Beto
Klöckner Rueda
No dia 29 de
novembro de 1930 Lampião estava descansando na casa grande da fazenda Riacho
Verde do amigo José Malta, ao lado de Mata Grande, Alagoas. Trouxeram a sua
presença alguns sujeitos branquelos de fala enrolada que foram aprisionados
pelos cangaceiros a meia légua da cidade. Eram missionários americanos, havia
também uma mulher. O líder era o missionário Virgil Frank Smith, estavam
acompanhados do professor de matemática Maurício Wanderley. Lampião perguntou
ao missionário como era o seu nome e o que fazia. Como o americano não se
expressava bem em português, o professor Maurício explicou: - O nome dele é
Virgílio capitão. É um religioso americano e está ensinando o caminho certo ao
povo.
- Então somos
colegas, disse Lampião. Porque eu também estou corrigindo os erros dessa gente.
Diga a ele o que é que eu faço com mulher de vestido curto e cabelo cortado...
e diga também que eu quero onze contos para soltá-los.
Os
missionários entregaram tudo o que tinham, cédulas e umas moedas. Lampião
devolveu as moedas: -Toma isso que eu não sou cego para aceitar moedas de
vintem. Tratem de arranjar o resto do dinheiro.
Os
missionários não tinham mais dinheiro, mas quem disse que estavam preocupados?
Diziam-se felizes por terem a oportunidade de pregar o evangelho para aquelas
criaturas, que também eram filhos de Deus. Começaram a ler trechos da bíblia em
voz alta e cantar hinos de louvor. Lampião impacientou-se: - Meninos, soltem
esses cabras e mandem embora que eu não aguento mais essa "zuada"!!
Para rezar precisa gritar tanto? Será que eles pensam que Deus é surdo???
REFERÊNCIA:
IRMÃO, José
Bezerra Lima. Lampião, a raposa das caatingas. Salvador: JM Gráfica e Editora,
2014. 369p.
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