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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O MOMENTO DA EMA

 Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.804

EMA (IMAGEM DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

Não existe mais emas por aqui. Mas, bem que essa ave enorme e que não voa já povoou soberana os nossos sertões. A Rhea americana das canelas grande possui asas somente para equilibrar suas carreiras, quando vítima de predadores. Foi extinta, mas deixou dois lugares como lembranças: Várzea da Ema e Alto da Ema, sítios rurais do nosso município. Sertanejo não gostava muito de comer essa ave, dizendo que “sua carne fazia crescer a bunda”. Antigamente as casas eram caiadas (pintadas) de branco com a cal e um pincel bruto comprido, uma espécie de bucha dura e que era chamado “canela de ema”. O senhor Pedro Baia, ingênuo e folclórico, era um caiador de casas. Quando encerrava sua pintura, deixava sua marca registrada, o desenho de uma ema.

Todos gostavam de Pedro Baia. Mas, não sabemos porque aquele galego que andava com um lenço vermelho no pescoço e uma espingarda 12 a tiracolo, não gostava quando lhes perguntavam pela ema. Sabendo disso, alguns gaiatos indagavam de propósito e, Pedro ia se agastando e perdendo a paciência. Nessa época, como para incentivar uma tragédia, surgiu na praça um pagina musical:

A ema gemeu

No tronco do juremá

Será que é nosso amor, moreninha

Que vai se acabar...

Pedro Baia já havia apanhado algumas vezes por aí. Os gaiatos, então aproveitaram uma estrofe da música e a parodiavam com o nome de Pedro, para aperreá-lo ainda mais:

A ema quando canta

Pedro Baia se levanta

Com medo de apanhar...

Vem morena, vem beijar...

Pedro Baia já não estava aguentando e falou assim: “De hoje em diante, quem mexer comigo, eu mato!”. E o primeiro que mexeu com ele, o pintor cumpriu a promessa. Foi para a cadeia, pagou pelo seu crime e quando todos já estavam esquecidos do caso, surgiu Pedro Baia na cidade após cumprir sentença. Demorou pouco e foi morar em Águas Belas. Nunca mais se ouviu falar em Pedro Baia.

Quando o santanense, ainda hoje, ouve a música da ema, de Jacson do Pandeiro, não tem como não a complementar com Pedro Baia da minha terra.



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