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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Seu GONZAGA Alfaiate, um dos últimos comunistas românticos de AURORA

Por: José Cícero

ENTREVISTA

Luiz Gonzaga dos Santos 87 anos. Assim pelo seu nome de batismo talvez poucos saibam exatamente de quem se trata. Mas basta pronunciar seu nome de guerra - 'Gonzaga Alfaiate'(foto ao lado), para que todos logo saibam quem ele é, sobretudo os mais antigos da sua época. Como músico tocador de clarinete compôs a 1ª formação da famosa banda de música da Associação Beneficente em meados de 1936. Alfaiate de profissão, foi ainda chefe de agência de ônibus, vendedor de loterias e destemido militante comunista.
Hoje ele está cego e com sério problemas de audição. Há anos que não mais sai de sua residência. Uma aprazível vivenda quase bucólica, situada próxima a linha férrea à rua João de Sá Cavalcante a mais periférica da cidade, já quase descambando para o lado Norte pras bandas do rio Salgado.
É lá onde ele se refugia praticamente do mundo a sua volta, segundo suas próprias palavras durante a entrevista prestada a este articulista para o Blog de Aurora em meados do mês de dezembro do ano passado.
Num começo de noite, Seu Gonzaga nos recebeu em sua residência com a mais pura da amabilidade tão comun a boa gente interiorana. Mesmo cego e com dificuldade para ouvir, durante mais de uma hora conversou conosco de maneira descontraída e alegre sobre diversos assuntos relacionados à história de Aurora e outros acontecimentos da sua própria vida. Lúcido e cortez é quase uma enciclopédia. Seu Gonzaga é por isso mesmo possuidor daquilo que poderíamos bem chamar de ‘memória de elefante’. Ao ponto de narrar muitos fatos distantes no tempo com elegância e nos seus mínimos detalhes...
Ele foi seguramente um dos protagonistas de uma história que os poderosos fizeram de tudo para que já nascesse morta. Isto é, que fosse relegada ao esquecimento total. Como forma de negá-la à posteridade. Mas se enganaram. Nenhuma história de resistência morrerá assim tão fácil. O velho Gonzaga, como se nota, mesmo depois de tantos anos ainda agora continua sendo o seu portador.
Uma história imorredoura, visto que sempre brota como erva resistente da nossa caatinga sertaneja. Fincando raízes profundas no solo sagrado de uma aventura que nunca finda, apenas "toma fuga e logo em seguida, rejuvenesce". Bastando apena uma neblina da memória para reacender de novo em algum lugar do tempo como uma trovoada gigante a cair dos céus. E de certa forma, foi exatamente isso o que aconteceu com este herói do povo. Seu Gonzaga é um nome que ainda hoje impõe respeito e confiança junto a todos quantos o conheceram outrora, nos anos idos. Um lutador. Um dos primeiros músicos de Aurora que não media esforços em transmitir seus conhecimentos aos seus contemporâneos; como foi o caso do renomado músico da terra – Assis Paulino, do qual foi professor.
Foi também uma dos mais conceituados alfaiates desta região. Cuja profissão exercera com denodo por mais de 4 décadas quando tal ofício esteve no auge. Sendo, por assim dizer, uma atividade das mais nobres naqueles tempos. Paralelo, exercia a lida de vendedor de bilheta das loterias(federal e estadual). Anos depois foi gerente da Viação Brasília e da São Geraldo na cidade. Era um autêntico "passarinho urbano”; por isso mesmo, bastante considerado em todas as atividades que exerceu na vida.
Mas a história que protagonizou e que agora queremos resgatar não se resumia apenas as questões profissionais cotidianas. Ele foi muito mais além... Ousou pensar um mundo diferente. Dotado de uma consciência bastante revolucionária, Seu Gonzaga integrou um grupo de amigos diferenciados, sobretudo para os padrões daqueles anos difíceis. Botou a mão na massa... Foi à luta. Antenado com as notícias do Brasil e do mundo ainda no ‘Estado Novo’ despertou para as questões políticas.
Tornou-se por seu turno, mais um dos simpatizantes da revolução Bolchevique de 1917 que teve palco na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviética de W.I. Lênin. Foi adepto do outubro vermelho e depois dos barbudos cubanos: Fidel, Guevara, Camilo, Cifuengos, bem como de Carlos Prestes, Marighella, Grabóis, Amazonas, Rosa Luxemburgo, Olga, Brizola, dentre outros...
Curioso e perspicaz, acompanhava tudo pelo 'rádio de válvula', ouvindo por exemplo a BBC de Londres, depois a rádio Nacional e até (em ondas curtas) a rádio Havana de Cuba.
Em 1945 ao lado do seu grande amigo Seu Biró(outro grande adepto do comunismo) organizaram a primeira célula do antigo PCB de Carlos Preste e João Amazona em terras aurorenses, antes mesmo de Juazeiro, Crato e Missão Velha.
Como ele mesmo explicou. Não era um partido, mais um grupo razoavelmente organizado com deveres e funções específicas de cada um dos seus membros. "Era uma célula como se chamava naquele tempo". Sem dúvida, um ato deveras pioneiro e perigoso.
O referido grupo era composto, inicialmente por apenas cinco integrantes. A saber: Seu Biró(coordenador)(foto ao lado), Seu Gonzaga, Vicente Ricarte, Micena Rafael e Jesus Fernandes. As reuniões eram praticamente clandestinas, em face da grande perseguição política e do preconceito social plantada em parte, conforme ele, pelo padre assim como pelas lideranças que dominavam o cenário da política local. Num tempo em que ser comunista era um verdadeiro pária da então sociedade, rude, atrasada e preconceituosa de então. De modo que, eram logo tidos como: temíveis ateus, 'comedores de criancinhas' e bestas-feras da vida.
Além de tudo, contavam com a ferrenha oposição dos mandatários do lugar. Num tempo em que quase ninguém tinha coragem de falar abertamente da política, dos governos e dos desmandos dos caciques locais. Tampouco dos antigos dogmas religiosos. Contudo, os comunistas não poupavam suas críticas ácidas contra este estado de coisas. "Mesmo sem fazer parte diretamente do nosso grupo", lembra ele - "o Sr. Adauto Campos que também era alfaiate, foi também um grande simpatizante do pensamento que defendíamos".
De forma que falavam abertamente das suas idéias e inquietações do dia a dia pelas ruas, cafés, barbearias e pelo comércio em geral. Ou seja, os locais mais freqüentados pelo povo e, notadamente pelos potentados do lugar. Cumpre destacar que grande parte da elite praticamente os odiava.
Os padres da época diziam que os comunistas eram os representantes do próprio diabo. E os políticos(os coronéis dos sertões) os chamavam de verdadeiros criminosos, inimigos da pátria e da paz. Não era fácil a vida dos que ousaram pensar diferente e enveredar pelos caminhos do socialismo. Fazer política interiorana, não era um ofício fácil.
De tal sorte, como se percebe, eles pagaram um preço alto demais pela ousadia de falar o que pensavam, sonhando com pioneirismo a conquista da democracia. Foram todos, por assim dizer, condenados por sonhar, quem sabe, o futuro que ora vivemos de modo o mais democrático possível. Uma verdadeira utopia naqueles anos negros de ignorância e truculência.
As reuniões eram todas clandestinas. Realizadas na sua grande maioria na calada da noite. Algumas na casa de seu Biró e nos finais de semana no sítio Várzea de Pedra a cerca de 5 km da sede onde residia um dos membros do grupo. Para não chamar a atenção, um por um, eles seguiam a pé para o local. E o retorno também era assim. Liam, estudavam e distribuíam o Democrata – o jornal do partido que difundia as idéias e as diretrizes do movimento socialista mundial que era, produzido em Fortaleza e que, quinzenalmente, era remetido atraves do chamado trem da feira que vinha de Fortaleza para a cidade do Crato, explicou Seu Gonzaga com certa emoção nas palavras.
Vicente Ricarte e Seu Gonzaga eram os responsáveis pela distribuição do Democrata em Aurora. Quando as coisas estavam “pretas”, Vicente Ricarte tinha que ir receber o tal jornal ainda na estação de Iguatu para não levantar nenhuma suspeita, costumava dizer seu Biró.
Houve uma época em que a perseguição se acirrou tanto, inclusive pelas questões relacionadas à política local. Num destes momentos, segundo Seu Gonzaga, ocorreu quando da disputa pela prefeitura então polarizada entre as candidaturas de seu Araripe pelo PSD e o Dr. Acilon Gonçalves pela UDN.
Os comunistas se diziam simpatizante do PSD, posto que a sigla “era menos ruim e menos burguês”. E esta opção terminou gerando um conflito entre os apoiadores da UDN e os simpatizantes do comunismo local(PCB). Havia uma sensação de temor no ar. À boca pequena, rumores davam conta de que algo de perigoso iria ocorrer contra os comunistas e seus amigos mais próximos. De modo que, numa noite durante uma passeata dos udenistas, o pio aconteceu. Foi o que hoje chamaríamos de ‘atentado’. Para época, um acontecimento um tanto quanto inusitado. Um ato incomum para os padrões da época.
“No início da noite quando o povo passava em frente a residência de Biró na rua grande, soltaram uma bomba de relativa potência destrutiva. Por sorte ninguém se feriu, Biró não estava em casa. O artifício foi tão forte que chegou a derrubar os pilares da residência. “Uma coisa horrível usar um explosivo daquele contra a família de um cidadão”, recordou ele. Nenhum inquérito foi feito para apurar o estranho caso. Muitos tinham medo de falar sobre aquele episódio, pois temiam e com razão, possíveis retaliações.
Naquela mesma eleição, foi lançada informalmente a candidatura de Seu Biró ao cargo de vereador. Não se falava noutra coisa desde as ruas à zona rural. Haviam chances reais da sua eleição fácil, devido o trabalho de articulação bastante organizado do grupo. A ousadia dos comunistas repercutiu bastante. Era um voto de protesto. Um nome alternativo que ia de encontro aos poderosos. Uma mudança. Uma novidade importante para os aurorenses. Contudo, ao perceberem que seu Biró poderia ser eleito, os ricaços do poder trataram logo de montar um complô. Uma farsa tramada pelos poderosos nos bastidores.
"Os donos do poder detonaram a nossa chance eleitoral" enfatizou o velho revolucionário. Cassaram o registro do candidato dos comunistas na cala da da noite. Alegaram, segundo Gonzaga, que o partida pelo qual Biró estava filiado era clandestino. Mas não. Na capital e noutros municípios do Estado várias candidaturas foram homologadas naquela eleição pelo PCB. 
Algumas até obtiveram êxitos eleitorais. Curiosamente apenas em Aurora houve esta proibição injusta e vergonhosa. Quando comunicaram à Fortaleza não houve mais tempo. E Biró terminou sem poder ser candidato. Ainda assim, o nome dele apareceu na urna durante a apuração dos votos. Depois, sentimos que foi muito engraçado tudo aquilo.
Além do episódio da explosão da bomba, durante a entrevista, Seu Gonzaga lembrou ainda de mais dois fatos que lhe marcaram a memória de maneira altiva e forte. Duas agressões covardes que ocorreram contra dois simpatizantes do grupo. O Primeiro deles, em plena praça da matriz quando Zé Cocô a mando dos potentados políticos da época num dia de feira agrediu covardemanete o Sr. João Magalhães do Tipi que era adepto do PCB. Outro ato de agressão foi sofrido pelo alfaiate Nonato no interior do seu próprio local de trabalho no coração da cidade. Desta feita, levado a cabo pelas mãos do próprio líder político acompanhado por mais dois capangas à tiracolo, disse.
Neste último caso, a coisa só não foi pior devido a intervenção destemida do Seu Gozanga que implorou para que parassem com aquela violência contra aquele cidadão de bem . “Implorei com todas as minhas forças para que não surrassem aquele homem. Não batessem, nem chicoteassem aquele homem que era meu amigo também de profissão, declarou ele. "Pedi por dentro para Nossa Senhora e todos os santos para que não permitissem aquela desfeita contra a honra e a moral do meu amigo Nonato". O referido alfaiate era seu companheiro de lida e de idéias. Era um homem de bem. Pobre mas bem conceituados por todos, explocou ele.
Tristonho pela desmoralização que sofreu, no dia seguinte o alfaiate Nonato deixou Aurora desolado com toda a sua família, indo residir deste então, em Juazeiro do Norte. Antes chamou Gonzaga em sua residência e bastante sentido, entregou-lhe a chave da alfaiataria com tudo que lá havia para que o amigo tomasse conta, até a entrega da última encomenda de roupa. E Gonzaga o fez solidariamente, enviando inclusive o apurado para o mesmo me Juazeiro.
Anos depois, o deputado Quintino Teixeira( que era enteado de Seu Araripe) conseguiu uma colocação para Nonato na agências dos Correios e Telégrafos da capital, onde ele terminou, anos depois, sendo chefe e se aposentou. Tendo conseguido formar todos os seus filhos na capital cearense. Nunca mais voltara a Aurora sequer para uma visita, tamanha foi a ofensa que sofrera.
Em meio aquela agradável conversa(entrevista), seu Gonzaga lembrou ainda de um comunista de Missão Velha de nome Zé Cadete que vinha vez por outra a Aurora para se reunir com o grupo e tratar das questões teóricas e de articulação política. Ele ficava hospedado na casa de Biró e na de seu Gonzaga. Uma vez chegou a passar um mês em Aurora tratando da organização dos comunistas. Era um sonhador em potencial. Um cidadão que acreditava no futuro como uma questão objetiva e inalienável.
Na revolução de 64 Zé Cadete foi preso em Missão Velha e recambiado de trem para fortaleza onde ficou encarcerado no Instituto Paulo Sarasate(IPPS). Ficou preso junto com uma multidão de ladrões e bandidos da pior espécie. Mesmo sem nunca ter cometido um crime sequer, disse ele com um ar de imensa tristeza. Ainda em Missão Velha, um certo doutor de nome José Ribeiro também sofreu dura perseguição dos militares e teve todos os seus livros queimados pela repressão. As notícias das prisões se sucediam o tempo todo e chegaram rápidamente a Aurora. Antes mesmo que o jornal do trem da feira do Crato que todos os dias ia e vinha da capital.
Também em Aurora, todos tiveram que correr e se esconder em segurança. Seu Biró foi para o sítio de Joaquim Moreira pras banda de Quitaiús. Os demais se esconderam como podiam em qualquer lugar onde não fossem pegos. Apenas Gonzaga resolveu ficar. Decidiu correr o risco. Mesmo confessando ter sido aquela uma atitude por demais tememária.
“Quando a perseguição chegou ao Cariri um dos primeiros que foi pego que se tem notícias foi o camarada Zé Cadete da Missão Velha”, disse ele. Informações davam conta de que sofrera o diabo na prisão da capital durante as sessões de tortura. Mas nada falou sobre as atividades dos que ficaram em Aurora e Missão Velha. Quando solto, quase morto rumou para o São Paulo e nunca mais deu notícia... Era um amigo, um cidadão inteligente, um bom cristão...
“Certa manhã, fui intimado a comparecer a delegacia. E fui. De longe vi um Jipe verde-escuro cheio de soldados com a farda do exército. Rezei. Fui interrogado por um certo coronel de nome Virgílio. Um homem que me pareceu extremamente educado. Recebeu-me com um certo sorriso. Fez as perguntas de praxe. Foi longo dizendo que eu não tinha cara de comunista. Solicitou que eu contasse toda a minha história. Tinha algo escrito num papel. Neguei tudo. Disse-lhe apenas que vendia e distribuía o jornal Democrata, porque ganhava uma comissão.
Afinal, eu era um pai de família e precisava ganhar algum dinheiro. Ele positivava com a cabeça e olhava dentro dos meus olhos. Dos outros, disse-lhe que nada sabia. E o coronel Virgílio, compadecido do meu relato de penúria, meteu a mão no bolso, me deu algum dinheiro e pediu que eu me fosse... Sai como uma bala. Desci os batentes da delegacia num pulo só. Não consegui ver os males da ditadura nos olhos daquele homem que me tratou tão bem. Acho que eu tive sorte.”
Não encontraram o suposto grupo de Aurora. Seu Biró ainda tentou saber como ajudar o Zé Cadete na prisão alencarina. Mas não teve como, afinal de contas, também era um procurado. “Nossas mulheres eram quem mais nos pressionavam a fugir e abandona a luta, temendo as prisões que vinham sendo processadas por todos os cantos. Os jornais estavam cheio de notícias dando conta dos acontecimentos e até de mortes de pessoas vitimadas pelos militares”. Foi um tempo de terror, que graças a Deus conseguimos passar ilesos sem maiores problemas, concluiu.
Sentado diante da sua cadeira, vislumbrei o seu Gonzaga cego, de olhos fechados, pensativo por alguns momentos, mas altivo como que enxergasse o mundo muito mais que eu. Ou seja, o mais profundo possível, quem sabe, com maior nítidez humanista, dado que via com os olhos da alma e do coração. Como de resto, há quem diga que a melhor das visões é mesmo a do coração. E isso foi possível perceber quando conversamos com o velho comunista de Aurora. O último dos sobreviventes de uma verdadeira saga política que as gerações do presente e do futuro não deveriam esquecer por nenhum motivo.
Além da história dos comunistas de Aurora em particular e do Cariri em geral, falamos igualmente, de muitas outras coisas relativas ao município, dos tempos passados, dos antigos amigos, da profissão, da banda de música da beneficente, da política daquela época, enfim, de uma Aurora que não mais existe a não sem na memória de verdadeiros guerreiros como no caso de seu Gonzaga e tantos outros que já partiram para o panteon da eternidade. Diria, de uma história que não quer calar...
No final da minha entrevista, perguntei-lhe se em algum momento ele se arrependeu de ter optado pelas ideais comunistas. E ele me disse com a mais natural das convicções: – Nunca! O que eu queria era na verdade, começar tudo de novo, ah, se isso me fosse possível...
Em seguida, quando fui agradecê-lo por ter nos recebido, ele me interrompeu dizendo: – Quem agradece a vocês sou eu pela atenção a este velho cansado pelo tempo. Mas que não desistiu ainda da vida. Sou um teimoso viu!...
Fiquei comovido diante da vontade, da experiência e da ânsia de diálogo daquele homem, cujas forças resistem nas suas convicções mais latentes... da sua consciência quase desafiante, bem como da sua memória rica e fértil, ainda movida pelas idéias socialistas e democráticas. “Nada daquilo que fizemos foi em vão. Fizemos o que foi preciso nada mais... Isso é o que me basta.”
De fato, a democracia, a liberdade que agora vivemos de algum modo especial contou com a contribuição desprendida daqueles homens sonhadores e destemidas como seu Gonzaga, e tantos outros, espalhados pelos diversos rincões deste pais inteiro. Alguns tiveram que pagar com a própria vida, por isso, temos que valorizá-los com toda as nossas forças. Por isso precisamos prestar a todos eles nossa gratidão, reverência e homenagem. Obrigado seu Gonzaga, Seu Biró, Seu Vicente e todos os demais aurorenses que um dia acreditaram no sonho possível de um Brasil melhor, justo e democrático.
Por fim, quando vejo hoje alguém desperdiçando o seu voto, penso na luta de homens como seu Gonzaga, seu Biró, Zé Cadente e tantos outros... E desse modo, percebo que nunca podemos desistir de um ideal, de um sonho que acreditamos. Sem o qual, creio que a vida, além de muito mais monótona nem sempre valeria muita a pena....
Seu Biró (sentado a direita na cadeira vermelha) ao lado de parentes no sítio Japão de Aurora
A despeito do velho comunista. Pergunto pra mim mesmo: Quanto vale um ideal. O quanto uma idéia pode sobreviver com a gente por uma vida inteira. Seu Gonzaga é um exemplo vivo de que ninguém poderá sobreviver em paz sem a perspectiva de um ideal nobre e valente. Que os deuses da longevidade possam conservá-lo por muito mais tempo entre nós. E que a história de Aurora, assim como as gerações do presente e do povir não o esqueçam jamais...
Ele é portanto, o poderíamos denominar de um poço de sabedoria. Um testemunho vivo e importante da chamada história verdadeira dos oprimidos. A luta da memória contra o esquecimento.
A Entrevista: Além do comunismo aurorense, outros temas palpitantes também foram abordados(e devidamente gravados) o que certamente, darão novas estórias e histórias, que eu haverei de aproveitá-las em momentos oportunos deste blog... Como um serviço que prestamos à memória de Aurora e do Cariri como um todo. Posto que, uma cidade sem história é como algo que está prestes a sucumbir pela voracidade da modernidade que a tudo consome, devora, vomita e mata.

José Cícero –
Professor, Escritor, Pesquisador e Poeta.
Secretário de Cultura e Esporte
Aurora-CE.


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