico de Doninha mais adiante. Como
também, do de Dãozinho Abílio no Espalhador, do de Pedro da Cruz depois do
Cemitério do povoado, bem como, do de seu Osvaldo Esmeraldo por trás da capela
do padroeiro Santo Antônio. Ainda, do de Antônio Argeu ao lado da vila. Seguido
do de Pedro Saraiva e do de seu Adalberto no Coqueiro e do dr.Hugo no sítio
Faustino.
Dizem que
haviam também dois outros mais antigos, quer seja: o do velho Abdon Leite no meio
do baixio entre o de seu Joaca e o da vila de Missão Nova, bem como o de Chico
Felinto em épocas mais remotas. Mas estes, eu não cheguei a conhecer-los, posto
que não foram do meu tempo. Houve tb um recente construído por Moacir Olegário
próximo ao antigo de Antônio Argeu.
Hoje, no
entanto, tudo isso é só passado. Uma prova de que na vida e no mundo, tudo que
nasce e vive está de fato um dia condenado ao fim. Engenhos antigos da minha
terra....Escombros do que foi outrora símbolo de riqueza, de progresso e de
poder. Agora não passam de ruínas dos anos findos. Algo que nunca esqueço.
Porque em meu ser profundo habita sempre a vitória da memória sobre o
esquecimento. E como é bom a gente ter história. Como é gostoso este sentimento
de poder ter vivido tudo isso e como de saber pertencer ao pedaço sagrado deste
chão. Pois, acho que não tem preço esta certeza de se ter motivos de sobra para
sentir as saudades que eu sinto.
Eis porque
creio e ainda imagino que o segredo da vida é viver. Diria que, sem medo da
morte e sem mais nenhum tempo a perder
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