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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A RENÚNCIA DE DURVAL ROSA

 Por Rangel Alves da Costa

Rangel Alves da Costa e Manoel Severo

Durval Rodrigues Rosa foi umas das maiores expressões da política do sertão sergipano, principalmente em Poço Redondo, onde o grupo político sob o seu comando saiu vencedor em diversos pleitos eleitorais, elegendo não só a si mesmo por duas vezes (1963/64 - 1977/1982 ) como a seus filhos João Rodrigues Sobrinho, mais conhecido como João de Durval (1971/72), e Ivan Rodrigues Rosa (1993/1996), além de ter participado vitoriosamente de outros pleitos. Seu Durval, como mais conhecido, faleceu aos 83 anos em 28/09/2003, ainda sob o manto da respeitabilidade enquanto forte liderança política. Poucos sabem, contudo, que o filho de Dona Guilhermina e de Seu Cândido teve ameaçado até de ser preso quando eleito pela primeira vez em Poço Redondo. Em plena gestão da administração municipal, e de repente as transformações políticas ocorridas no Brasil a partir do Golpe Militar de 64 o atingiram injustamente.

Seu Durval, homem sempre respeitado, de palavra, de extrema honradez pessoal e política, vitorioso na terceira eleição realizada no município, teve que ceder ao império arrogante e insensato das botinas dos generais. Contudo, de modo diferente do que costumeiramente se comenta, não teve seu mandado cassado pelos generais, e sim renunciou, embora forçadamente, ao que lhe fora conferido pelo voto popular. Ora, a polícia da ditadura estava em Poço Redondo pressionando, forçando a essa tomada de decisão.

Durval Rosa

Cassado teria sido se a governança municipal lhe tivesse sido retirada por ato de lei, a partir de ato emanado do governo militar. Contudo, o que ocorreu foi uma renúncia forçada ao exercício de prefeito sob pena de ser preso. Ou deixava a governança municipal ou seria acusado “seja lá do que fosse” e levado à prisão pelos generais. Bem ao modo do que ocorreu com o governador Seixas Dória e os deputados Baltazar Santos, Viana de Assis, Cleto Maia e Nivaldo Santos. 

Com efeito, a 31 de março de 64 o Brasil passou ao crivo do regime militar, com a deposição do presidente João Goulart e a tomada do poder pelos generais. Tinha início o período conhecido “anos de chumbo” e que perduraria por vinte e um anos, até 1985. A partir daí, principalmente através do Ato Institucional nº 1 (AI-1, que dava poderes absolutos ao novo governo revolucionário para cassar os direitos e mandatos políticos daqueles que não fossem simpatizantes ao regime instalado), iniciou-se uma série de perseguições políticas em todas as esferas.

Seu Durval havia sido eleito legitimamente no pleito realizado em 03 de outubro de 1962, tendo como adversários Joaquim Fernandes de Barros (candidato do então prefeito Eliezer Joaquim de Santana) e Francisco Néri de Araújo (Chico de Lulu). Eleito pelo PSD, vindo do mesmo grupo do recém-assassinado Zé de Julião, assumiu os destinos do município a 1º de janeiro de janeiro de 1963 e o seu mandato deveria durar quatro anos. Contudo, sua gestão duraria apenas um ano e meio, pois teve de renunciar no dia 12 de junho de 1964.

Zé de Julião

Em Sergipe, diversos mandatos foram tomados “à força”, desde o governador a deputados. Também prefeitos foram depostos, como Geraldo Maia, de Propriá; Pascoal Nabuco, de Estância; José Figueiredo, de Capela; José Carlos Torres de Souza, de Neópolis; e Epaminondas Martins, de Amparo de São Francisco. E no sertão sergipano dois prefeitos não foram depostos, porém tiveram de renunciar: Durval Rodrigues Rosa, de Poço Redondo; e Francisco Machado Costa (Chiquinho Lameu), de Canindé de São Francisco.

Verdade é que na noite de 12 de junho de 1964, forças policiais dos generais revolucionários marcaram reunião na Câmara de Vereadores de Poço Redondo. A polícia da ditadura já sabia o que aconteceria ainda naquela noite, pois ali estavam exatamente para tratar do novo prefeito que assumiria os destinos do município. Igualmente sabiam que o prefeito Durval Rodrigue Rosa logo faria chegar à presidência da câmara sua carta de renúncia. E assim aconteceu. Totalmente pressionado, ameaçado de prisão se não renunciasse, Seu Durval não teve outra saída. Eleito ainda naquela noite presidente da câmara, Cândido Luis de Sá, Seu Candinho, ato contínuo se tornou prefeito municipal, sob as bênçãos dos generais.

Mas por que Seu Durval teve que ceder aos generais e renunciar ao mandato? Formalmente, ele não havia sido acusado de subversão à ordem pública ou de propagação de ideias comunistas, então por que foi forçado a renunciar? Os fatos nunca foram devidamente esclarecidos, pois as atitudes dos generais nunca eram justificadas com precisão. Intui-se, contudo, que a conduta política de Seu Durval incomodava o regime. Os generais não queriam no poder um homem que fazia, ao seu modo, um socialismo sertanejo através do atendimento às demandas mais populares, e cuja voz destemida, e sempre ouvida, poderia pregar contra o regime ditatorial em vigência.

Rangel Alves da Costa,

Pesquisador,Escritor e Poeta; Poço Redondo, SE
blograngel-sertao.blogspot.com

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