Por: Honório de Medeiros(*)
Quarta teoria: o
ataque a Mossoró resultou de um plano político (terceira parte)
QUESTÕES SEM
RESPOSTA (continuação), SEGUIDO DE MASSILON E O PLANO DENTRO DO PLANO
Vigésima-quarta:
nos primeiros dias de setembro de 1927 a fazenda Bálsamo, da família Hollanda,
fronteira do Ceará com o RN, foi invadida pela polícia à cata de cangaceiros, à
procura de Júlio Porto, Francisco Brilhante e dois irmãos seus, envolvidos no assalto
a Apodi. Por que lá não estavam Massilon nem Décio Hollanda, o proprietário da
Fazenda?
Vigésima-quinta:
por qual razão os cangaceiros não atacaram a residência do Gerente do Banco do
Brasil para sequestrá-lo em busca de resgate, como supostamente queriam fazer
com o Prefeito?
Vigésima-sexta:
a que se atribui a lenda de que Jerônimo Rosado, correligionário do Coronel
Rodolpho Fernandes e personalidade influente em Mossoró desde os tempos do
Coronel Francisco de Almeida Castro, líder político que havia falecido há pouco
tempo, estaria por trás do ataque, e não permitira saque ao comércio? Seria em
decorrência de sua estranha omissão quanto à defesa da cidade?
Jerônimo Rosado
E seus
familiares, onde estavam?
“O velho
Rosado, meu avô, com quem eu morava desde a morte do meu pai, Jerônimo Rosado
Filho, não queria sair da casa do centro da cidade. Ele chegou a fazer uma
seteira (buracos enviesados nas paredes da sala), pois queria se defender
dentro de casa com a família. Duó (Duodécimo), seu filho, ponderou que ele
deveria retirá-la para um lugar seguro, pois ele tinha muitas filhas e o bando
era terrível. Então ele passou a transportar todos, em várias viagens de
automóvel, na manhã do dia do ataque. Foram todos para o “Canto do Junco”, de
propriedade do Sr. Dobinha, no caminho de Tibau. Imagine, umas casinhas de
palha num descampado, sem proteção... Mas era fora da cidade. Na casa da rua só
ficaram o velho Enéias, avô de Wilson Rosado, e seu Chico, antigo empregado da
Farmácia, com as portas e janelas trancadas.”
“Acho que
pensavam que ele ia morrer; mas como isso não aconteceu, resolveram matá-lo, temendo
que Lampião voltasse para buscá-lo. Aí, ninguém teria sossego. Natal reclamou
muito porque ele foi morto. O Major Laurentino, de Mossoró, se justificou com
esse argumento.”
Faz sentido o
quê Lahyre de Melo Rosado diz, ou teria sido ele industriado por seu avô?
Elencadas
todas essas indagações extremamente sérias e ainda não respondidas, que teimam
em parecerem importantes na justa medida em que as outras teorias acerca da
invasão de Mossoró por Lampião não se sustentam, como visto antes, passemos então
para o “x” da questão, conscientes que os indícios existentes acerca do viés
político no ataque são muitos, e o difícil é conectar os fatos e lhes dar
unidade de propósitos, tornando verossímil a conjectura exposta a seguir.
O cangaceiro Massilon
Sabemos que
quando da invasão de Apodi por Massilon, o projeto de atacar Mossoró já
existia, como noticiou o jornal “O Mossoroense”, em 15 de maio de 1927[4], insinuando, sem rodeios, que a invasão à
cidade, a ocorrer em dias vindouros, integravaempreitada[5] (grifo do Autor) de grande vulto, e
dele dera conhecimento, ao Coronel Rodolpho Fernandes, a carta de Argemiro
Liberato.
Tudo isso foi
abordado antes, neste livro.
Agora é
preciso aprofundar o estudo do papel de Massilon no ataque a Apodi para,
somente então, realmente começarmos a entender o cerne da teoria que atribui a
um complô político o ataque de Mossoró por Lampião.
MASSILON E O
“PLANO DENTRO DO PLANO”
Para tanto,
recordemo-nos que foi dito, antes, que a idéia de atacar Apodi e Mossoró não
fora do Coronel Isaías Arruda. Do Coronel havia sido o planejamento e a
“logística”, digamos assim.
Coronel Isaías Arruda
Tylon Gurgel
Décio Hollanda
era genro de Tylon Gurgel, o principal líder de oposição ao Coronel Francisco
Pinto em Apodi, Rio Grande do Norte.
Casa de Tilon
Gurgel em Pedra de Abelhas
Em 10 de maio
de 1927, a pequena e pacata cidade de Apody é assaltada por uma horda de
cangaceiros comandados pelo célebre bandido Massilon Leite ou Massilon
Benevides, chefiando parte do bando de Lampião[9].
Igreja Matriz
de Apodi. Foto de 1918.
A malta de
desordeiros procedia do Pereiro, no Ceará, por determinação de Décio Holanda,
Tilon Gurgel e Martiniano de Queiroz Porto, ferrenhos e virulentos adversários
da família Pinto, do Apody.
Chegaram à
cidade por volta das três horas da madrugada tendo início, de imediato, uma
série de truculências, culminando com o assassinato do comerciante Manoel
Rodrigues.
O bandido
Mormaço, preso posteriormente nas imediações de Martins, RN, em princípio de
junho, afirmou, em seu depoimento, que Décio Holanda os acompanhou até a
fazenda Pau de Leite, próximo a Apody. Décio era genro de Tilon Gurgel.
Mormaço
De início os
bandidos inutilizaram os aparelhos do telégrafo nacional. Dando seqüência à
macabra missão de que estavam contratados, aprisionaram alguns cidadãos.
Saquearam e incendiaram totalmente a casa comercial ‘Jázimo & Pinto’, da
viúva do Coronel João Jázimo Pinto, a Senhora Isabel Sabina Filha, conhecida
como Dona Bebela de João Jázimo.
Dentre os
cidadãos presos estava o Coronel Francisco Pinto, prefeito municipal, que
obteve sua liberdade mediante pagamento de vultuosa quantia e pela eficaz e
enérgica intervenção do padre Benedito Alves, vigário da cidade, que intercedia
piedosamente pelo preso já condenado à morte.
O ataque
terminou às 11 horas, para alívio da pequena urbe oestana.
O eminente
historiador Válter Guerra escreveu minucioso artigo sobre este episódio,
intitulado “A Madrugada do Terror”, publicado no jornal “Gazeta do Oeste”.
Neste mesmo
dia o Coronel Francisco Pinto enviou mensageiro especial a Mossoró, montado em
fogoso alazão, com a missão de procurar o seu parente Rodolfo Fernandes e
entregar uma missiva, com pormenores que soubera por terceiros, de que o
celerado grupo de Lampião tencionava atacar Mossoró. O historiador Raimundo
Nonato aborda este fato em seu livro ‘Lampião em Mossoró’, à pág. 53[10].
Por ocasião do
ataque, Apody assumira o aspecto de cidade saqueada e sitiada, invadida que
fora pelos bandidos comandados por Massilon, deflagrando os mais hediondos
crimes, enormes pela truculência e brutalidade com que foram perpetrados.
Esse episódio
fora antecedido, em 12 de maio de 1925, pelo denominado “Fogo de Pedra de
Abelhas”, também relatado na obra mencionada do historiador Marcos Pinto, e que
tem relação direta com os acontecimentos acima relatados:
Neste dia
ocorreu o famoso “Fogo de Pedra de Abelhas”. Os truculentos Décio Holanda e seu
sogro Tilon Gurgel arregimentaram vultoso grupo de jagunços, em consonância com
Martiniano Porto, primo do bandido Júlio Porto, componente do bando de Lampião,
espalhando o terror em Apody e região.
Como era do
seu dever, o Coronel João Jázimo comunicou ao governador José Augusto a triste
e vexatória situação vivida no Apody e região circunvizinha. De imediato o
chefe do Executivo Estadual encaminhou um contingente policial composto por 40
praças, comandado pelo Capitão Jacinto Tavares, exemplar oficial da Polícia
Militar do Estado que ficou aquartelada em Apody.
Na manhã de 12
de maio a tropa dirigiu-se até a povoação de “Pedra de Abelhas” objetivando
efetuar a prisão de Décio, Tilon Gurgel e toda a jagunçada. Antes da força
policial chegar ao seu destino, já Décio era sabedor de que o contingente
estava vindo ao seu encontro, por mensageiro enviado por Martiniano Porto.
Quando Décio
preparava-se com seus “cabras” para empreenderem fuga rumo ao Ceará, eis que
surge a tropa policial, travando-se cerrado tiroteio, culminando com a
debandada da jagunçada rumo ao Rio Apody, morrendo na ocasião um “cabra” de
Tylon Gurgel, por nome Mamédio Belarmino dos Santos, da família dos “Caboclos”,
daquela paragem.
Após esse
entrevero bélico, a tropa policial retornou ao Apody, com a missão de retornar
no dia seguinte, o que não se efetivou pelas informações concretas de que o
grupo armado se homiziara no Ceará.
Depois desta
ocorrência coibitiva, voltou a reinar a paz naqueles rincões, mas não
satisfeitos com a reprimenda policial, eis que Martiniano, Tilon, e seu genro
Décio (primo do coiteiro Izaías Arruda, protetor de Lampião[11]) tramam e efetivam o famoso ataque de 10
de maio de 1927 à cidade do Apody, contando com o empenho de Massilon Leite,
comandando parte do grupo de Lampião.
Continua...
PARA ENTENDER
O QUÊ SE EXPÕE AQUI, É CONVENIENTE LER OS TEXTOS ANTERIORES POSTADOS EMwww.honoriodemedeiros.blogspot.comPROCURE
Cangaço, DENTRE OS Marcadores, E LEIA TUDO QUANTO FOI ESCRITO ACERCA DO
TEMA.
[1] “MOSSORÓ E O CANGAÇO”; Coleção
Sociedade Brasileira do Cangaço; volume V; Fundação Vingt-Un; Coleção
Mossoroense; Série “C”; Vol. 950; junho de 1997; Co-edição com EFERN-UNED de
Mossoró; Mossoró, RN.
[2] Jerônimo Lahyre era neto de Jerônimo
Rosado com quem morava desde a morte de seu pai Jerônimo Rosado Filho. A
entrevista foi concedida a Ilná Rosado.
[7] “LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE”;
Dantas, Sérgio; Cartgraf Gráfica Editora; 2005; 1ª edição; Natal, RN.
[8] “DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DO
APODY”; Coleção Mossoroense; Série “C”; Volume 1.164; Mossoró, RN; 2001.
[11] Aqui se trata de outro equívoco. Não
havia qualquer parentesco entre Décio Hollanda e Isaías Arruda.
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