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domingo, 28 de julho de 2013

ONDE SOU IMPORTANTE (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

É em Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo, ou simplesmente Poço Redondo, onde sou verdadeiramente importante. Não porque eu seja diferente de qualquer pessoa, seja mais respeitado que qualquer cidadão. Pelo contrário. Minha importância está na igualdade com todo mundo.

Porque sou igual a todo e qualquer conterrâneo é que me sinto no direito de ser reconhecido e respeitado, ser visto e valorizado. Porque também respeito e valorizo. Daí o reconhecimento de minha importância diante daqueles que não se diferenciam uns dos outros. Queiram ou não, são todos iguais. Desejemos ou não, somos em tudo semelhantes.

Porque somos o espelho do espelho do espelho. Reflexo que vem de outros tempos e que nos faz com a mesma feição. Apenas a moldura parece ter outra aparência para um retrato que é sempre o mesmo. E colocado na parede única desse imenso sertão.


Sou filho do mesmo sol e da mesma lua; prole da mesma distância e da mesma imensidão; gênese do mesmo destino dado por Deus aos outros que vieram antes ou depois de mim. Por isso sou eu, sou todos e cada um. E não há condição social que possa fazer distinção entre aqueles que vieram do mesmo cordão umbilical da terra sertaneja.

E a igualdade em tudo. Filhos da mesma terra, nascidos no mesmo berço árido do sertão, aprendendo a caminhar pelo mesmo chão. Pele curtida do mesmo sol, sangue fervente da mesma seca, esperança própria de qualquer sertanejo. E mais: Irmãos de mesmo destino, pois tudo que há na - e com - a terra é ressentido igualmente pelos seus filhos.

Tenho uma gravata e também um chapéu de couro; tenho um sapato e uma chinela de cortar chão; tenho uma agenda, mas também tenho um embornal de caçador e um cantil de matar a sede. E o que não tenho, possuo no meu conterrâneo, pois nele o que lhe é próprio e também de todos. Assim, o que sou é pelo que somos, e o tudo que somos está em cada um e todos nós.

Por isso sou tão importante. E sou ainda mais importante porque possuo reinado e coroa. Não troco minha cabeça-de-frade pelo cetro mais reluzente; não troco meu rincão de nascimento pelo castelo encantado; não troco minha condição sertaneja por qualquer paraíso artificial. Porque sou importante e feliz demais para me deixar viver além do que sou e daquilo que tenho.

Alguém duvida dessa importância? Haverá importância, reconhecimento e valorização maiores que sentir que a sua terra lhe abraça, a sua natureza abriga, o seu povo acolhe com palavra e afeto? Haverá maior satisfação que estar entre a família e o irmão? Tudo isso transmite uma importância tamanha que nos sentimos escolhidos a reinar sobre a terra.

Triste daquele que se amesquinha diante da grandiosidade; pobre daquele que lamenta o tanto ter como se pouco ou nada tivesse; frágil espírito imaginar que está ou vive esquecido quando seu coração clama por gritar de prazer pelo reconhecimento da vida. E tal tristeza, pobreza ou fragilidade não há naquele que se reconhece importante pelo que é, e sem ter de inventar o que não é para ser feliz.


Meu sobrenome está em tantos sobrenomes espalhados por todo lugar. Desde o Poço de Cima ao Poço de Baixo, pelos seus quadrantes e fronteiras. Alves que também é Marques, Cirilo, Florêncio, Sousa, Firmino, Santos, Rosa, Gomes. Costa que também é Santana, Vieira, Góis, Brito, Félix, Vítor, Saturnino. E todos os nomes e sobrenomes sertanejos.

Cito um trecho de um belíssimo poema de Fernando Pessoa (sob heterônimo de Alberto Caeiro) que expressa essa medida que temos perante o que somos. Diz:

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo.../ Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer/ Porque eu sou do tamanho do que vejo/ E não do tamanho da minha altura...”.
E como somos imensos!

Poeta e cronista
http://blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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