Por José Mendes Pereira
Diz o jornalista Alexandre Gurgel que, o verdadeiro nome do cangaceiro
Massilon era Benevides Leite. Este havia nascido lá pras bandas de Luís Gomes,
aqui no Estado do Rio Grande do Norte.
Adquiriu um pseudônimo para si, “Massilon”, e o porquê ninguém sabe
explicar. Apesar de ter se tornado cangaceiro, mas antes era um
jovem que gostava de preservar as suas amizades com os que lhe rodeavam, pois
ainda não havia exposto as suas maldades contra ninguém. Os seus bons
divertimentos eram: frequentar diariamente casas onde eram colocadas cartas de
baralhos sobre a mesa; e gostava muito de estar presente a bares, para ingerir
bebidas alcoólicas, principalmente uma boa cachaça.
Massilon Leite era obcecado pela almocrevaria, trazendo algodão para
Mossoró, e com os bons lucros que lhe rendeu durante as suas viagens como
comboieiro, transportando algodão para Mossoró, sobre o lombo de
animais, posteriormente conseguiu ser proprietário de um caminhão, e, a partir
daí, começou a transportar o produto no seu automóvel. Mas
infelizmente, ele foi obrigado a deixar a vida de caminhoneiro, devido às
estradas não ofereciam boas condições para rodar.
Certa vez, lá em Belém do Brejo do Cruz, no Estado da Paraíba, em confronto com a polícia, Massilon assassinou um soldado, e temendo ser justiçado, conseguiu fugir em direção às caatingas, e lá, incorporou-se ao bando de Lampião. O tempo foi se passando, e aos poucos ele foi se tornando um homem paparicado pelo capitão.
Mais ou menos no mês de abril, ou possivelmente no princípio do mês de maio de 1927, já se sentindo um homem de confiança de Lampião, e confiante de alguns acordos feito com Décio Holanda e o coronel Isaías Arruda, ambos cearenses, Massilon fez a proposta ao rei Lampião, para juntos, fazerem uma invasão a Mossoró, afirmando o cangaceiro, que era a maior cidade potiguar, sendo bem estruturada, com um comércio que rendia muito, e além do mais, tinha bancos com bons movimentos, e com certeza, assaltando-a, sairiam daqui com os bolsos e bornais abarrotados de dinheiro.
Mas diz ainda Alexandre Gurgel que, Massilon era apaixonado por uma das filhas do prefeito Rodolfo Fernandes, e sendo astucioso, sabendo que se os seus compassas aceitassem invadir Mossoró, ataque que ele tinha plena certeza que daria certo, seria uma boa oportunidade para levá-la consigo para as caatingas do nordeste.
Mas Lampião não sabia que o maior interesse de Massilon pelo ataque a Mossoró, era a paixão irresistível que ele tinha pela filha do prefeito. É claro, que se ele antes tivesse tomado conhecimento desse desejo incontrolado do assecla pela moça, com certeza, não teria dado a mínima atenção às suas palavras, e nem tão pouco vindo a Mossoró.
E para que o plano de atacar a cidade potiguar desse certo, Lampião confiava em alguns bandidos que conheciam bem a região, os quais eram: Um senhor de nome Cecílio Batista, mais conhecido por Trovão, que em anos remotos, havia morado na cidade de Assu, e já era dono de um currículo de maldades arquivado na delegacia de polícia, sendo por desordens. José Cesário, que vulgarmente era chamado “Coqueiro”, que antes ganhava o seu ordenado mensal, prestando serviços em Mossoró. Júlio Porto, um dos antigos motoristas da firma algodoeira “Alfredo Fernandes”, com a alcunha de Zé Pretinho. E um dos idealizadores do ataque à Mossoró, o Massilon Leite, que não poderia estar de fora, que tinha conhecimento de todas as estradas que faziam chegar à cidade mossoroense.
O professor Romero de Araújo Cardoso em: “Massilon Benevides Leite e o ódio de Décio Holanda contra Chico Pinto”, publicado em páginas do blog Sertão informado, em 17/06/2010, diz o seguinte: “Décio Holanda era genro de Tylon Gurgel, homem respeitado na região do Apodi, cujos domínios se efetivavam principalmente em Pedra da Abelha, hoje município de Felipe Guerra (RN). Cearense de Pereiro, Décio Holanda possuía hábitos e valores nada louváveis, como cultivar ódio em grau exponencial, não conseguindo perdoar desafetos ou pessoas que o desagradassem. Era vingativo ao extremo, movido por verdadeira sede de revanche. Amigo de ex-comboieiro de nome Massilon Benevides Leite, Décio Holanda foi um dos mentores que fomentaram o aliciamento de séquito de bandidos, objetivando atacar Mossoró. Aurora, no Ceará, um dos redutos dominados pelo poderoso “Coronel” Isaías Arruda, foi outro ponto estratégico de apoio à empreitada que resultou na tentativa audaciosa de ataque à segunda cidade potiguar, em 13 de junho de 1927”.
Em minha humilde opinião, o maior culpado da invasão à Mossoró, foi o Massilon,
pois se ele não a conhecesse, Lampião não teria tomado conhecimento das
riquezas da cidade.
Romero Cardoso diz que o ataque à Mossoró, foi previsto para ser realizado no
mês de maio. Mas quando o bando de Lampião tomou direção ao Rio Grande do
Norte, houve combate em Belém do Rio do Peixe, que atualmente é a cidade
“Uiraúna”, no Estado da Paraíba, e lá, os resistentes estavam empiquetados na
torre da igreja, que do esconderijo, conseguiram assassinar dois valiosos
cangaceiros do respeitado bando de Lampião.
O rei se sentindo vencido e quase sem munição, disse aos seus comandados que seria melhor retornarem ao Ceará, para a fazenda do coronel Isaías Arruda, e lá, com certeza, apanhariam mais munições e armas.
Assim que os cangaceiros se prepararam com munições e armas, mesmo receoso para fazer a invasão em Mossoró, Lampião se decidiu ao duvidoso ataque. E no dia 02 de maio de 1927, a malta partiu de Pernambuco em direção ao Rio Grande do Norte, pisando nas terras da Paraíba, limitando-se com o Ceará, em direção à cidade de Luiz Gomes, sendo esta localizada nas terras potiguar.
O respeitado bando de Lampião não se encontrava completo, pois Massilon comandava uma parte dos cangaceiros ainda no Estado do Ceará, e que antes de pisarem nas terras do Rio Grande do Norte, eles teriam que assaltarem a cidade de Apodi, sendo esta distante de Mossoró 76 km, também no mesmo Estado e no mesmo percurso.
Feito o assalto, os bandidos teriam que se juntarem a Lampião em um lugar combinado por ele, onde juntos, deveriam fazer reunião para tomarem rumo à Mossoró. E assim que se juntaram, a partir daí, começaram as desordens dos asseclas por onde passavam, e se sentindo donos das localidades, invadiam fazendas, lugarejos e cidades, roubando tudo o que encontravam no percurso. Fizeram grandes estragos com o auxílio do fogo, e prendendo aqueles que dispunham de bens materiais, e com eles aprisionados, exigiam o pagamento do resgate. É óbvio que Lampião só os soltaria, se o regate fosse pago. Do contrário, seriam mortos pelas suas mãos vingativas.
Em minha opinião, acho difícil que Lampião tenha anotado em sua agenda, a possibilidade de algum dia atacar Mossoró, simplesmente por três razões:
1 – Lampião não era conhecedor das terras do Rio Grande do Norte, e principalmente Mossoró, que fica já próxima ao litoral;
2 – A padroeira da cidade é a Santa Luzia, e se tem informação, que ele mesmo sendo facínora, era um dos seus admiradores, e com certeza, não tinha em sua mente, pensamentos guardados para lutar contra ela, depredando e assassinando pessoas que viviam sob o seu olhar;
3 – É do conhecimento de muitos, que Lampião dizia que era um dos seus lemas: não invadia cidades que tivessem igrejas com duas torres, é o caso da catedral de Santa Luzia.
Mas talvez, mesmo temendo isso, Lampião e o bando, juntos, fizeram reunião, no intuito de chegarem a mais desenvolvida cidade do Rio Grande do Norte. Combinaram e partiram para a grande empreitada.
Eu acredito que Lampião não era muito de confiar em coiteiros e cangaceiros, que com certeza, eram facas de dois gumes. Mas caiu nessa, de ter ouvido a conversa de Massilon.
E já decidido, partiu com a sua saga para a perigosa invasão, sendo os bandos comandados por: Benevides Leite o Massilon, José Leite de Santana o Jararaca, Sabino Gomes e o cangaceiro Vinte e Dois; mas todos eram subordinados ao estado maior, que era formado por Lampião, e Sabino Gomes.
Informação:
"Nesse período, o Antonio Ferreira da Silva já havia falecido acidentalmente.
Antes, ele também fazia parte do estado maior do capitão Lampião".
O grupo de cangaceiros era grande, mas depois da frustrada invasão a Mossoró, a maior parte se desligou do grupo, inclusive Massilon e seu irmão Pinga Fogo, que se debandaram sem nunca mais darem notícias onde estavam morando.
(Há um vago comentário que, após a invasão de Mossoró, Massilon foi embora para Goiás, e posteriormente, para São Paulo. Nos anos 50, ele foi visto no nordeste, sendo dono de um caminhão novo, e com motorista particular. Mas essas informações não foram reconhecidas pelos grandes escritores e pesquisadores).
No dia 12 de junho, do mesmo ano, o bando de Lampião invadiu a cidade de São Sebastião, atualmente Governador Dix-Sept Rosado, esta distante de Mossoró 34 km, e como um estágio, se preparando para a tão falada invasão à Mossoró, lá, o bando humilhou os moradores, deixando-os intranquilos, saqueando os objetos valiosos. E, além disso, fizeram uma vítima, sendo esta indefesa.
Os cangaceiros apoderaram-se da estação ferroviária, cortaram os fios do telégrafo, e dominaram a cidade por completo, fazendo com que os moradores abandonassem as suas residências, e tomassem destinos às matas, para se protegerem dos absurdos dos facínoras.
Ao entrar nas terras mossoroense, Lampião imaginou desistir de fazer a invasão. Mas já que com tanta dificuldade havia colocado os pés nas terras do município potiguar, resolveu atacá-la. E sem mais pensar, enviou um bilhete ao prefeito, este escrito pelas mãos de um dos prisioneiros, Antonio Gurgel do Amaral, que foi obrigado a escrevê-lo, usando as palavras de Lampião.
"Meu caro Rodolfo Fernandes.
Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró..."
Ao receber o bilhete de Lampião, levado à sua casa através de um dos compassas do facínora, Rodolfo Fernandes mandou pelo capanga, uma bala embrulhada num papel. E ao entregá-la, disse-lhe que dissesse ao capitão Lampião, que ele não mandasse ninguém. Ele mesmo entrasse na cidade e viesse pessoalmente contar a quantia solicitada.
Ao chegar ao local em que eles estavam arranchados lá pras bandas do Saco, atualmente bairro Belo Horizonte, em Mossoró, Lampião perguntou ao mensageiro, o que havia dito o prefeito. O mensageiro retirou de seu bornal uma bala enrolada num papel e o entregou, dizendo-lhe que Rodolfo Fernandes havia mandado lhe dizer que, ele mesmo entrasse na cidade, e fosse pessoalmente apanhar a quantia solicitada.
Ao receber o provocante recado, e se sentindo desconsiderado, o capitão Lampião disse que o prefeito estava mesmo o provocando, e iria mostrar aquele cabra safado, que ou rindo ou chorando, ele entregaria o valor solicitado. E ainda disse que não queria menos. Só aceitava a quantia solicitada.
Com esse desrespeito do prefeito Rodolfo Fernandes com Sua Majestade, sentiu que a coisa não era de brincadeira, e viu que as chances de sair de Mossoró vitorioso, seriam impossíveis. Mas como já havia cutucado o cão com uma vara curta, não desistiria mais da invasão.
Conta Alexandre Gurgel, que para decepção de Lampião, o prefeito havia organizado um grupo de defensores, composto por policiais e civis. Não tendo aonde se alojarem, para protegerem Mossoró, e se protegerem dos estilhaços de balas, que com certeza, a guerra iria acontecer, os combatentes se valeram de São Vicente, pedindo-lhe que o perdoasse, mas cedesse a sua igreja para dar início ao combate. Alojaram-se nos prédios, estação ferroviária, no cemitério e na torre da igreja São Vicente, onde lá serviu de esconderijo para muitos homens armados.
Como não chegou em suas mãos, a confirmação do envio da quantia solicitada, ao meio dia e meia, Lampião escreveu o segundo e último bilhete, e novamente incumbiu o capanga para que o levasse às mãos do prefeito. E já irado, disse que se não fosse atendido a segunda solicitação através do bilhete, com certeza, iria fazer uma devastadora invasão, e não se responsabilizaria pelos estragos.
“Cel. Rodolpho,
Estando eu aqui pretendo é drº (dinheiro). Já foi um a viso, ai pª (para) o Senhores, si por acauso rezolver mi a mandar, será a importança que aqui nos pedi. Eu envito de Entrada ahi porem não vindo esta Emportança eu entrarei, ate ahi penço qui adeus querer eu entro e vai aver muito estrago, por isto si vir o drº (dinheiro) eu não entro ahi, mas nos resposte logo.
Capm. Lampião".
Mas o prefeito, zeloso com a sua função e amante de Mossoró, achando que Lampião queria tomar valores na força e na bala, não aceitou as suas solicitações, e a partir daquela hora em diante, Mossoró ficaria sob o comando de Deus, pois seria o que Deus quisesse.
Agora sim, data de 13 de junho de 1927. Finalmente Mossoró teve a infelicidade de receber a majestade capitão Lampião, entrando pela comunidade do Saco, e veio depredando o que encontrava na sua frente.
Como segurança para ele e o seu bando, fez como prisioneiros, dois senhores de nomes: Pedro José e Azarias Sobreira. E para conservá-los vivos, pediu como adiantamento, sete contos de réis. Caso não fosse atendido o seu pedido, os dois iriam passar pelas suas mãos vingativas, executando-os.
Finalmente, às três horas da tarde, Lampião e seu famoso bando aproximaram-se mais ainda de Mossoró. Os cangaceiros esconderam os reféns numa velha choupana, deixando como segurança, alguns cangaceiros. Os outros deram início à caminhada até a cidade, e como proteção para que não fossem atingidos por balas lançadas por supostos atiradores, que possivelmente já haviam se posicionado para a defesa, seguiram protegidos pelos reféns da Passagem das Oiticicas.
Lá na igreja do Alto da Conceição, novamente se protegeram. Mas como Lampião estava sem sorte, e para felicidade dos familiares das vítimas, principalmente os prisioneiros, por falta de cuidado por parte dos guardas de Lampião, felizmente os reféns se ocultaram das vistas dos cabras, e se mandaram em busca de lugares seguros, para que eles não mais os encontrassem.
Como a maioria das pessoas é supersticiosa com a data 13, com certeza, não estava bom para Lampião. E já se arrependera, chegando a dizer a Sabino Gomes, que ele não sabia o porquê de ter ouvido a conversa de Massilon, quando o incentivou a invadir Mossoró. E ainda lhe disse: "- Cidade que tem igreja com duas torres Sabino, não é para bico de cangaceiros”.
Mas Sabino Gomes estava confiante, e o encorajou dizendo-lhe: - Tenha paciência capitão! Nada está perdido. A nossa vitória será após o tiroteio que não demorará mais acontecer. E tudo irá ser favorável a nós”.
Como em todo Brasil o dia 13 se comemora a data do religioso Santo Antonio, e em Mossoró não é diferente, pois a invasão foi feita nesta data de junho em 1927. O dia todo, a população que ficou na cidade já havia feito a sua fogueira, na intenção de homenageá-lo ao anoitecer.
Mas para atrapalhar os planos de Lampião, no final da tarde, Deus mandou uma chuva fina, fazendo com que dificultasse um pouco o combate. Mas os combatentes estavam protegidos no cemitério, prédios, na estação ferroviária, e vários escondidos na igreja de São Vicente.
Enquanto o sino badalava anunciando um possível derramamento de sangue, de ambas as partes, os bandidos tentavam amedrontar os defensores, com os cantares do mulé rendeira, canção que era usada por eles em todas as invasões.
E sem mais se demorarem, os cangaceiros deram início ao tiroteio, tentando como ponto de partida, invadir a casa do prefeito Rodolfo Fernandes, que esquinava com a igreja de São Vicente.
Os que ficaram na cidade, estavam em pânico, pois os atiradores eram de ambas as partes. Mas muitos moradores se debandaram com as suas famílias, para outras localidades. Inclusive a cidade de Areia Branca, que fica distante 76 km de Mossoró, serviu como berçário para as famílias mossoroenses, levadas em vagões do trem, autorizada pelo diretor da rede ferroviária de Mossoró, o Sr. Eduardo Galvão de Sabóia, segundo Manoel Tavares de Oliveira em: “Estrada de Ferro – Mossoró...”, coleção mossoroense.
Os cangaceiros, sentindo que a cidade estava preparada com fortes combatentes, deram início a uma espécie de humilhação, como: pulos em exageros, fortes berros, além de relinchos e cocoricós, imitando galos, no intuito de amedrontarem os resistentes, e alguns moradores que ficaram na cidade.
Cuidadosamente, vieram se protegendo pelos cantos das casas, nas ruas que dão acesso ao pátio da igreja. Mas o prefeito havia se organizado, evitando um confronto sem sucesso, e ordenou aos colaboradores voluntários que espalhassem pela cidade, uma porção de areia e caixotes, além de vários fardos de algodão, que com certeza, seriam uma excelente barreira.
Conta Alexandre Gurgel que, se os armamentos eram poucos, muito menos era a munição. E se caso a munição se acabasse, os resistentes findariam nas mãos dos cangaceiros, e sem dúvidas, irados, não perdoariam, e os mataria sangrados, como era de costume Lampião matar os prisioneiros de combates.
O cangaceiro Sabino Gomes, querendo ser o mais destemido, invadiu a rua sem nenhuma cobertura pelos seus companheiros. E sem muita demora, logo uma bala o alvejou, rebolando o seu enfeitado chapéu ao chão. E em seguida, outra bala o atingiu, e desta vez deslizou nas suas perneiras.
O cangaceiro Colchete, querendo imitar Sabino Gomes, atravessou a rua em busca de uma das laterais da casa do prefeito, e logo, recebeu um tiro na cabeça, já ficando pronto para os mossoroenses realizarem o seu enterro.
Jararaca que atrás caminhava, e não querendo que os mossoroenses ficassem com as riquezas do facínora assassinado, caminhou em direção ao corpo, mas foi alvejado com tiros que saíram da torre da igreja.
Um dos defensores de Mossoró, o civil Manoel Duarte, que mesmo despreparado para tal fim, acertou o Jararaca no peito direito, e com o impacto da bala, foi ao chão. Mas sem demora, se levantou e saiu se protegendo como pode. Mas não levou sorte. Outro tiro recebeu, e desta vez foi atingido na perna.
Assim como lá em Sergipe, lá na grota de Angico, no dia 28 de Julho de 1938, 11 anos antes aconteceu em Mossoró, no dia 13 de junho de 1927, pois o cheiro de pólvora queimada e o azedume do sangue derramado ao chão dos cangaceiros, não era para qualquer um despreparado suportar,m sem que não tivesse um desmaio. A cidade estava desesperada. Sim senhor! Era coisa triste!
O cangaceiro Menino de Ouro, também sem nenhuma cobertura, querendo ser valentão, cuidou de ir até a lateral da igreja, no intuito de atirar nos resistentes que se amparavam na torre. Mas foi atingido com um tiro certeiro na barriga. E não aguentando as dores, em seguida, ele abandonou o combate e desapareceu, fugindo para o acampamento lá no Saco.
Sabino Gomes lá baleado, e perdendo muito sangue, aproximou-se de Lampião e lhe disse que, em toda sua vida de bandoleiro, nunca tinha atacado uma cidade tão brava quanto era Mossoró.
Lampião arrependido, disse-lhe que um cangaceiro tão experiente quanto ele, mas mesmo assim, havia caído nas informações de um aspirante de cangaceiros. E ainda lhe disse que, na cidade, até os santos atiravam neles. Mas mesmo sentindo que iria sair daqui derrotado, Lampião queria mais. E gritava para os seus comandados que fossem à luta e não desistissem. Era como se ele dissesse assim: “Barco perdido, bem carregado”.
Momentos depois, Sabino Gomes não passava bem, e encostou-se a Lampião, dizendo-lhe que estava baleado, e precisava com urgência sair do tiroteio, pois o ferimento estava sangrando muito. E sem mais se demorar, saiu do combate se escorregando em direção à choupana. Era longe, mas mesmo assim, ele conseguiu chegar.
Lá pelas tantas, ouviram um apito, indicando a desistência de Lampião. E o bando disparou numa desesperada carreira, com medo da violência dos nossos heróis combatentes.
Tempo depois, a maioria dos cangaceiros já se encontrava no coito. Seis cangaceiros estavam baleados. Sabino Gomes era um dos tais, mas não corria perigo de vida. Menino de Ouro sofrendo muito com o ferimento, gritava exageradamente. Mas logo cuidaram de amenizar as suas dores com um curativo preparado com pimenta malagueta. Lampião tentava acalmá-lo, mas as dores eram insuportáveis.
Assim que fizeram o curativo no Menino de Ouro, montaram-se nos seus cavalos e partiram com os reféns, tomando rumo ao Ceará, amparando-se em um sítio de nome Baixa da Broca. Todos estavam pesarosos pela morte de Colchete, e o cruel Jararaca baleado, que eles não sabiam o seu paradeiro. E nem Mossoró tinha conhecimento que um dos cangaceiros de Lampião se encontrava enfermo nas matas.
Jararaca baleado, foi se arrastando, seguindo os trilhos do trem e aproximou-se
da ponte ferroviária. Mesmo o ferimento sangrando, enfiou-se às águas do rio, e
do outro lado, se escondeu numa moita, deparando-se com uns vigias que faziam
serviços rotineiros.
Ao vê-los, pediu para que um deles fosse arranjar material de curativo,
dizendo-lhe que trouxesse pimenta malagueta para ele esmagá-la e colocar dentro
do ferimento. Ainda garantiu que quando retornasse com o medicamento caseiro,
lhe pagaria pelo serviço prestado.
Na saída do vigia, Jararaca apontou a arma para matá-lo, pois achava impossível que ele voltasse sem a polícia. Mas desistiu, baixando a sua maldita arma. Imaginou que o vigia poderia voltar sozinho.
O vigia incumbido da compra de medicamentos, ao sair da presença de Jararaca, em vez de ir à farmácia, foi direto ao destacamento policial. E lá, comunicou o esconderijo de um suposto cangaceiro. Meia hora depois, a polícia chegou e cercou a área. Ele foi dominado com facilidade, pois estava muito debilitado. Prenderam-no e o conduziram para a cadeia pública de Mossoró.
Lampião continuou correndo em direção ao Estado do Ceará. E em uma fazenda de nome Jucuri, distante 21 km de Mossoró, o bando prendeu um comerciante do lugar, um senhor de nome Manoel Freire, e passaram a exigir por ele uma quantia de 10 contos de réis. Caso não fosse atendido o seu pedido, o matariam. Mas logo, os familiares fizeram arrecadação da quantia solicitada, e entregaram ao capitão Lampião. E ao recebê-la, colocou no seu bornal e o liberou.
No dia 14 de junho do mesmo ano, Lampião e o bando chegaram ao sítio Lagoa do Rocha, lugar pertencente às terras do Estado do Ceará, onde lá, pernoitaram como se nada tivesse acontecido. Neste lugar, Menino de Ouro perguntou a Lampião se já tinha saído do Rio Grande do Norte. Lampião o respondeu que sim. Ele não conseguindo mais suportar as dores causadas pelo tiro, pediu a Lampião que fosse feita a sua execução.
Lampião aceitou o seu pedido, e ordenou que um dos cabras desse-lhe o tiro de misericórdia. E assim foi feito, sendo Menino de Ouro enterrado por eles no locar.
15 de junho, entraram em Limoeiro, exigindo do vigário da cidade de nome Padre Vital Lucena, uma quantia de 2 contos de réis da população. Como foram atendidos, não fizeram desordens e nem se demoraram. E às 6;00 horas da noite, foram embora.
Vamos leitor, saber o que aconteceu com Jararaca?
Segundo o escritor e jornalista do Jornal “O Mossoroense”, Geraldo Maia, José Leite de Santana nasceu no dia 05 de maio de 1901, em Pajeú das Flores, lá no Estado de Pernambuco. De físico avantajado, de estatura mediana, moreno-escuro, e de temperamento fora do comum. E com esse tipo violento, saiu às carreiras de sua cidade, amparando-se na capital de Maceió, lá no Estado de Alagoas.
Nos anos vinte, do século vinte, sentou praça no exército. Mas não gostando da vida nas forças armadas, desistiu da farda para vestir as lindas e enfeitadas roupas do cangaço.
Mais ou menos no ano de 1925, antes de ser contratado pela Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia, do famoso capitão Lampião, o José Leite de Santana mostrava a sua força e coragem pelos sertões de Pernambuco. E lá, já era alcunhado por Jararaca, e chefe de um bando de cangaceiros, que sem nenhuma piedade, eles assaltavam fazendas, comboieiros, assassinavam, incendiavam casas e depredavam o que viam pela frente.
Este, ao se incorporar ao bando de Lampião, levou em sua companhia oito asseclas, sendo já famoso por ser valente, bom atirador e lutador de faca. E com isso, fez com que Lampião o entregasse um subgrupo de cangaceiros.
Vamos leitor, assistir a execução de Jararaca?
Diz ainda o jornalista Geraldo Maia, que no depoimento baseado, que Pedro Sílvio de Morais, um dos integrantes da escolta que matou o cangaceiro fez ao historiador Raimundo Soares de Brito, disse-lhe o seguinte: “- Pelas onze e meia horas da noite, de um luar claro e frio, do mês de junho, uma escolta composta de oficiais, sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido, dizendo que ele iria ser trancafiado na cadeia de Natal. No momento da saída, e ao dar entrada no carro, Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão, e pediu ao comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar à capital com os pés descalços".
O tenente-comandante então disse que em Natal lhe daria um par de sapatos de verniz. Quando os automóveis pararam no portão do cemitério São Sebastião (Mossoró), Jararaca interrogou-os:
- Mas isto aqui é o caminho de Natal?
Como resistisse descer do automóvel, um soldado empurrando-o deu-lhe uma pancada com a coronha do fuzil.
No cemitério mostraram-lhe uma cova aberta lá num canto, e um deles perguntou-lhe:
- Sabe para que seja isso?
- Saber de certeza, não sei não. Mas, porém estou calculando. Não é para mim? Agora, isso só se faz porque me vejo nestas circunstâncias, com as mãos inquiridas e desarmadas! Um gosto eu não deixo para vocês: é se gabarem de que eu pedi que não me matassem. Matem! Matem que matam, mas é um homem! Fiquem sabendo que vocês vão matar o homem mais valente que já pisou neste...
Mas o Jararaca não teve tempo de dizer o que queria. Um soldado por trás dele deu-lhe um tiro de revólver na cabeça. Ele caiu e foi empurrado com os pés para dentro da cova.
Observação: “Existem alguns textos contados diferentes do que afirmou Jararaca quando estava prestes a ser executado. Mas apenas os autores usaram sinônimos, sem fugirem do que disse Jararaca. O importante é não criar fatos diferentes do que aconteceu na hora da execução do bandido”.
Dizem os historiadores que o grupo de Lampião sofreu violenta perseguição no Estado do Ceará, pelas tropas do major Moisés, dos tenentes: Laurentino, Abdon Nunes e Agripino do Rio Grande do Norte e Quelé da Paraíba.
Massilon vendo seus planos indo por água abaixo, abandonou o bando de cangaceiros. E a partir daí, os que restaram sofreram tanto, que acabaram fugindo para a Bahia, aonde chegaram apenas oito companheiros famintos e esfarrapados. Foram eles:
Sobre esta imagem acima, Ivanildo Régis afirma que Ivanildo Silveira, pesquisador e colecionador do cangaço, faz a seguinte observação: “Embora a identificação dos cangaceiros da foto acima seja um tanto polêmica, consultando especialistas, é quase unânime que a legenda mais que mais se aproxima da realidade, é a seguinte: Lampião, Ezequiel, Virgínio, Luiz Pedro, Mariano, Corisco, Mergulhão e Alvoredo.
Um pouco da
biografia deles:
1 - Virgulino Ferreira da Silva, “o Lampião”, ou ainda o patenteado “capitão”. Nasceu em 1898, no Estado de Pernambuco. Era filho de José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação. Depois de quase vinte anos como chefe de cangaceiros, foi abatido, juntamente com a sua rainha Maria Bonita e mais nove cangaceiros, na madrugada de 28 de julho de 1938, na grota de Angico, lá no Estado de Sergipe. Um dos maiores líderes de cangaceiros.
2 - Ezequiel Ferreira da Silva, o Ponto Fino (irmão de Lampião); Nasceu no ano
de 1908, no Estado de Pernambuco. Foi abatido no dia 23 de abril de 1931 – no
tiroteio da Fazenda Touro, povoado Baixa do Boi, no Estado da Bahia, ponto
conhecido como Lagoa do Mel.
3 - Virgínio
Fortunato da Silva, o Moderno. Ex-cunhado de Lampião. Nasceu em 1903 e faleceu
em 1936, aos 33 anos de idade.
Segundo o
escritor e pesquisador do cangaço de nome Franklin Jorge, há suspeita, não
comprovada, que Virgínio era da cidade de Alexandria, no Estado do Rio
Grande do Norte.
Era
companheiro de Durvalina, que com a sua morte, ela amasiou-se com
Moreno. Durvalina faleceu no dia 30 de junho de
2008. Moreno faleceu no dia 06 de setembro de
2010.
4 - Luiz Pedro do Retiro, companheiro de Neném do Ouro. Ele foi abatido
juntamente com Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros, na madrugada de
28 de julho de 1938, na grota de Angico no Estado de Sergipe. Dizem que quem o
assassinou foi o policial Mané Véio. Ele era de Trinfo, no Estado de Pernambuco.
5 - Mariano Laurindo Granja, companheiro de Rosinha. Entrou para o cangaço em 1924. Foi um dos poucos que em agosto de 1928, cruzou o Rio São Francisco, em companhia de Lampião, em direção à Bahia. Foi morto no dia 10 de outubro de 1936.
Segundo Alcino Alves Costa em: (Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico), o ataque foi entre os municípios de Porto da Folha e Garuru, região conhecida como o Cangaleixo.
A pesquisadora do cangaço, Juliana Pereira, afirma
que Rosinha foi morta a mando de Lampião. Era filha de Lé Soares e irmã de
Adelaide, esta última sendo companheira de Criança, e parenta próxima de
Áurea, companheira de Mané Moreno. Sendo Áurea filha de Antonio Nicácio, que era primo/ irmão de Lé Soares.
6
- Cristino Gomes da Silva Cleto, Corisco, companheiro da cangaceira Dadá.
Ele foi abatido no dia 25 de maio de 1940, pelo tenente Zé Rufino, na
fazenda Cavaco, em Brotas de Macaúbas, no Estado da Bahia. Dadá foi ferida e
presa. Ela faleceu em 1994. Com a morte de Corisco, finalmente o cangaço
foi enterrado com ele.
7 – Mergulhão
foi abatido juntamente com Lampião e mais nove cangaceiros, na madrugada de 28
de julho de 1938, na grota de Angicos, no Estado de Sergipe. (Não tenho maiores
informações sobre este cangaceiro).
8 - Hortêncio Gomes da Silva, o Arvoredo. – Desligou-se do bando no momento do ataque a Jaguarari, no Estado da Bahia. Fez dois meninos como reféns. Mas eles conseguiram o dominar, desarmando-o. Em seguida mataram-no a facadas. Achando que o serviço ainda não tinha sido concluído, degolaram-no e cortaram as suas mãos. Após o trabalho concluído acionaram a polícia. (Não tenho maiores informações sobre este cangaceiro).
Fontes de Pesquisas:
O cangaceiro
Massilon – Por Alexandre Gurgel - 31/03/2005.
O cangaceiro
Jararaca – Por Geraldo Maia.
Massilon, Délio Holanda e Chico Pinto – Por Romero Cardoso.
Pequenas e úteis informações:
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