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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Bumba-meu- boi da Liara

Por: Gilmar de Carvalho

BUMBA-MEU-BOI DA LIARA

Poucas vezes um artista cearense enfrentou uma tarefa tão complicada e desafiadora instigante como a que se propôs Liara ao dar forma ao seu “bumba-meu-boi”.

Só os dotados de muita competência, determinação e fôlego para o trabalho (também braçal) podem chegar a este conjunto que ela ofereceu à nossa fruição.

A proposta de Liara começa a ser importante pela escolha da cerâmica como suporte. A argila se deixa domar e ganha formas fortes, rebuscadas, delicadas, e poéticas, por meio de suas mãos firmes e ágeis.
Diz a tradição que Deus teria modelado o homem do barro, antes de lhe soprar a vida. Certo é que a cerâmica se inscreve como das formas mais ancestrais de expressão, está presente em praticamente todas as culturas, e veio a ser o material ideal para a modelagem do bumba-meu-boi.

Estamos diante de outra manifestação muito antiga. O reisado cristaliza uma representação que, antes de ser arte, foi ritual. É uma manifestação anímica e Liara domina como poucos este universo mítico e estético.

O bumba-meu-boi é dos folguedos presentes em praticamente todos os Estados brasileiros. Conta, em poucas palavras, a saga de uma rês morta para atender ao desejo da mulher do vaqueiro que estava grávida. A partir daí, entram bichos, se encena um entrecho dramático, se dança, o boi ressuscita e são renovadas as promessas de que ele voltará no próximo ano.

Em boa parte do Brasil, faz parte dos festejos do ciclo natalino. No Maranhão, no entanto, se inclui no calendário das celebrações juninas.

Liara pesquisou muito para nos dar este conjunto. Foi ao Maranhão, vasculhou o interior do Ceará, visitou Pernambuco, e obteve mais referências no Rio de Janeiro.

O bumba-meu-boi foi mostrado em muitos espaços, de vários Estados, e obteve uma aprovação da crítica especializada, ganhou espaço nas publicações voltadas para a arte e a cultura, e se inscreveu como referência no campo da escultura em cerâmica com uma “pegada” tradicional.

O diferencial é que Liara faz a tradição dialogar com outras vertentes, com elementos da história da cultura e com diferentes tendências artísticas. O resultado é rico e a aquisição deste conjunto valorizará qualquer acervo de arte brasileiro ou estrangeiro que queira contar com uma releitura atenta, sensível, e valorativa do bumba-meu-boi e de seus brincantes, no contexto da cultura brasileira, que não deixa de ter suas antenas voltadas para todo o mundo.

Gilmar de Carvalho
Jornalista, Professor da Universidade Federal do Ceará
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Estudioso das relações da Comunicação com a Cultura

Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

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