Por André Nogueira
Benjamin Abrahão com Lampião e Maria Bonita - Wikimedia Commons
Lampião e
o cangaço talvez não fossem tão famosos nos dias atuais se não fosse uma série
de fotografias de seu bando, que representa os registros mais conhecidos dos
bandoleiros no Brasil.
Essas imagens
são de autoria de um importante e influente fotojornalista dos anos 1930: o
libanês erradicado no país, Benjamin Abrahão Botto. Nascido em 1890, ele ficou
conhecido após a divulgação de sua cinebiografia Baile Perfumado, auxiliado
pelo historiador Frederico Pernambucano de Mello, autor de Entre anjos e
cangaceiros (que retrata sua vida).
O fotógrafo viveu em seu país de origem até 1915, quando, com a Primeira Guerra, fora convocado ao Exército Otomano e migrou para o Brasil. Trabalhou inicialmente como mascate no Nordeste — incialmente Recife e então, Juazeiro do Norte, onde fez mais sucesso — até que conheceu a maior figura da cidade: o Padre Cícero Romão.
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Botto deixou a
vida de comerciante para trabalhar como secretário pessoal do famoso padre
cearense, ganhando grande influência e conhecendo as principais figuras do
Nordeste. A importância de Padim
Ciço foi a chave para a maior guinada da carreira do jornalista: numa
das visitas de Lampião à cidade, em 1926, o cangaceiro foi pedir a benção de
seu padroeiro e Benjamin pôde o conhecer.
Na ocasião,
Lampião teria ido participar da iniciativa do deputado Floro Bartolomeu de
criar uma guarda patriótica contra a Coluna
Prestes. Então, Botto fotografou Virgulino e Cícero, numa demonstração de
aumento da credibilidade do cangaceiro. Em 1934, com a morte do sacerdote,
Benjamin utilizou esse primeiro contato e conseguiu uma reunião com Rei do
Cangaço, onde se ofereceu para acompanhar o bando e gerar um acervo de fotos.
Bando de Lampião por B. Abrahão / Crédito: Wikimedia Commons
Inicialmente,
os bandidos desconfiaram dessa aproximação, claro. Porém, Abrahão não apenas
convenceu Lampião de suas intenções midiáticas, como aproveitou o gosto do
líder cangaceiro por tecnologias para apresentar as câmeras. Durante a ocasião,
ofereceu o equipamento para que Virgulino o filmasse, e assim selassem uma
relação de confiança.
Lampião, que
era um homem excêntrico e centrado, aceitou a proposta e Botto começou a
acompanhar seu bando pela caatinga. Esse foi o auge tanto da carreira do
fotógrafo quanto da fama dos cangaceiros,
que foram imortalizados pela obra. Para tanto, recebeu ajuda de Ademar Bezerra
de Albuquerque, que, com sua empresa ABAFILM, equipou e treinou Botto para a
missão.
Maria Bonita com os cachorros / Crédito: Wikimedia Commons
Uma viagem
inicial de sucesso forneceu uma série de imagens icônicas do bando de Lampião,
que posava para o fotógrafo. Com isso, Benjamin retornou a Fortaleza, onde seu
sucesso possibilitou uma recarga dos rolos de filme, para que retornasse ao
acampamento do cangaceiro. As suspeitas contra seus relatos (incluindo a
posição do bando) divulgados em jornais aumentaram, mas Botto continuou
tranquilamente sua jornada.
Quando
encerrou seu trabalho, as fotografias de Benjamin Abrahão foram apreendidas
pela polícia do Governo Vargas, que o considerava uma ode ao banditismo e
antagonismo ao regime. Os documentos passaram para as mãos da censura, e só
ficaram conhecidos nos anos 1950, quando a Fundação Getúlio Vargas as divulgou.
Unidade de Corisco, por B. Abrahão / Crédito: Wikimedia Commons
Pouco tempo depois, Benjamin Abrahão morreu assassinado num caso até hoje não resolvido. Foi esfaqueado quarenta e duas vezes, sem que se saiba razão ou autor, na cidade pernambucana de Itaíba, no ano de 1938. Especula-se que se trata de uma morte política pela ditadura varguista, ou que fora assassinato durante um assalto.
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cangaceiros: Ensaio de interpretação histórica, de Luiz Bernardo Pericás
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