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domingo, 8 de outubro de 2023

A FUGA PELO DESERTO

Por Beto Rueda

O ano de 1931 assinalou a mais espantosa e dramática aventura de Lampião: seu homizio no Raso da Catarina. Magnífico, de uma beleza trágica, nos sertões baianos.

Acossado por diversas volantes policiais, soldados baianos, pernambucanos e alagoanos a adivinhar-lhe o rastro invisível, misterioso, desnorteante, fez desse pedaço de mundo o seu refúgio nesse período.

O cangaceiro Zé Baiano.

Lampião, estava agindo nas longas extensões que iam de Santo Antônio da Glória a Uauá e de Curaça a Jeremoabo, nessas terras de cactus e favelas.

Ninguém sabia do seu paradeiro. E já a lenda começava outra vez a cercar-lhe o nome, a audácia, a memória: morrera, desertara, fugira. As aves do céu testemunharam a sua desdita, agonizando de sede e fome.

Um dia, o tenente José Sampaio Macedo prendeu um sertanejo matuto, pobre, mas forte e inteligente. Não permitiu o oficial que o homem sofresse qualquer vexame por parte da tropa. Deixou-o à vontade, no meio da volante. Três dias depois, por livre e espontânea iniciativa, o caboclo disse: - Seu tenente, eu sei onde está Lampião!

A marcha no rumo indicada pelo prisioneiro foi penosa. Tenente e soldados afundaram no Raso a pé e como guia o rastejador Antônio Cassiano e o sargento de larga experiência e coragem de nome Luiz Mariano.

Passaram-se os dias sem novidade. De repente, ecoam no deserto, partidos de sobre uma pedra, sucessivos tiros de fuzil. Era uma sentinela avançada de Lampião que, avistando a volante, anunciava ao bando a sua aproximação. Estabelecera ele, em torno do seu acampamento, um cinturão de segurança.

A volante cerca o bando. O tenente Macedo foi atingido com um tiro no pé, o sargento Mariano e o guia Cassiano também são feridos. O fogo fechou-se rápido e nutrido.

O grupo cangaceiro recua, afundando mais e mais no Raso. Desaparece em poucos instantes debaixo de gritos e imprecações dos seus homens e dos soldados. No chão, o tenente Macedo contempla os despojos deixados pelo famoso cangaceiro: roupa, chapéus de couro, vestidos, pentes, tesouras, chales, agulhas, linhas...

Todos os objetos foram queimados por ordem do tenente que iniciou a sua longa jornada de volta. Perdera o oficial a dinâmica do pé. O sertanejo que lhe revelara o paradeiro de Lampião, foi carregado pelos ombros. Em uma rede regressou o sargento Mariano.

O Rei dos Cangaceiros já ia longe quando a volante retornou: dois bandos de avoantes ensanguentadas sobre o deserto do Raso da Catarina.

REFERÊNCIAS:

MACEDO, Nertan. Lampião. 3. ed. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1970.

PRATA, Ranulfo. Lampião. 2. ed. São Paulo: Piratininga, 2010. (Fac-símile de 1934).

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