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sábado, 17 de março de 2012

A INDÚSTRIA DOS SAVEIROS


A INDÚSTRIA DOS SAVEIROS
O país vai ler o comunicado que a abaixo publicamos; vai sentir o valor das encrespações que havemos feito aos portugueses, que vivem entre nós: vai apreciar por si mesmo se assiste sobeja razão para sustentar que se eles intrometem em todos os [...] negócios domésticos; vai julgar [...] não uma verdade o que [...] da influencia perturbadora [...] [...] do comercio, de que [...] e da acumulação dos capitais [...] mãos.
Digam-nos depois que não é por [...] da verdade e do país, que escreve e que continuaremos a escrever em pró da nacionalidade brasileira!
Quatro brasileiros beneméritos, bem dignos irmãos, amigos do povo e da pátria, compram uns 60 saveiros, os quais distribuíram por nacionais, que a pouco e pouco fossem pagando com muita módica quantia (160 réis por dia, dizem-nos) aquele empréstimo generoso.
Em mãos de africanos cativos de portugueses, pela maior parte, estava toda a indústria de remar saveiros, cujo numero em nosso porto excedia talvez de mil.
Havia aí uma lei, que facultava esta indústria a pessoas livres; isto é, que reconhecia o monopólio para escravos; que tendia a dar cabo daquele terrível núcleo de insurreições, que não era ainda nem proteção a nacionais, nem reconhecimento de suas necessidades todas.
E esta lei o que é que ela poderia trazer de proveito, se uma sociedade brasileira não houvesse emprestado um capital aos proletários do país? [Por] bem existir a cem anos a lei; [se] aquele empréstimo nem um [benéfico] [podia] lhe trazer.
Mas é assim que a vontade do povo é lei,
É assim que a vontade do povo impera;
É assim que o povo é mais forte que o governo;
É assim que a soberania do povo se manifesta.
No dia 1º de novembro de 1850 foi dada aos nacionais a permissão de dirigirem eles sós saveiros em estações determinadas. Não erão certamente as melhores estas estações.
E o que fazem os portugueses monopolizadores? Não satisfeitos de negarem-se a vender alguns saveiros que servissem para este primeiro passo da nacionalização da indústria; não satisfeitos de tentarem arredar os homens livres daquele trabalho que pintavam como ímprobo; vendo que são poucos para o trato do comercio os saveiros possuídos por brasileiros, retiram todos os seus escravos á um tempo daquele serviço, posto que somente três dos cais fossem destinados para pessoas livres, para desta arte pretextarem depois que os brasileiros não tem meios de satisfazerem as necessidades do comercio, e guerreando a indústria brasileira exigirem depois a revogação da lei, que o povo faz executar, e a medida adotada pelo governo, isto é, exigirem a continuação de seu monopólio.
É um desaforo que eles não praticariam, se capitalistas brasileiros unindo-se em sociedade fornecessem o capital conveniente para se obter um número suficiente de saveiros.    
É um desaforo, que os bons dentre eles não podem, não devem deixar de reprovar.
Não se zomba assim com o pão quotidiano do povo...    
Fonte: Jornal: O Argos Cachoeirano – Periódico literário, doutrinário e moral.
Bahia, sábado, 9 de novembro de 1850.

Extraído do blog Pesquisando a História do pesquisador:
Urano Andrade

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