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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Itapuá de minha infância



Por: Francisco de Paula Melo Aguiar
 
Academia de Letras do Brasil
http://www.academialetrasbrasil.org.br/artfranaguiar.htm
Academia Paraibana de Poesia

Na última semana visitei os escombros do Engenho Itapuá, localizado a margem direita de quem desce e a margem esquerda de quem sobe o Rio Paraíba no sentido João Pessoa x sertão paraibano. Estive na antiga Escola Elementar Mista do Engenho Itapuá, onde no período de 1958 a 1962 estudei o antigo curso primário, naquela época a referida escola era administrada pela diretora e professora Beatriz Lopes Pereira, a popular "BIÁ", tendo como professoras auxiliares Maria do Céu (parenta dela) e Regina. Naquele tempo, a citada escola servia de "modelo" pedagógico e educacional para a juventude rural da localidade e dos engenhos, fazendas e sítios circunvizinhos. Lembrei-me de que aqui estudou e não leu o pau comeu, a palmatória falava no centro para os alunos que não davam a lição. Era o meu caso e do mano José, pois, nós morávamos com nossos pais Sebastião José de Aguiar (Sebastião Vieira) e Maria do Carmo Melo Aguiar, em um sítio da propriedade deles, denominado Pajuçara, encravado hoje nas terras dos assentamentos de reforma agrária de Maraú. Vale lembrar que meu pai vendeu o sitio no inicio dos problemas de invasões de terras no vale do Paraíba. Bem, lá no Itapuá, voltei a visitar a igreja onde em 11 de novembro de 1958 fiz minha primeira comunhão administrada pelo Padre Manuel Gomes, da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar/Pb. Avistei na parte interna da referida igrejinha o túmulo de Henrique Vieira de Melo, que data de 1925 seu falecimento, e a modesta sepultura de Maria Lins Vieira de Melo, trata-se da figura honrada e histórica de "Maria Menina" do livro Menino de Engenho, escrito por seu sobrinho José Lins do Rego Cavalcanti. Os santinhos da igreja da época de minha primeira comunhão já não são os mesmos, pois, os meus olhos viam no passado eles tão bonitinhos... e hoje avistei-os tão feinhos..., sujos, cheios de teias de aranha, sem brilho, casas de maribondos por todos os lados... o madeiramento e telhado da secular igreja que já serviu a mim para fazer a primeira comunhão e assistir missas com meus pais, meus irmãos, meus amigos, meus professores e meus parentes um dia, agora encontra-se ameaçado e prestes a ruínas. Nada posso fazer, pois, trata-se de propriedade privada e pertencente a terceiros. A minha memória lembrou também o apito do trem da Rede Ferroviária Federal, procurei a "parada" ou seja a "estação do trem do Itapuá", a mesma foi derrubada, nem a história para contar, apenas existem as marcas dos alicerceres que sobraram, enquanto os trilhos, uma espécie de dois irmãos sem interação social de qualquer espécie, continuam como que desfilando em sua frente e ainda passam trens de cargas com destino ao Recife e ao interior da Paraíba, isto de vez em quando, segundo me informou moradores do assentamento da reforma agrária lá existentes. É, os tempos são outros, os novos moradores das terras do Itapuá, precisam saber que no dia 28 de dezembro de 1983 foi inaugurada com trilhos a E. F. Conde D'Eu (1883-1901), que mudou o nome para Great Western (1901-1950); Rede Ferroviária do Nordeste (1950-1975); e chamou-se de RFFSA (1975-1997). Na verdade a linha está ativa até hoje sob o controle da CFN, que obteve a concessão da malha Nordeste em 1996, mas trens de passageiros não circulam mais por essa linha desde os anos 1980, motivo pelo qual a população que reside atualmente na região nada sabe a respeito do progresso que já existiu em tais localidades, a exemplo do Itapuá/São Miguel de Taipu/Pb e outras áreas do vale do Paraíba, pois, somente lendo a obra literária de José Lins do Rego, será possível remontar o tempo na história.
                     
Estive na casa grande do Itapuá, a mesma encontra-se em estado deplorável em relação de como a mesma era nos idos anos de 1960, nem parece que um dia a referida edificação serviu de palco para a filmagem das senas do filme MENINO DE ENGENHO, além de ter servido como uma das casas grandes que serviu de inspiração a Zé Lins do Rego na primeira metade do século XX para escrever o próprio romance de igual nome. Vale ressaltar que na frente da casa grande do Itapuá ainda encontra-se botando frutos, o pé de tamarindo de minha infância, sinal de algum tipo de vida, embora que vegetal.
                    
Em seguida procurei adentrar nos escombros do engenho Itapuá, verifiquei que lá não existe mais a fonte de água encanada no pátio do referido engenho, o casarão que cobria as instalações e máquinas encontra-se totalmente nos escombros. O bueiro encontra-se em pé, porém, sua constituição aos poucos caindo como lã de algodão que passa do ponto de ser apanhado. Na verdade a força do vento aos poucos está destruindo tudo... A casa do cinema do Itapuá como era chamada, encontra-se igualmente em ruínas. A casa do administrador e o pomar, também o tempo acabou. O cemitério localizado aos fundos da igreja do Itapuá, também em ruínas, seus muros já estão tropos como se estivessem tomado uma carraspana de cachaça de cabeça, inclusive nota-se que continuam lá dormindo em paz, os falecidos parentes e aderentes dos seus ex-proprietários. O prédio do barracão é o único imóvel que parece ainda boas condições. O secador de açúcar, localizado entre o engenho, o barracão e a igreja, não existe mais.
 
O palacete malassombrado do coronel “Sulino”, para uns, ou “Ursulino”, para outros, dono do Itapuá, na época da escravidão negra brasileira, que existia na minha infância entre o chafariz de água e o prédio da escola onde eu estudava, só tem parte do alicerce, foi totalmente derrubado e com ele lá se foi parte da história da escravidão na Paraíba, e até porque alguém já afirmou que o povo brasileiro tem memória curta.
Não tive noticias da negra Maria Brum e de seus descendentes, na verdade o Itapuá de minha infância escolar já não existe mais.

Fonte:
http://www.academialetrasbrasil.org.br/membfranaquiaritapua.htm
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4529225

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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