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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Lembranças de Vingt-un - 21 de Dezembro de 2011

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Hoje, 21 de dezembro de 2011, está completando seis anos do falecimento do mestre Jerônimo Vingt-un Rosado Maia.
Para mim é um dia de recordações tristes, pois o meu relacionamento com Vingt-un era como se fosse de pai e filho. Foi através dele que cheguei ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte como sócio correspondente, tomando posse juntamente com sua esposa, a
professora América, de saudosa memória, e do companheiro Rubens Coelho. Foi por sugestão sua que meu nome foi escolhido para nomear a Biblioteca do hotel Sabino Palace, de Mossoró. Guardo com carinho a cópia do discurso que ele fez na noite de inauguração da Biblioteca, cheio de palavras carinhosas e incentivadoras. Mesmo se passando seis anos da sua morte, sua imagem permanece nítida no coração dos que tiveram a graça da sua amizade. 
Em 25 de setembro de 1920, num dia de sábado, nascia em Mossoró, num velho casarão da Rua 30 de Setembro, Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, sendo filho do patriarca Jerônimo Rosado e dona Isaura Rosado Maia.
Era o vigésimo primeiro filho de uma família numerosa e numerada, como ele mesmo gostava de dizer, já que seu nome vem exatamente da seqüência à ordem numérica francesa dos nomes que Jerônimo Rosado dava aos filhos. 
Teve uma infância normal, de brincadeiras telúricas, embora dando a impressão de ser um pouco contemplativo. Desde cedo se dedicou aos empreendimentos intelectuais, preferindo acompanhar a atividade do irmão mais velho,
Tércio, filho do primeiro matrimônio do seu pai, que era um homem culto, poeta, amante dos livros e pioneiro do cooperativismo no Estado. E foi ainda na juventude que começou a cultivar o gosto pelos livros e pela pesquisa histórica. Na adolescência atuou como bibliotecário no Colégio Santa Luzia. E esse gosto pelos livros o acompanharia durante toda a sua vida. 
Em 1940 parte para Lavras/MG para estudar agronomia. Lá chegando, o seu envolvimento com os livros, as letras e a pesquisa tornaram-se mais intensa. Concluindo o curso em novembro de 1944, voltou para Mossoró para desenvolver atividades junto à empresa familiar que atuava na área de exploração de gesso e paralelamente começou a desenvolver um trabalho no campo cultural, que culminou com a criação da Coleção Mossoroense. 
Apesar de pertencer à tradicional família de políticos que comanda Mossoró por gerações, preferiu enveredar mesmo pelo caminho da cultura. Na verdade, chegou mesmo a disputar dois cargos eletivos. A primeira vez candidatou-se a Prefeito de Mossoró, perdendo por uma margem de 0,4% em 1968. Em 1972 elegeu-se vereador com a maior votação proporcional da história de Mossoró. Mas foi mesmo na área cultural que se destacou, tornando-se ícone da cultura local. Em 1940, com apenas 20 anos, publicou o seu primeiro livro, que recebeu o título de “Mossoró”. A esse, seguiram mais de duzentos, que foram da antropologia ao estudo das secas. 
Como convocado de guerra em 1945, sofreu uma punição por transgressão disciplinar, ficando detido na cadeia da Companhia Escola de Engenharia de Ouro Fino/MG, por 15 dias. O motivo da pena foi ter fugido para encontra-se com sua namorada,
América Fernandes Rosado, que seria sua companheira por toda a vida. Segundo um depoimento do próprio Vingt-un, ao terminar a carreira militar, o seu comportamento foi considerado insuficiente. 
Vingt-un esteve sempre presente em várias frentes de atividade cultural, tanto no município como no Estado. Foi professor fundador de três faculdades e idealizador da URRN, hoje Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Foi fundador e duas vezes diretor da ESAM, hoje Universidade Federal Rural do Semi-Árido e professor Honoris Causa da UERN. Integrou o Conselho Estadual de Cultura, foi membro de quatro Academias em dois Estados da Federação, tendo sido criador e ex-presidente de duas delas, a Academia Norte-rio-grandense de Ciências e a Academia Cearense de Farmácia. 
Jerônimo Vingt-un Rosado morreu no dia 21 de dezembro de 2005, aos 85 anos de idade. Morreu não; encantou-se. Continua vivo na memória do povo da terra que tanto amou, ao ponto de idealizar nela um país, o País de Mossoró. Nesta sua Pasárgada, ele era amigo do rei, mas era amigo também de qualquer homem do povo. Fez-se General da Cultura e nessa área abraçou várias causas, venceu várias batalhas: a batalha da cultura, a batalha da água, a batalha do petróleo e tantas outras batalhas que estão documentadas na sua grande obra. É nessa obra que deixou como legado que Vingt-un vive, pois esse é o segredo da imortalidade: ressurgir sempre que um livro seu é aberto, que uma frase sua é repetida e que um gesto seu é lembrado. Lembrando Celso Carvalho, “é triste passar pela vida como a sombra pela estrada. Quando passa é percebida... passou não resta mais nada”. Por isso Vingt-un fez-se luz. E assim criou o País de Mossoró.

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Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

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