Maria dos Anjos, uma mocinha
com pouco mais de 16 anos. Moreno claro, de olhos negros, cabelos longos e pretos. Era uma verdadeira "Iracema". Ninguém resistia
ao seu olhar atraente, já imaginava coisas... Além do mais,
tinha umas lindas coxas. Coisa de menina bonita. Nem parecia ser filha de um
homem feioso, magro, cabeça de coco, poucos dentes naturais, e alguns havia
adquirido no protético prático do bairro. Totalmente desajeitado, como era
o seu pai, o Elesbão.
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Certo dia, chegou do Rio de Janeiro um militar, o João Prado, todo enfiado
num uniforme do exército brasileiro. Era cearense da gema, mas desde menino que
veio para Mossoró, em companhia dos pais. Aqui cresceu, e daqui foi servir o
exército no Rio de Janeiro. Ao ver a linda mocinha, que não havia presenciado a
rápida mudança em seu corpo, a desejou de corpo e alma.
Os pais do João Prado eram vizinhos dos pais da Maria dos Anjos,
mas as amizades entre eles eram restritas, apenas algumas vezes faziam
reuniões nas calçadas.
Nesse dia, o João Prado chegou a prosear com dona Isabel, a mãe da Maria
dos Anjos, sobre a beleza da sua filha, chegando
a mandar-lhe um recado, que fosse se arrumando que iria levá-la para
Copacabana.
Nos anos setenta, em Mossoró, existiam várias casas de prostituição no chamado "Alto do Louvor" como: Coimbra, Brasília, Pernambucana, Casablanca, Ideal, Las Vegas, Brahma, Arpege e Diacuí – todos nomes com referências a lugares, filmes, bebidas, sinônimos, na época, de atualidade e sofisticação, e uma das boates mais faladas em Mossoró, era Copacabana com o seu sofisticado aparato à clientela.
Alto do Louvor - https://www.omossoroense.com.br/alto-do-louvor-em-mossoro-para-uma-historiografia-da-zona-mossoroense/
Assim que dona Isabel chegou em casa, participou a Elesbão, a brincadeira
que o João Prado dissera com sua filha, que fosse se arrumando, que iria
levá-la para "Copacabana", e lá, ambos, iriam viver um belo
romance.
Elesbão ao ouvir a brincadeira do João Prado, contada pela sua esposa, a Isabel,
não disse nada, ficou calado, apenas tentando engolir o ódio que
atravessava em sua garganta, sobre o desrespeito do João Prado com a sua
filha. Ficou a imaginar que aquele sujeito metido a
galã, estava pensando que iria passar a perna sobre sua mocinha. Ele estava
totalmente enganado. Sim Senhor! Aquela menina era criada com carinho, única e nada lhe faltava. Era pobre, mas filha de um senhor honrado e
trabalhador.
Várias e várias vezes saíra de casa ao clarear do dia para o seu sofrido emprego, lá na Avenida Alberto Maranhão, no Alto da Conceição, e se internar o dia inteiro na fábrica de óleo do Aderaldo, só para dar a sua filha o que ele não tivera quando em companhia do seu velho pai.
Aquele sujeito só porque estava de uniforme do afamado exército brasileiro, agora se sentia como se fosse um galã de cinema, o Jiuliano Gemma, um dos melhores artistas de cinema em décadas passadas.
Ou o velho Antonio Stefeni, com o seu maravilhoso filme "Um Homem Chamado Django", que fez bastante sucesso no passado do século XX, ou ainda um jovem querendo imitar o famoso Matt Damon, no seu romântico filme "Dio, Come Ti Amo". Mas ele se enganara por completo. Sua amada
filha tinha um pai para protegê-la.
Ao anoitecer, Elesbão foi até à bodega do Valentim, também próxima ao Alto do
Louvor; tomou umas quatro ou dez cachaças, não sei, e já meio tonto, foi em
casa, pegou uma faca, mais uma ponta de mangueira grossa, enviou-as na cintura, e foi ao encontro do João Prado, que no momento, palestrava em uma
das casas amigas.
Ao
chegar, perguntou ao dono da casa, o Tiago das Oiticicas, como era chamado
no bairro:
- João Prado
está aí, seu Tiago?
- Está -
respondeu Tiago das Oiticicas.
- Chame ele
por favor!
- João Prado,
Elesbão quer falar com você! - Gritou seu Tiago lá pra dentro da
casa.
E lá se veio
inocentemente o João Prado.
- O que deseja,
Seu Elesbão?
- João Padro,
eu vim aqui porque você mandou um recado pela Isabel, para minha filha Maria dos Anjos, que fosse se arrumando que iria levá-la para o
Copacabana. Como ela não pode vir, então eu vim para ir junto
com você ao Copacabana.
E sem mais
pensar, tirou o pedaço de mangueira da cintura, mais a faca e enfiou-se atrás
do João Prado, descendo a ladeira do Alto do Louvor. E tome mangueira, e
tome peia, e tome peia. Na carreira, as passadas do João Prado atingiram
dois metros de distância, igualando as do seu agressor. Mas à frente,
depararam-se com um muro de dois metros. Mas o agredido não contou conversa,
saltando-o de uma vez só. Nem precisou colocar as mãos sobre ele
para se apoiar e facilitar o impulso. Foi aí que Elesbão
resolveu não arriscar pular o alto muro.
Enquanto o
Elesbão perseguia o João Prado, os amigos do Elesbão corriam atrás
dele, para que não realizasse o assassinato. E gritavam assustadoramente:
- Não faça
isso, Elesbão! Não faça isso..., pelo amor de Deus, homem de Deus!!!
Dias depois, o
João Prado retornou às pressas para o Rio de Janeiro, e nunca mais botou
os pés em Mossoró.
O Elesbão não
sabia que o Copacabana que o João Prado se referia é uma praia no Rio de
Janeiro. Ele pensava que o rapaz estava desconsiderando a sua
filha, querendo levá-la para o meio da prostituição, no cassino de
Mossoró, "Copacabana".
Minhas simples
histórias
Se você não gostou da minha historinha, não diga a ninguém, deixa-me pegar mais outro.
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