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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Hoje é o aniversário da Rádio Tapuyo de Mossoró

Por: Collins Aquino

Hoje é o aniversário da Rádio Tapuyo de Mossoró (AM 1060 KHZ, RPC - Rede Potiguar de Comunicação). Foi lá que De Assis Linhares me deu a oportunidade de começar no Rádio. E nessa emissora tive a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais como: Canindé Alves (in memoriam) na foto acima era o diretor. Ivanilda Linhares (sua esposa), Every Costa, Francisca Victor, Escossinha, Humberto Lima, Tota (todos in memoriam), Jota “B” (não sei por onde anda), Evaristo Nogueira (Evaristo), Mendonça Filho (Mendonça), Ramildo Oliveira, Edmundo Torres, Coroné Pereira, Jota Nobre, Dedé bulhões, entre outros. (bons tempos) Parabéns para todos.

Collins Aquino
Canindeh Alves, o primo Bob
Por: Lúcia Rocha 
Canindé Queiroz e Ivanilda Linhares (Neném)  eram compadres do meu pai.

Francisco Alves de Souza, passou a ser chamado de Canindé, aos cinco anos de idade, fruto de promessa da mãe que, vendo o filho perder muito peso, em consequência de febre amarela, valeu-se de São Francisco do Canindé, e jurou chamá-lo de Canindé Alves, caso vencesse a doença.
       
Tempos depois, já homem de comunicação, ele adicionou o H e assinava Canindeh. Canindeh é um raro caso de alguém que ocupou todas as funções numa emissora de rádio, ainda mais por ser autodidata. 
       
Pois bem, Canindeh Alves era um primo querido, que tinha idade de ser meu tio, pois minha mãe tinha apenas dez anos de idade quando ele nasceu. A mãe dele, Tia Maria, era a irmã mais velha da minha mãe, caçula de uma prole de dezessete filhos. Foi o segundo sobrinho de mamãe, pois ela havia sido tia aos nove, de Edmundo Alves de Assis, com atuação no rádio também, onde adotou o Assis Cabral, filho de Tia Júlia.  
       
Canindeh nasceu em 16 de agosto de 1935, em Pau dos Ferros, primogênito da costureira  Maria Alves de Souza e do vaqueiro Manuel Alves de Souza. Quando Canindeh tinha quatro anos, seus pais migraram com ele e Estelina para Mossoró, onde nasceu Osmínia e Pedro Segundo.
       
Canindeh faleceu no sábado, dia 21 de abril de 2012, enquanto dormia, aos 76 anos de idade.   
       
Canindeh, apesar de não aparentar, já havia passado por duas tragédias. Menino, viu enterrar o pai e, adulto, enterrou um filho com dois anos, Júnior.   
       
Em setembro de 2002, portanto, há dez anos, perdera a mãe e escrevi artigo para o jornal Página Certa, contando sua história de mulher e mãe de sucesso, pois ficou viúva  jovem, com quatro filhos pequenos para criar. O vaqueiro foi vítima de um acidente de trabalho, estava tangendo uma boiada, numa fazenda de Luis Paula, na Alagoinha, quando um touro saiu em disparada e, ao tentar trazê-lo de volta, entrou num matagal e foi encontrado com uma chifrada que transfixou a coxa, ficando poucos dias internado no Hospital Duarte Filho. Porém, a falta de vacinas na época contribuiu para o óbito. Canindeh ficou órfão de pai com apenas dez anos de idade e o irmão, Pedro Segundo, com alguns meses de vida. Contei naquele artigo, que Tia Maria talvez fosse a única mãe do mundo que tinha o privilégio de saber com precisão que seria visitada por um filho todo domingo. Era assim que Canindeh agia quando saía da missa pela manhã, ficava com a mãe até a hora do almoço. Fui testemunha de muitas dessas visitas. Tia Maria é a única mulher, cuja fotografia está exposta entre os heróis do episódio da invasão de Lampião em Mossoró, no Memorial da Resistência. Sua contribuição foi costurar bornais - uma espécie de bolsa a tiracolo para guardar a munição - usadas pelos defensores da cidade.  
        
Após ficar viúva, coube ao nosso avô, Pedro Alves Cabral, dar um suporte a Tia Maria e encaminhar os netos, em especial Canindeh, que pegou no pesado, literalmente, não sem antes acolher a todos em sua residência, por um tempo. Canindeh passou a trabalhar com um jumento, pegando água no rio Mossoró e abastecia a casa do avô, depois saia vendendo de casa em casa, numa Mossoró que não tinha água encanada. Para isso, acordava de madrugada. Nosso avô trouxe algumas vacas de sua fazenda no Riacho Grande e, arrumou uma casa para Tia Maria, no bairro Doze Anos, com um grande terreno, onde montaram uma vacaria, tirando dali o sustento da família.          
        
Canindeh ajudava a mãe e procurava subir na vida. Ficou sabendo através de amigo jornaleiro, a respeito de uma vaga para faxineiro no Cine Pax e passou a informação para o avô, que tinha amizade com Jorge Pinto, dono do cinema. Pedro Cabral pediu e conseguiu a vaga para o neto esforçado, então com quase quinze anos. O avô o orientou na nova atividade e pediu obediência aos superiores. De carteira assinada, o neto, que vinha de uma disciplina caseira, fruto da mãe rígida e severa, exerceu suas funções e varria todo o cinema. Um dia teve um aborrecimento e comunicou ao avô que ia sair, mas recebeu dele uma reprimenda e retornou. Então, surgiu a oportunidade de ser promovido para auxiliar de operador de cinema, dando inicio a uma trajetória de profissional autodidata.
         
Canindeh Alves, que passou a trabalhar somente na hora da exibição de filmes, mostrou interesse em atuar no serviço de amplificadora do cinema, que anunciava os filmes e, aos poucos foi conquistando confiança até que conseguiu pela boa dicção e voz, que ele creditava por ser um excelente observador das falas dos atores, já que assistia tantos filmes, em inglês, inclusive. Logo também teve uma experiência como locutor de parque de diversões nas horas de folga. Em 1955, com vinte anos de idade, começou a frequentar os corredores da emissora de rádio que acabara de ser inaugurada, a Rádio Tapuyo, onde Ivanilda Linhares, aquela que viria a ser sua esposa, era locutora e atuava no departamento comercial. A paixão pela moça o fazia dar uma passada diariamente na rádio. Sentindo-se incomodada, Ivanilda reclamou a Souza Luz, que lhe explicou: o rapaz andava lá por causa dela, era um fã. Aos poucos Canindeh foi conquistando a locutora, que se tornou sua confidente.
         
Surgiu a primeira oportunidade para Canindeh Alves numa emissora de rádio, quando a Rádio Tapuyo fez teste para locutor e ele que tremia como uma vara verde, foi aprovado. O fã passou a conviver com a musa e a história terminou em casamento, com cinco filhos, dos quais sobrevivem quatro: Neto, Ivana, Fátima e Vanusa.
        
Quando locutor da Radio Tapuyo, Canindeh Alves se mostrou um caçador de talento. Conta Oseas Lopes - o artista depois batizado de Carlos André – que pintava frases em carroceria de caminhão e cantava músicas de Luiz Gonzaga. Todo dia passava no local, Canindeh Alves, um desconhecido que o abordou certa vez. Apresentou-se, elogiou a voz de Oseas e o convidou para cantar na festa de primeiro aniversário da rádio. Mas Oseas agradeceu e disse que era apenas um pintor de carroceria. Canindeh insistiu e foi até o pai dle, seu Messias. Convenceu que o filho era um cantor nato e, assim deu-se o inicio de uma carreira de sucesso em nível nacional, pois Oseas Lopes criou com os seus irmãos, João Batista e Hermelinda, o Trio Mossoró, o sucesso na cidade foi tão grande que tiveram que se transferir com toda a família para o Rio de Janeiro e, o rapaz que dizia ser apenas um pintor, passou a ser produtor musical, tendo produzido diversos discos do rei do baião, Luiz Gonzaga. Mais do que isso, foi o responsável pela volta do velho Lula, em grande estilo, quando este viveu um período de ostracismo.
     
Canindeh Alves, de locutor-noticiarista, atuou também como locutor comercial, radioator de novelas, disc jóquei, apresentador de programa de auditório, redator, repórter político, diretor artístico, diretor geral da Rádio Tapuyo, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como locutor na Rádio Mauá e criou o programa Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, que trouxe para o rádio mossoroense.  
      
Do Rio de Janeiro, Canindeh Alves foi convocado para retornar e assumiu a direção geral da Rádio Tapuyo. Também foi nomeado  Secretário de Comunicação, da Prefeitura Municipal, à convite do então prefeito, Dix-huit Rosado. Anos depois, ao deixar o cargo, Canindeh ousou abrir a primeira agência de propaganda da cidade, a Vanusa Publicidade, atividade que acumulou em seguida quando dirigiu o departamento comercial da Rádio Libertadora. Em outra oportunidade atuou no microfone da emissora, aos domingos, com o programa Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, durante onze anos, e com o qual encerrou sua brilhante carreira, na Rádio Difusora de Mossoró. Deixou um programa inédito gravado, a ser exibido.
        
Homem extremamente caseiro, muito bem casado, pai e avô dedicado, Canindeh Alves era um sujeito sem qualquer vaidade. Ivanilda Linhares havia dito em uma entrevista que em mais de quarenta anos de casados, jamais havia tido uma briga em seu casamento. Ficara viúvo em 2008 e, se eu e mamãe visitávamos o casal sempre em nossos passeios ao final de tarde, passamos a visitá-lo aos domingos. Ele sempre prometendo retribuir essas visitas, mas quando mamãe entrava no carro, repetia que nunca vira Canindeh visitar ninguém. Pelo menos, nenhum parente. Ao contrário do seu irmão, Pedro Segundo, que mora em São Paulo. Este, quando está em Mossoró, não sai de nossa casa.
     
Humilde, Canindeh Alves quando comemorou cinquenta anos de carreira na comunicação, pediu-me alguma orientação, pois lhe faltava o conhecimento acadêmico, ele tinha apenas a faculdade da vida. Perguntei quantos livros ele havia lido sobre rádio e, para meu espanto, disse que nenhum. Emprestei-lhe alguns. Adorou e Ivana, sua filha agrônoma fazia questão de ler também.                         
       
Fora as visitas, a gente se falava quase todo domingo, no intervalo do seu programa. Não sei por quê, tanto ele como Ivanilda  me tratavam por Dona Lúia. Quando eu era criança, fomos vizinhos, na Rua Frei Miguelinho e eles insistiam em me chamar assim. Migrei para São Paulo, ele então passou a me chamar de Prima Rica e se intitulava de Primo Pobre. Sobre isso, houve um episódio engraçado. Eu estava na sala de Zilene, na TCM, quando a telefonista avisou que havia um Primo Bob querendo falar com ela. Ela, então, perguntou: “A gente tem algum primo Bob?”, falei que desconhecia. Pediu para passar a ligação, conversaram, riram e, ao final da conversa, ela perguntou o por que de anunciar ser o Primo Bob, ele explicou que falara para a telefonista que era o Primo Pobre kkkkkkkk. Foi hilário ver a reação de Zilene, que desconhecia isso. Passei a chamá-lo de Primo Bob.  
      
Não é fácil perder alguém tão próximo e tão bondoso, que só plantou o bem. Um primo que aprendeu com o nosso avô as mais brilhantes aulas de cidadania, ética, honestidade e caráter e, assim, pôde transmitir esses valores para toda a família, primeiro para os irmãos, depois primos, sobrinhos, filhos e netos, através de atitudes que só honram aos que com ele conviveram.
      
Canindeh proporcionou ao avô uma noite inesquecível para toda a família: levou para a casa do avô sertanejo e sanfoneiro, o afilhado artístico no auge da fama, Oseas Lopes que cantou e tocou sanfona.                      
      
Encerro sua história com uma frase do radialista Everton Leite, colega de emissora de rádio de Canindeh que, ao finalizar o programa antes de sair para o velório e enterro, emitiu a seguinte frase:
     
- Vá com a certeza do dever cumprido!
     
Amém, primo Bob.

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