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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A pisada do "Rifle de Ouro" - Antonio Silvino e o Rio Grande do Norte

Por Jesus de Miúdo

Das quatro vezes que se tem notícias que o primeiro Rei do Cangaço, Antônio Silvino, perscrutou em andanças pelos vales potiguares, em duas delas passou pelas ribeiras d’Acauã, em Acari. Em ambas, não visitou a sede da cidade. Talvez ocorreram até mais, as incursões nesses solos de Poty. Mas, somente quatro estão registradas no livro do escritor Sérgio Augusto de Souza Dantas, cujo título é Antônio Silvino – O Cangaceiro, O Homem, o Mito. É fazendo a prazerosa leitura que podemos saber da fantástica e corajosa resposta que o Coronel Silvino Bezerra mandou para o Governador do Sertão, como o cangaceiro também era conhecido. Pois Antônio Silvino havia mandado o Coronel Manoel Bezerra de Araújo Galvão fazer a coleta na cidade.

O coronel encontrou-se com o senhor Cypriano Pereira e as exigências lhe foram confiadas e levadas ao conhecimento do chefe político de então. O Coronel Silvino Bezerra, não se intimidando com a fama do Capitão do Mato, outro epíteto de Antônio Silvino, mandou dizer-lhe a ordem que saísse da cidade imediatamente.

Cel. Manoel Bezerra de Araújo Galvão
(1836 -1921) IN: www.jotamaria-vicegovernadores.blogspot.com.br

Também no livro descobrimos, quase que boquiabertos, da coragem sem igual de Félix Pereira, delegado e pai do Dr. Félix Bezerra, esse último na época promotor de Acari, que se encontrando sozinho com o cangaceiro e seu bando, tendo apenas a vasta caatinga como testemunha, negou-lhe o mesmo pedido e ainda se identificou como delegado da cidade.

E foi sobre a marcha de Antônio Silvino, depois do episódio com o delegado, que vim hoje aqui para contar, já que não a encontramos no livro.

Vicente de Paula Araújo, conhecido em nosso meio como Vicente Aprígio, ou mesmo Vicente de Benedita; filho de Tereza Pires Galvão, ela filha de Antônio Pires de Albuquerque Galvão (Major Pires) e terceira esposa de Manoel Aprígio de Araújo Galvão; contou-me que por diversas vezes ouviu da boca de sua mãe a singular narrativa de fato acontecido num finalzinho de tarde do mês de novembro de 1914, no lugar chamado Carnaubinha, nesse município de Acari. Dona Tereza contava que estava o Major Pires sentado em seu alpendre, já em roupas de dormir, quando viu um morador da fazenda vizinha se aproximando com alguém desconhecido. O morador atendia pelo nome de Caboclo e, achegando-se mais, foi logo apresentando o companheiro de jornada:

- Major, esse é o Capitão Antõe Silvino.

A princípio o major pareceu sofrer um baque, ouvindo o nome do Rifle de Ouro, outro apelido do cangaceiro, ficando de olhos serrados em Caboclo, sem pestanejar e mudo. Conhecia bem a fama de facínora que o homem apresentado tinha. Estaria descrente, ou já totalmente rendido? Mesmo assim, sentenciou com voz vacilante ao morador:

- Hômi, deixe de brincadeira, Caboclo!

Então, o cangaceiro se apresentou e até brincou com o major que, a essa altura, se mostrava temeroso em demasia e tremendo muito. Garantiu-lhe que a visita era de paz e, talvez depois de algum sinal, num instante a cabroeira saiu de dentro do mato e se juntou no alpendre, fazendo o major acreditar de vez na conversa dos dois homens, contudo se acalmando.

Logo foi servido soberbo café para todos, com ovos, carne seca com farinha e os bolos que havia na casa, mais bolachas e biscoitos, além de leite e queijo de coalho. No entanto, apenas o próprio Antônio Silvino entrou na sala do major e dividiu a mesa com o mesmo, acautelando-se de sentar de frente para a porta, trocar as xícaras com o major e só iniciar a sua refeição após o dono da casa. A chusma de cabras continuou no alpendre, com suas armas reluzentes, ainda segundo Dona Tereza contava ao filho Vicente.
Satisfeita a fome de todos, o major perguntou-lhe se ainda queria alguma coisa. Já escurecendo, Antônio Silvino olhou por uma janela que dava para dentro do curral. Ali divisou um boi manso, de carroça, e pediu apenas o valor do animal. Recebeu assim 50$000 (cinqüenta mil réis).

Noite feita, o cangaceiro pediu um guia ao major. Queria alcançar a Paraíba o mais breve possível. O major designou Manoel Inácio, seu vaqueiro de confiança, e combinou que pela Estrada do Bico seria o melhor caminho. Entretanto, quando alcançaram o meio do mato, Antônio Silvino indagou ao vaqueiro guia se havia uma outra estrada, e segredou a Manoel Inácio que sentira “falsidade no abraço daquele homem”, sem dizer, porém, de quem falava.

O guia considerou o pedido e acabou levando o bando por outras veredas e assim, sem saber e sem querer, ajudou-o a desviar-se do grupo comandado pelo delegado Félix Pereira e seu filho, o promotor Félix Bezerra, que lhe esperava no lugar chamado Boqueirão, na fazenda Bico da Arara. Horas mais tarde, chegava à casa do Major Pires o senhor Francisco Elviro, irmão de Dona Tereza, vindo de sua propriedade nas adjacências da Serra do Bico da Arara, dando conta que havia sido parado pelo grupo do promotor e que, por ter sido confundido com cabra de Antônio Silvino, teve armas postas sobre ele. Dizia ter escapado por pouco.

Pág. 302 Iconografia do livro de Sérgio Dantas

Dessa fuga, que se deu pelo começo do mês de novembro de 1914, o bando atravessaria a Paraíba e entraria em Pernambuco. Ali, no dia 27 de novembro do mesmo ano, Antônio Silvino seria alvejado e preso pela polícia. Mas para saber da história com mais propriedade, o bom mesmo é comprar e ler o livro do Dr. Sérgio Dantas. Uma leitura ímpar!

Pesquei em www.acaridomeuamor.nafoto.net
http://lampiaoaceso.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo23:41:00

    Tenho um documentário no ano de 1992, relatado por Zé Correia, morador antigo da Carnaubinha, inclusive na casa onde aconteceu o fato e que hoje está em ruinas.

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