Por: Manoel Tavares de Oliveira
No ano de 1927, quando o bando de Lampião tentou invadir e saquear a cidade de Mossoró, em sua passagem pelo Sítio Mumbaça, hoje cidade de Frutuoso Gomes, a única casa que ele entrou foi a de meus avô, José Gomes de Oliveira.
Meu avô era almocreve e estava viajando para o Cariri, quando o bando passou no lugar, e minha avó, Maria Salustiana da Cunha, (Dona Mariazinha como era chamada), não saiu de casa junto com suas 7 filhas, inclusive minha mãe, Joana Gomes de Oliveira, que já era casada na época, e seus 3 filhos pequenos, José de 7 anos, Antonio de 4 e Maria de 3 anos, talvez a única família que permaneceu em casa, pois todas as outras foram se esconder no mato com medo dos bandidos.
Na casa de Frutuoso, se rezava a trezena de Santo Antônio, e nesta noite não foi realizado o evento, a penúltima noite de trezena, que era o dia 11 de Junho, pois todos foram esconder-se no mato. A casa de Frutuoso não foi atingida pelos bandidos, pois ficava um pouco afastada da estrada, e eles parecem que não desviavam muito por onde andavam.
Ao entrarem na residência de José Gomes, meu avô, perguntaram: "Cadê o dono da casa?". Minha avó sem hesitar respondeu: "Está viajando".
Ao entrarem na casa, estava meu irmão mais velho, na época com 7 anos, e um deles tirou a rede do armador, derrubando-o ao chão. Tomaram um anel de ouro da minha mãe, Jona Gomes, e uns brincos de minha tia Rosa.
Quando abriram as malas, lá encontraram vários quadros com o retrato
do Padre Cícero do Juazeiro, e imediatamente um deles , possivelmente Lampião, disse:
"Nesta casa ninguém bole". Saíram imediatamente sem ofender fisicamente as filhas de José Gomes, indo logo abaixo, cerca de uns 3 ou 4 quilômetros, no Sítio Cachoeirinha, entraram na residência do Sr. Francisco Libânio, que se encontrava fechada, pois o pessoal tinha ido se esconder com medo deles, e o bando fez o maior destroço, derrubando todos os queijos que se encontrava no jirau, cortaram todos,, e depois fizeram cocô em cima dos restos que sobrou. Verdadeira bagunça.
Aqui deixo registrado o que aconteceu na passagem de Lampião e seus facínoras, pelo Sítio Mumbaça, minha terra.
Este fato eu tenho a plena certeza que ninguém escreveu.
Manoel Tavares de Oliveira é autor do livro:
" Estrada de Ferro Mossoró-Souza: Um Sonho, Uma Realidade, Uma Saudade". - da coleção mossoroense - série "C' - volume 1494 - Outubro de 2005
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