Por: Rangel Alves
da Costa*
Inegavelmente
que o amor é um dos mais belos sentimentos existentes no âmago do ser humano. O
simples ato de amar já torna a pessoa mais meiga, branda, terna, ornada de
contentamento e felicidade. Enquanto sentimento íntimo, o amor humaniza o ser,
torna-o compreensivo e compartilhador; enquanto sentimento amoroso, a outro
devotado de coração, torna a pessoa esperançosa e tomada de possibilidades boas
na vida.
Desse modo,
jamais há que se negar a importância do amor na vida de uma pessoa. Somente
através deste sentimento afetuoso, somente por meio da sensação de revelar-se
através de uma luz no coração, somente na certeza da felicidade existente, a
pessoa se torna capaz de enfrentar os desafios e não se deixar abater por
míseros problemas tão impeditivos de realizações.
Para muitos o
amor é tudo; para outros o amor é a maior expressão que possa existir num ser;
para outros, o ato de amar significa acobertar-se do bem contra todo mal e
negatividade. Seja como for, verdade é que o amor, ou a busca de sua verdade, é
o desejo mais almejado entre os racionais. Viver sem amor, muitos dizem, é
conviver com a escuridão e o sofrimento.
Contudo, a
primazia do amor não lhe afasta das críticas, das considerações negativas, das
muitas inconveniências originadas em seu nome. Já que o amor é tudo, dizem,
então seria também tudo aquilo que em seu nome é praticado. Daí ser o gume
afiado de muitos males. E certamente muito se pratica com a pecha amorosa e
mais tarde é revelado como graves problemas a ser resolvidos.
Pois o amor,
segundo também afirmam, é sentimento envolto de tamanha força que tem o dom de
cegar, de tirar completamente a razão da pessoa, de deixá-la à mercê das
ilusões e das fantasias, até mesmo as mais absurdas. Em tal estágio, agindo
assim perante o indivíduo, eis que o amor acaba se transformando numa
verdadeira armadilha, num abismo por onde se caminha sem saber.
Não que se
revele no amor uma infinidade de tragédias, mas não se pode deixar de
reconhecer algumas reconhecidas inconveniências, ou mesmo absurdos praticados e
vivenciados em seu nome. Ora, todos sabem que o amor desmedido, afetando a
mente a ponto de fragilizá-la, é arma perigosa demais para ser carregada ou
manejada. As consequências, pois, do amor doentio, são as mais devastadoras
possíveis.
Até que se
poderia afirmar que não se pode ter como amor a expressão doentia em seu nome.
Não se deve esquecer, contudo, que tudo nasce exatamente da doce e maravilhosa
inocência desse sentimento maior. É a forma como ele vai se exteriorizando,
ganhando força e se apoderando do ser que poderá transformá-lo numa arma fria e
cruel. E até mortal.
Não são poucas
as notícias dando conta das atrocidades cometidas tendo o amor - ou a paixão
desenfreada, como estágio amoroso irracional - como elemento ou força
propulsora de desvarios e aberrações. O noticiário sensacionalista diz que
alguém matou por amor; a manchete estampa que a paixão provocou mais uma
tragédia; as delegacias estão repletas dando conta de ocorrências envolvendo
ciúmes.
Mas não só de
sangue vive tal inversão amorosa. Ora, mesmo em situações rotineiras, sem
violências ou agressões, o amor é causador de males reconhecidamente profundos.
O fato de ser abandonado por alguém que tanta ama se constitui num exemplo
clássico de indescritível sofrimento. Até mesmo as brigas corriqueiras e as
separações rotineiras acabam se tornando em instantes tortuosos. Sem falar na
saudade, na tristeza da recordação, na dor da espera, na crueldade do
pensamento martelando o nome e a feição.
Talvez seja
pelo dom de açular intensamente os extremos, ou o amor amado e correspondido e
também o amor doloroso e violento, é que tal sentimento se torna único e tão
instigante. Contudo, mesmo que mais tarde desande e se revele em obsessão
doentia, a verdade é que nasce sublime e esperançoso. E porque surge assim, tão
doce e encantador, que toda pessoa quer amar.
Querer amar,
eis o sonho maior; encontrar um amor, eis uma possível realidade. Daí em diante
é que os campos floridos se estendem em meios a pedras e espinhos. Felizes
aqueles que conseguem vencer os desafios e seguir cada vez mais distantes. E
ainda de braços dados.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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