Disse-me o Sargento Cafinfin que certo dia ele conversando com um "cabra" do Rei do Cangaço, Lampião, o Capitão Virgolino Ferreira, lhe foi dito que para ser "homem do Capitão", tinha de ser valente e fazer a "prova de fogo", isto é, matar um amigo íntimo ou um parente próximo, quer fosse tio, primo ou mesmo irmão. Cafinfin tinha muita vontade de participar do "Bando de Lampião", o que era na época uma honra para qualquer jovem sertanejo, o que não era fácil.
Um dia chegou em casa dele Cafinfin, vindo da roça, encontrou uma sua irmã mais velha "engomando", isto é, passando ferro com brasa em roupas dele, e aproveitando a ocasião que esta sua irmã foi até a cozinha olhar a panela de feijão que se encontrava sobre o fogão à lenha, Cafinfin muito jovem ainda, arrancou três botões de uma camisa nova que ele tinha, e momentos depois, pedia à mesma irmã que queria a camisa nova para fazer uma viagem, e ao pegar a camisa que já estava engomada, isto é, passada à ferro, Cafinfin deu um grito com o rosto cheio de ódio simulado.
E dissera: "tá vendo sá peste, o que você fez com a minha camisa. Desgraçada. Eu vou beber seu sangue agora."
E meteu a faca que portava na irmã, que velozmente não foi morta, mas atingida no braço, levemente. E Cafinfin investindo de novo e a irmã se defendendo, e não morreu porque logo depois chegou ali o seu pai e um amigo deste, que evitaram a desgraça. Na madrugada do dia seguinte, Cafinfin fez o matulão, apanhou um rifle e saiu mundo a fora à procura do "Bando de Lampião", e não demorou muito tempo e achou o lugar desejado.
Disse-me ele, atendendo a minha curiosidade, que das coisas horripilantes que presenciara o que mais lhe tocou o sentimento como ser humano, foi quando um grupo de homens do Capitão Virgolino (Lampião) chegou a uma fazenda perto de Floresta e pegaram um boi colocando-o sobre quatro forquilhas, enterradas que deixava o animal suspenso sem nenhuma reação nas patas, uma vez que cortaram os tendões das mesmas, e ainda da cauda do bovino. Depois fizeram uma fogueira ao lado e começaram a cortar o boi de trás para frente, enquanto o bovino dava berros horríveis, a turma comia a carne traseira que era assada na fogueira em forma de churrasco, sob risos e mais risos dos mesmos participantes, que gritavam: "vamos gente comer carne assada de boi vivo."
Isto foi a coisa que Cafinfin achou mais dolorosa em toda a sua vida, pois matar gente em luta não era nada de mais para ele. Certa vez Cafinfin foi apanhado propositadamente por uma "Volante" da Polícia Militar, sem reação nenhuma, ficou revoltado com a malvadeza que viu fazerem com o boi. Não foi preso e sim incorporado à Polícia como Soldado raso (recruta) e depois passou à "pronto", chegando a ser Cabo, Sargento e depois reformado como Tenente.
Já velho, certa vez foi agredido por uns robustos rapazes que não gostavam dele, em Fazenda Nova, Vila pertencente ao Município do Brejo da Madre de Deus, e instigado a uma vingança por algumas pessoas amigas e familiares, Cafinfin limitou-se a dizer:
"Não, eu já fiz muita coisa errada e é preciso que pague.
Já dei em muita gente e quem dá também um dia apanha."
Foi um verdadeiro ato de arrependimento de coisas praticadas erroneamente, e que se torna tal atitude em um ato nobre e de perdão perante Deus e o povo, bom exemplo de vida.
Cafinfin não explorava ninguém, não gostava de pedir favores pessoais aos políticos a quem servia. Era respeitador e gostava de tratar bem as pessoas pobres. Chegando a comprar facas-peixeiras para presentear trabalhadores rurais que fossem ou não seus conhecidos. Era honesto sim.
Extraído do blog:
Municipalismo por Newton Thaumaturgo
Nenhum comentário:
Postar um comentário