Por: Ormus Simonetti
Sou um
genealogista – mas acalmem-se, pois não é contagioso. No fundo, a gente queria
que fosse, mas não é. Um genealogista é um sujeito que resolve desenterrar toda
a história familiar para descobrir quem eram e o que faziam os seus
antepassados mais remotos. Um doido, portanto. Para conseguir isso, ele mexe em
todos os papéis velhos da família – aqueles que você acha que não valem nada,
mas que ele dará um grito de satisfação quando encontrar. Fará perguntas
insistentes a cada membro da família.
Quer saber os
mínimos detalhes de coisas que você com certeza não se lembra. É capaz de
passar horas metido em um cartório, casa paroquial ou arquivo histórico
remexendo livros velhos, amarelados e cheio de fungos. Isso porque ele PRECISA
esclarecer algum mistério na história da sua família e assim descobrir quem
foram realmente as pessoas que o antecederam.
Esta é uma
imagem digna de nota: o genealogista, em uma sala silenciosa, absolutamente
concentrado em sua pesquisa. Eis que de repente ele vislumbra um registro e
pensa: “Será possível?”. Excitado, confere de novo. Sim, ele achou exatamente
aquilo que procurava. É nesse momento que todos os genealogistas têm vontade de
gritar a plenos pulmões “ACHEI, ACHEI! EUREKA!” – muitos se contém, mas é
exatamente isso o que ele murmuram para si mesmos. E se alguém estiver perto e
quiser saber o que o sujeito descobriu, provavelmente vai se decepcionar ao ver
que foi apenas um registro de casamento super antigo que deu a ele o nome de
quatro novos octavós ou coisa do tipo.
Aos poucos, o
genealogista vai montando a sua árvore genealógica. Descobre antepassados que
ninguém da sua família fazia a menor ideia que tivesse. No começo, ele conta as
suas descobertas com entusiasmo. Alguns parentes demonstram certo interesse – e
em seguida esquecem absolutamente tudo o que o genealogista disse.
Para uma
pessoa normal, qualquer coisa acontecida há cem anos foi praticamente na
pré-história. E então o genealogista despeja em cima dela informações de 1800,
1700, 1600… É quando vem a famosa frase, que todo genealogista um dia ouve:
“Você vai acabar chegando no Adão!”.
Com o tempo, o
genealogista percebe que sua paixão é solitária. Não há registro de um casal de
genealogistas, por exemplo. E seria até temário pensar em algo assim, pois eles
certamente se esqueceriam de viver. Em geral, o genealogista não encontra no
dia a dia quem lhe compreenda. Há parentes distantes que acham estranho esse
interesse pelo passado da família e insinuam que o genealogista está de olho em
alguma herança. Felizmente há a internet, e nela o genealogista encontra outros
genealogistas, e eles se juntam em grupos de cooperação mútua, mais ou menos
como os alcoólicos. Nessa troca de informações, conseguem verdadeiros
prodígios, e se não chegam mesmo até o Adão não é por falta de esforço.
Os nossos
Sherlocks ainda precisam lidar com garranchos, registros omissos ou
contraditórios entre si, além de dificuldades no acesso a documentos.
Parafraseando Einstein: perto do que foi o passado, aquilo que o genealogista
consegue descobrir é algo de tosco e primitivo – mas é também aquilo que temos
de mais precioso sobre ele.
Fonte:
Fonte:
http://www.ormuzsimonetti.blogspot.com.br/2013/04/vida-de-genealogista_5419.html
Enviado pelo pesquisador José Edilsol de Albuqurque Guimarães Segundo
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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