Por: João de Sousa Lima(*)
Passei
as últimas horas procurando palavras para falar sobre meu amigo Alcino Alves
Costa e nada chegava a memória, só as lembranças dos bons momentos que passamos
em nossa caminhada nas veredas do sertão na busca pelas diversas
histórias vividas pelos cangaceiros. As lembranças trazem saudades e as
saudades as vezes nos ferem, nos tolhem, nos esquadrinham. continuo sem achar
palavras para definir o que eu sentia por esse ser humano tão magnifico, tão
envolvente e tão leal com suas amizades.
Por enquanto prefiro calar-me no silêncio da recordação, sentir a tristeza da
perda do grande amigo e sofrer a dor da perda que no momento me é tão presente.
Como homenagem
a pessoa que era meu amigo Alcino eu repasso as palavras de outro grande amigo
que é o Antonio Galdino, do Jornal Folha Sertaneja, que deixou a mais justa
impressão sobre esse sertanejo que foi pedaço de nossas vidas e que hoje sua
perda arranca esse pedaço e nos deixa ferido, marcas que mesmo todas as
lágrimas não nos curaria jamais.
Folha
Sertaneja - Paulo Afonso - BA
03/11/2012 - 13:44
03/11/2012 - 13:44
Morre o
escritor Alcino Costa, o “caipira de Poço Redondo”
Muitas
homenagens estão sendo prestadas ao grande escritor
Antônio
Galdino
Não bastasse o
dia 02 de novembro ser um dia que remete a lembranças de perdas dos entes
queridos e se torna assim, naturalmente, em um dia triste, melancólico, este
ano ele ainda foi mais doído, especialmente para os pesquisadores e escritores
do tema cangaço que se reúnem em associações e seminários para estudar o
assunto sobre o qual Alcino Costa, autor de vários livros, era um mestre. No
dia 1º de novembro morreu Alcino Costa, “o caipira de Poço Redondo”.
Era assim que
ele gostava de ser chamado. Na verdade, uma homenagem a todos os sertanejos de
sua querida Poço Redondo que ele mesmo descreve assim: “Outrora, Poço Redondo
era um arruado pertencente ao vasto município de Porto da Folha. Com sua
emancipação em 25 de novembro de 1953 quase todas as fazendas nascidas nos
escondidos daquelas brenhas caatingueiras passaram a pertencer ao novo
município. Dentre elas uma fazenda chamada Pia Nova. Nos idos do cangaço o
proprietário da Pia Nova era um caboclo de “boa cepa”, “raiz de braúna”,
verdadeira “madeira de lei”, “homem atutanado”, sertanejo de “peso e
medida”, chamado Torquato José dos Santos”.
Hoje a sua
Poço Redondo está de luto fechado. E todo o Nordeste chora a sua morte. Os que
estudam, pesquisam, debatem sobre o cangaço estão entristecidos, cabisbaixos,
melancólicos pelo passagem do companheiro de tantas caminhadas.
Aqui em Paulo
Afonso, João de Souza Lima, Luiz Ruben, Gilmar Teixeira, Rubinho Lima, Galdino,
todos estamos pesarosos.
Conheci Alcino
Costa quando, a convite de Manoel Severo, participei do Cariri Cangaço no Crato
e região do Cariri cearense. Ali estive, com João de Souza e outros
pauloafonsinos pra conhecer alguns dos palestrantes que estariam em Paulo
Afonso no Seminário do Centenário de Maria Bonita que estávamos organizando,
pelo Departamento de Turismo da Prefeitura e coordenação de João de Souza Lima.
Nesses
Seminários em Paulo Afonso conhecemos melhor o grande sertanejo, escritor,
ferrenho defensor de suas descobertas sobre o tema.
Em todos os
momentos ele não conseguiu ficar quieto, fazia intervenções, observava
cuidadosamente cada orador e também falava, discutia e saía depois no abraço de
todos. Que figura!
Há alguns
meses foi intenso o cruzamento de mensagens pelos blogs, Facebook, Orkut, dando
conta de um momento delicado de sua vida quando passou muitos dias
hospitalizado em Aracaju.
Mas ele voltou
ao convívio dos amigos. Com limitações, mas voltou. Ao longo de sua vida,
recebeu muitas e merecidas homenagens. O Blog Lampião aceso, registra uma
delas: “No último seminário "Cariri-Cangaço", precisamente na
noite de palestras em Barbalha, Ceará, Ivanildo Silveira através da sua
comunidade do Orkut "Lampião Grande Rei do Cangaço", encangada com
este Blog, prestou homenagem a quatro baluartes da pesquisa e entre estes
estava o MESTRE”.
Do Blog
Lampião Aceso Alcino com Kiko Monteiro, do Blog Lampião Aceso e Rangel, no
lançamento de "Lampião em Sergipe"
Falando desta
grande perda, este blog, que tem 31 páginas sobre Alcino Costa, com textos
seus, vídeos, fotos e comentários e homenagens de amigos, mostra o quanto ele
era querido: “O Decano de Poço redondo era politico, compositor, pesquisador e
escritor de notabilidade especial com o cangaço. Estava em tratamento,
combatendo um câncer, mas seu organismo não aguentou, e ele, teve uma parada
cardíaca.
Como bem disse
o confrade Ivanildo Silveira que nos comunicou o ocorrido "Perdemos um
amigo, e os nordestinos perdem um grande escritor, uma grande figura humana, um
homem que sabia tudo do sertão, e que gostava de ser chamado de caipira".
Uma das mais
recentes homenagens ao historiador do cangaço Alcino Costa foi prestada pelo
recém criado Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará, presidido por Ângelo Osmiro.
Também o GECC,
através do seu presidente Ângelo Osmiro que, acompanhado dos membros Tomaz,
Zeca e João de Souza esteve recentemente em visita à região e na Folha
Sertaneja, se manifestou sobre a morte de Alcino: O GECC (Grupo de Estudos do
Cangaço do Ceará) lamenta informar o falecimento do confrade e amigo (Sócio
Honorário) Alcino Alves Costa. Grande companheiro de muitas jornadas em busca
de conhecimentos sobre o cangaço. Alcino passou para um plano superior no dia
de ontem. Que o grande "Decano de Poço Redondo" encontre o caminho da
luz. ANGELO OSMIRO - Presidente GECC”.
Sobre ele,
falou o documentarista Aderbal Nogueira: “Ao longo do tempo conheci várias
pessoas nessa andança em busca das histórias do cangaço. Através de Paulo
Gastão cheguei à figura de Alcino Alves, em 1997.
Unanimidade
não existe, mas Alcino se aproxima dela. Pessoa que cativa a todos que tiveram
e tem o prazer de conhecê-lo.
No último 28
de julho de 2012 estivemos mais uma vez na grota de Angico para prestar
homenagem às 12 pessoas que lá tombaram em combate. Nessa mesma ocasião fizemos
uma visita a Alcino, que encontrava-se adoentado, para prestar-lhe uma justa
homenagem a tão brilhante serviço em prol da historiografia do seu sertão natal
e, em especial, à história do cangaço”.
Sobre a morte
de Alcino, Aderbal Nogueira deixou esta mensagem: “O Brasil perdeu um grande
homem, um grande pesquisador. Os amigos perderam um irmão. Aquele que estava
sempre com um sorriso e o coração aberto para receber todos aqueles que
procuravam conhecer a história do sertão. Como ele mesmo dizia: ‘Um
caipira de Poço Redondo que amava a sua terra’. E todos aqueles que visitarem
um dia o sertão do São Francisco estarão vigiados por ele. Cuidem bem de
sua terra pois é a terra de Alcino Alves Costa”.
João de Souza
Lima, também consternado lamenta a perda: “Nós, estudiosos do cangaço, perdemos
um amigo, um professor, um mestre. O Nordeste inteiro perdeu um grande cidadão.
Perde a cultura sertaneja um dos seus grandes estudiosos”. João esteve
recentemente com Alcino que recebeu, autografado, a sua última produção “Maria
do Sertão”.
Também a
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço lamentou a perda de Alcino: “É com
pesar que comunicamos o falecimento do sócio ALCINO ALVES DA COSTA. Aos
familiares enviamos nossa palavra de conforto. A perda para nossa entidade é
muito grande, haja vista ter sempre sido um vigoroso defensor da entidade.
Lemuel Rodrigues da Silva - Presidente SBEC”
Manoel Severo,
curador do Cariri Cangaço trouxe as imagens do sertão para um texto em que
homenageia o ‘caipira de Poço Redondo’:
“Hoje o
sertão amanheceu mais triste! O galo cantou mais rouco e os pássaros, as
nhambus e as jaçanãs pareciam gorjear mais tímidos. Hoje o Sertão amanheceu
mais triste; seu poeta maior partiu. O sol nascia parecendo trazer uma só dor:
A dor daqueles que amaram, amam e sempre amarão um dos seres humanos mais
fantásticos que já pisaram o chão tórrido e sofrido da caatinga amada de todos
nós.
Vai Alcino,
vai Caipira, vai Decano, tua missão agora é no Céu, não te preocupas porque
aqui ficaremos bem; com uma saudade sem tamanho, mas com teu exemplo de amor às
coisas de nosso sertão, de amor às pessoas, de amor à vida.
Muito obrigado
querido amigo Alcino por ter nos permitido compartilhar contigo um exemplo de
vida. Todos os momentos vividos a teu lado ficam guardados no fundo do coração,
saiba que fez e fará sempre parte de nossas vidas.
Se o teu
sertão alegre chora, mas é de felicidade por poder testemunhar a grande festa
no Céu. Por lá todos estão falando e cantando:
"Hoje é
festa no Céu, chegou o Caipira de Poço Redondo, o Decano do Sertão, preparem as
alpergatas e o xaxado aprumado que o bicho vai pegar ! "
Alcino Alves
Costa faleceu na noite de ontem em Aracaju, depois de ter bravamente travado
sua última batalha contra o câncer.
A FAMÍLIA
Cariri Cangaço SE UNE A DOR DE TODA A FAMÍLIA ENLUTADA E DE TODO O SERTÃO PELA
PARTIDA DE NOSSO QUERIDO ALCINO, MAS SABE QUE SERÁ RECEBIDO NO CÉU COMO UM
MESTRE; COMO REALMENTE O FOI EM VIDA NESTE MUNDO. Manoel Severo - Curador do
Cariri Cangaço”.
Para todos
nós, o dia 2 de novembro, dia de finados, foi ainda mais triste.
João,
Ivanildo Silveira e almoço na casa do amigo Alcino.
A
Homenagem de Ivanildo e Kiko Monteiro a esse grandioso pesquisador do cangaço.
João
e Alcino em uma das últimas fotografias do escritor, visita em sua residência,
em Poço Redondo.
O
abraço e a companhia que deixa saudades.
A
presença sempre marcante.
(*) Escritor,
Pesquisador, autor de 09 livros. membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e
da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. telefones para contato:
75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br
Enviado pelo autor:João de Sousa Lima
http://www.joaodesousalima.com/
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