Por: Collins Aquino
Hoje é o
aniversário da Rádio Tapuyo de Mossoró (AM 1060 KHZ, RPC - Rede Potiguar de Comunicação). Foi lá que De Assis
Linhares me deu a oportunidade de começar no Rádio. E nessa emissora tive a oportunidade de trabalhar com grandes profissionais
como: Canindé Alves (in memoriam) na foto acima era o diretor. Ivanilda
Linhares (sua esposa), Every Costa, Francisca Victor, Escossinha, Humberto Lima, Tota (todos
in memoriam), Jota “B” (não sei por onde anda), Evaristo Nogueira
(Evaristo), Mendonça Filho
(Mendonça), Ramildo Oliveira, Edmundo Torres, Coroné Pereira, Jota Nobre, Dedé
bulhões, entre outros. (bons tempos) Parabéns para todos.
Collins Aquino
Canindeh
Alves, o primo Bob
Por: Lúcia Rocha
Canindé Queiroz e Ivanilda Linhares (Neném) eram compadres do meu pai.
Francisco Alves de Souza, passou a ser chamado de Canindé,
aos cinco anos de idade, fruto de promessa da mãe que, vendo o filho perder
muito peso, em consequência de febre amarela, valeu-se de São Francisco do
Canindé, e jurou chamá-lo de Canindé Alves, caso vencesse a doença.
Tempos depois, já homem de comunicação, ele adicionou o H e assinava Canindeh.
Canindeh é um raro caso de alguém que ocupou todas as funções numa emissora de
rádio, ainda mais por ser autodidata.
Pois bem, Canindeh Alves era um primo querido, que tinha idade de ser meu tio,
pois minha mãe tinha apenas dez anos de idade quando ele nasceu. A mãe dele,
Tia Maria, era a irmã mais velha da minha mãe, caçula de uma prole de dezessete
filhos. Foi o segundo sobrinho de mamãe, pois ela havia sido tia aos nove, de
Edmundo Alves de Assis, com atuação no rádio também, onde adotou o Assis
Cabral, filho de Tia Júlia.
Canindeh nasceu em 16 de agosto de 1935, em Pau dos Ferros, primogênito da
costureira Maria Alves de Souza e do vaqueiro Manuel Alves de Souza.
Quando Canindeh tinha quatro anos, seus pais migraram com ele e Estelina para
Mossoró, onde nasceu Osmínia e Pedro Segundo.
Canindeh faleceu no sábado, dia 21 de abril de 2012, enquanto
dormia, aos 76 anos de idade.
Canindeh, apesar de não aparentar, já havia passado por duas tragédias. Menino,
viu enterrar o pai e, adulto, enterrou um filho com dois anos,
Júnior.
Em setembro de 2002, portanto, há dez anos, perdera a mãe e escrevi artigo para
o jornal Página Certa, contando sua história de mulher e mãe de sucesso, pois
ficou viúva jovem, com quatro filhos pequenos para criar. O vaqueiro foi
vítima de um acidente de trabalho, estava tangendo uma boiada, numa fazenda de
Luis Paula, na Alagoinha, quando um touro saiu em disparada e, ao tentar
trazê-lo de volta, entrou num matagal e foi encontrado com uma chifrada que
transfixou a coxa, ficando poucos dias internado no Hospital Duarte Filho.
Porém, a falta de vacinas na época contribuiu para o óbito. Canindeh ficou
órfão de pai com apenas dez anos de idade e o irmão, Pedro Segundo, com alguns
meses de vida. Contei naquele artigo, que Tia Maria talvez fosse a única mãe do
mundo que tinha o privilégio de saber com precisão que seria visitada por um
filho todo domingo. Era assim que Canindeh agia quando saía da missa pela
manhã, ficava com a mãe até a hora do almoço. Fui testemunha de muitas dessas
visitas. Tia Maria é a única mulher, cuja fotografia está exposta entre os
heróis do episódio da invasão de Lampião em Mossoró, no Memorial da
Resistência. Sua contribuição foi costurar bornais - uma espécie de bolsa a
tiracolo para guardar a munição - usadas pelos defensores da cidade.
Após ficar viúva, coube ao nosso avô, Pedro Alves Cabral, dar um suporte a Tia
Maria e encaminhar os netos, em especial Canindeh, que pegou no pesado,
literalmente, não sem antes acolher a todos em sua residência, por um tempo.
Canindeh passou a trabalhar com um jumento, pegando água no rio Mossoró e
abastecia a casa do avô, depois saia vendendo de casa em casa, numa Mossoró que
não tinha água encanada. Para isso, acordava de madrugada. Nosso avô trouxe
algumas vacas de sua fazenda no Riacho Grande e, arrumou uma casa para Tia
Maria, no bairro Doze Anos, com um grande terreno, onde montaram uma vacaria,
tirando dali o sustento da família.
Canindeh ajudava a mãe e procurava subir na vida. Ficou sabendo através de
amigo jornaleiro, a respeito de uma vaga para faxineiro no Cine Pax e passou a
informação para o avô, que tinha amizade com Jorge Pinto, dono do cinema. Pedro
Cabral pediu e conseguiu a vaga para o neto esforçado, então com quase quinze
anos. O avô o orientou na nova atividade e pediu obediência aos superiores. De
carteira assinada, o neto, que vinha de uma disciplina caseira, fruto da mãe
rígida e severa, exerceu suas funções e varria todo o cinema. Um dia teve um
aborrecimento e comunicou ao avô que ia sair, mas recebeu dele uma reprimenda e
retornou. Então, surgiu a oportunidade de ser promovido para auxiliar de
operador de cinema, dando inicio a uma trajetória de profissional autodidata.
Canindeh Alves, que passou a trabalhar somente na hora da exibição de filmes,
mostrou interesse em atuar no serviço de amplificadora do cinema, que anunciava
os filmes e, aos poucos foi conquistando confiança até que conseguiu pela boa
dicção e voz, que ele creditava por ser um excelente observador das falas dos
atores, já que assistia tantos filmes, em inglês, inclusive. Logo também teve
uma experiência como locutor de parque de diversões nas horas de folga. Em
1955, com vinte anos de idade, começou a frequentar os corredores da emissora
de rádio que acabara de ser inaugurada, a Rádio Tapuyo, onde Ivanilda Linhares,
aquela que viria a ser sua esposa, era locutora e atuava no departamento
comercial. A paixão pela moça o fazia dar uma passada diariamente na rádio.
Sentindo-se incomodada, Ivanilda reclamou a Souza Luz, que lhe explicou: o
rapaz andava lá por causa dela, era um fã. Aos poucos Canindeh foi conquistando
a locutora, que se tornou sua confidente.
Surgiu a primeira oportunidade para Canindeh Alves numa emissora de rádio,
quando a Rádio Tapuyo fez teste para locutor e ele que tremia como uma vara
verde, foi aprovado. O fã passou a conviver com a musa e a história terminou em
casamento, com cinco filhos, dos quais sobrevivem quatro: Neto, Ivana, Fátima e
Vanusa.
Quando locutor da Radio Tapuyo, Canindeh Alves se mostrou um caçador de
talento. Conta Oseas Lopes - o artista depois batizado de Carlos André – que
pintava frases em carroceria de caminhão e cantava músicas de Luiz Gonzaga.
Todo dia passava no local, Canindeh Alves, um desconhecido que o abordou certa
vez. Apresentou-se, elogiou a voz de Oseas e o convidou para cantar na festa de
primeiro aniversário da rádio. Mas Oseas agradeceu e disse que era apenas um
pintor de carroceria. Canindeh insistiu e foi até o pai dle, seu Messias.
Convenceu que o filho era um cantor nato e, assim deu-se o inicio de uma
carreira de sucesso em nível nacional, pois Oseas Lopes criou com os seus
irmãos, João Batista e Hermelinda, o Trio Mossoró, o sucesso na cidade foi tão
grande que tiveram que se transferir com toda a família para o Rio de Janeiro
e, o rapaz que dizia ser apenas um pintor, passou a ser produtor musical, tendo
produzido diversos discos do rei do baião, Luiz Gonzaga. Mais do que isso, foi
o responsável pela volta do velho Lula, em grande estilo, quando este viveu um
período de ostracismo.
Canindeh Alves, de locutor-noticiarista, atuou também como locutor
comercial, radioator de novelas, disc jóquei, apresentador de programa de
auditório, redator, repórter político, diretor artístico, diretor geral da
Rádio Tapuyo, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde atuou como locutor na Rádio
Mauá e criou o programa Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, que trouxe para o
rádio mossoroense.
Do Rio de Janeiro, Canindeh Alves foi convocado para retornar e assumiu a
direção geral da Rádio Tapuyo. Também foi nomeado Secretário de Comunicação,
da Prefeitura Municipal, à convite do então prefeito, Dix-huit Rosado. Anos
depois, ao deixar o cargo, Canindeh ousou abrir a primeira agência de
propaganda da cidade, a Vanusa Publicidade, atividade que acumulou em seguida
quando dirigiu o departamento comercial da Rádio Libertadora. Em outra
oportunidade atuou no microfone da emissora, aos domingos, com o programa
Chapéu de Couro, Chapéu de Palha, durante onze anos, e com o qual encerrou sua
brilhante carreira, na Rádio Difusora de Mossoró. Deixou um programa inédito
gravado, a ser exibido.
Homem extremamente caseiro, muito bem casado, pai e avô dedicado,
Canindeh Alves era um sujeito sem qualquer vaidade. Ivanilda Linhares havia
dito em uma entrevista que em mais de quarenta anos de casados, jamais havia
tido uma briga em seu casamento. Ficara viúvo em 2008 e, se eu e mamãe
visitávamos o casal sempre em nossos passeios ao final de tarde, passamos
a visitá-lo aos domingos. Ele sempre prometendo retribuir essas visitas, mas
quando mamãe entrava no carro, repetia que nunca vira Canindeh visitar ninguém.
Pelo menos, nenhum parente. Ao contrário do seu irmão, Pedro Segundo, que mora
em São Paulo. Este, quando está em Mossoró, não sai de nossa casa.
Humilde, Canindeh Alves quando comemorou cinquenta anos de carreira na
comunicação, pediu-me alguma orientação, pois lhe faltava o conhecimento
acadêmico, ele tinha apenas a faculdade da vida. Perguntei quantos livros ele
havia lido sobre rádio e, para meu espanto, disse que nenhum. Emprestei-lhe alguns.
Adorou e Ivana, sua filha agrônoma fazia questão de ler também.
Fora as visitas, a gente se falava quase todo domingo, no intervalo do
seu programa. Não sei por quê, tanto ele como Ivanilda me tratavam por
Dona Lúia. Quando eu era criança, fomos vizinhos, na Rua Frei Miguelinho e eles
insistiam em me chamar assim. Migrei para São Paulo, ele então passou a me
chamar de Prima Rica e se intitulava de Primo Pobre. Sobre isso, houve um
episódio engraçado. Eu estava na sala de Zilene, na TCM, quando a telefonista
avisou que havia um Primo Bob querendo falar com ela. Ela, então, perguntou: “A
gente tem algum primo Bob?”, falei que desconhecia. Pediu para passar a
ligação, conversaram, riram e, ao final da conversa, ela perguntou o por que de
anunciar ser o Primo Bob, ele explicou que falara para a telefonista que era o
Primo Pobre kkkkkkkk. Foi hilário ver a reação de Zilene, que desconhecia isso.
Passei a chamá-lo de Primo Bob.
Não é fácil perder alguém tão próximo e tão bondoso, que só plantou o bem. Um
primo que aprendeu com o nosso avô as mais brilhantes aulas de cidadania,
ética, honestidade e caráter e, assim, pôde transmitir esses valores para toda
a família, primeiro para os irmãos, depois primos, sobrinhos, filhos e netos,
através de atitudes que só honram aos que com ele conviveram.
Canindeh proporcionou ao avô uma noite inesquecível para toda a família: levou
para a casa do avô sertanejo e sanfoneiro, o afilhado artístico no auge da
fama, Oseas Lopes que cantou e tocou sanfona.
Encerro sua história com uma frase do radialista Everton Leite, colega de
emissora de rádio de Canindeh que, ao finalizar o programa antes de sair para o
velório e enterro, emitiu a seguinte frase:
- Vá com a certeza do dever cumprido!
Amém, primo Bob.
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