Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2022
Escritor Símbolo do Sertão
Alagoano
Crônica: 2.773
Abro o portão da rua e vejo a
primavera entrar por todos os recantos da casa. Na fiação da via, uma rolinha
azul, solitária, exercita seu pescoço e traz a simbologia de venturas que
chegarão. Nem dá tempo meditar na falta de uma companheira ou companheiro porque
um enorme casal de rolinhas brancas, pousa na mesma fiação alguns metros à
frente, na casa do vizinho. Pelo tamanho, até parecem juritis. Outros bons
sinais da Natureza para as nossas vidas nas penas da Columbinas talpacoti e
suas parentelas. Ornamentam a minha rua repleta de acácias e pau-brasil e não
são molestadas pela valentia mandona dos pardais, devido à docilidade das
espécies.
Os campos estão verdes, as matas
fechadas em muitos lugares e as capoeiras abandonadas por falta de mão-de-obra.
Migram os donos de terras, migram os animais, mesmo sentindo a quase
inexistente perseguição humana dos campos sem ninguém. E algumas espécies de
pássaros deixam os campos e vão aos poucos chegando em zonas urbanas
arborizadas, onde vão se adaptando à movimentação de pessoas, catando comida
nas ruas, enfrentando outros pássaros por territórios e arquitetando ninhos nas
árvores plantadas pelos humanos. Reinam nos quintais compridos onde encontram
doces frutas como a goiaba, o caju, a acerola, a seriguela... A manga. Riachos
e rio estão ali pertinho, leitos secos e margens repletas de arbusto, arvoretas
e árvores de porte que lhes dão respaldo quando preciso.
Primavera vem do Latim: primo vero, primeiro verão. De fato, primavera não deixa de ser mesmo um pequeno verão. No mundo sertanejo se confunde com a próxima época, embora tenha suas particularidades reconhecidas, como a época das flores, temperaturas mais amenas (nem sempre) e sua amplitude térmica. Mas nada disso impede a primavera de espargir esperanças no mundo inteiro, principalmente nos países onde existem as quatro estações distintas. Portanto, a volta de pássaros e aves selvagens pelos sítios, periferias, ruas e logradouros públicos, deve ser vista como novo sopro de vida e esperança na existência humana. É A valorização das boas coisas que a Natura oferece; entretanto, de nada adianta o frenesi natural para animar o homem se o próprio homem, fechado nos compromissos do seu ego, recusar espiar em torno.
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