Por Antonio José
de Oliveira
A nossa trajetória no Planeta Terra obedece as leis de DEUS, as leis dos homens e as leis naturais. Nascemos, crescemos e morremos, na linguagem dos terráqueos, logo que, quem morre, morre apenas a matéria.
Perdoe-me se para relatar a história do BODE GORDO DO JAIME, vou precisar contar parte da minha história. Talvez você não queira nem ouvi-la, mas...
O SER humano nasce bonitinho que é uma beleza, quase sempre cheio de saúde e muita alegria, mesmo chorando por ter que vir a este mundo deformado da sua forma original. Aqui é diferente do útero materno. Recebeu o ar deste nosso Planeta, tem mesmo que chorar. Vai crescendo e, queira ou não terá que acostumar com as adversidades da vida. É assim que somos nós, pobres mortais!
Aos vinte anos o jovem pega touro pelo chifre e abraça leão selvagem. Aos trinta continua com o mesmo potencial. Aos quarenta ainda pode se ufanar que está cheio de força. Depois dos cinquenta – portanto, passado meio século de vida -, não acredito que ele seja o mesmo dos vinte, dos trinta e dos quarenta. Devo compará-lo a uma máquina. Diríamos: a um motor de desfibrar sisal (que é um instrumento que eu bem conheço, pois nele trabalhei). Um motor novinho quando sai da fábrica e entra em ação num campo de sisal, é só lucro para seu proprietário. Mas, o tempo passa; o motor vai se desgastando; peças sendo trocadas, e é só prejuízo para quem antes teve lucro. E assim acontece com o homem. Sei perfeitamente porque comigo vem acontecendo.
Veja só: Ao completar meus (mais ou menos bem vividos) setenta anos, mesmo sem nenhum sintoma, consultei-me com um cardiologista, que prescreveu uma série de exames antes da prescrição dos medicamentos. Nem vou relacionar os nomes dos exames, pois foram muitos.
Muito bem! Após exames realizados, foram detectadas as seguintes anomalias: Nódulo na tireoide, em que, após novo exame foi constatado não sê-lo maligno, e sim benigno. Placa calcificada na artéria aorta e outra na artéria carótida. Bom sinal, não é?!
Veja você: Nada disso eu tinha conhecimento, pois não havia e nem há nenhum sintoma que me alertasse para tomar as devidas providências. Foi apenas num check-up (checap) rotineiro onde tudo isso foi detectado.
Mas, eis o que interessa: Em meio a remédios, dieta e outras orientações, o médico cardiologista me direcionou ao exercício do anda-anda. Teria que fazer caminhada de sessenta minutos em dias alternados. Nunca fui chegado a disciplina de caminhadas, mas, ordem médica é como ordem da Justiça, é preciso ser cumprida para a situação não se agravar.
Passei a andar seis quilômetros, dia sim, dia não, numa estrada deserta onde só ouvia o “canto” dos grilos e nada mais, onde as poucas casas existentes são abandonadas -, coisa dos nossos sertões.
Não gostei, pois não via gente! Mudei a trajetória para uma estrada de casas habitadas. Aí a coisa “pegou”! Os cachorros, sem me conhecerem, danaram a pular muros e cercas no desejo de uma boa mordida.
Que fazer agora? Por uma estrada, não havia cachorro, mas o silêncio me apavorava. Por outra estrada a cachorrada não me deixava sossegar. Parar o exercício da caminhada, onde contemplo a vegetação deixada por um chuvoso inverno, tremulando os galhos verdes às margens da estrada, não queria e nem podia. Mandar os donos prender os cachorros, iria criar inimizade e, inimizade não é do meu feitio. Tive uma ideia: Arrumar um cipó-caboclo para no mínimo fazer medo aos referidos cães.
E agora, se no nosso sertão eu não conhecia essa planta?
Consultei três famosos vaqueiros, profundos conhecedores das matas litorâneas e das caatingas sertanejas. Homens que nos velhos tempos, cada um derrubava dois nelores de trinta arrobas de um só sopapo. Caía um nelore por cima do outro, e quem sabe -, o cavalo também caía “abraçado” com os touros. Homens danados de valentes. Até parece que foram treinados por
Virgulino Ferreira da Silva nas terras de Serra Talhada, onde o Rei do cangaço amansava seus burros de estimação nos idos anos de 1913 a 1918 aproximadamente.
Eis os nomes desses meus conterrâneos que continuam vivendo próximo a mim, e queira ou não, tenho que vê-los todos os dias, pois é a estrada da minha forçada trajetória de seis quilômetros: Edvaldo Ferreira, filho de um cidadão que segundo ele, teve oitenta filhos; Francisco Arcanjo da Silva, e Jaime Virgínio, que teve como herança do velho pai Juvenal Araújo, a estrondosa coragem de mergulhar caatinga fechada por jurema, calumbi e rabo-de-raposa, em busca das boiadas que estouravas na Estrada Imperial que cortava a Serra de São Caetano com destino à feira do gado em Feira de Santana, nas terras de São José das Itapororocas.
Voltando ao âmago da história, quanto à consulta efetuada aos três grandes conhecedores das plantas das caatingas e das florestas, o cidadão Francisco Arcanjo me informou que eu teria que mergulhar nas terras do Recôncavo Baiano se quisesse adquirir o famoso cipó-caboclo, uma vez que as nossas caatingas sertanejas não produzem tal planta. O Edvaldo Ferreira – embora tenha me animado a procurar num bazar estabelecido em nossa cidade - informou-me que, de outra maneira eu teria que ir às terras de Maracangalha, no Litoral da Bahia onde há em abundância o referido produto. Com a possibilidade de encontrar o desejado cipó-caboclo em um bazar da minha terra, comecei a me animar um pouco. Por último, e já de forças esgotadas quando me lembrava dos danados dos cachorros ferozes, procurei o Jaime Virgínio, para ele, com sua experiência de profissional das matas me informar o local bem indicado onde eu pudesse adquirir o tão desejado e necessário instrumento de medo, ou até de castigo, conforme a exigência do momento. A sua resposta desanimadora foi que eu teria que tomar um ônibus, ir a Salvador para tomar outro ônibus com destino às terras litorâneas de Monte Gordo, aonde ele, nos idos dos anos da Segunda Guerra Mundial esteve rodeado de moitas e mais moitas de toda espécie de cipó, inclusive o tão procurado instrumento de disciplina – cipó-caboclo.
Já pensou caro leitor, para adquirir uma pequena vareta do tamanho de um metro, precisar ir a Maracangalha ou a Monte Gordo, ou talvez percorrer todo o resto do Recôncavo, seria mesmo uma empreitada pra louco ou desocupado. Talvez eu não seja tão desocupado, nem esteja precisando de Psiquiatra. Assim, abandonei parte das sugestões e fiz uma visita ao indicado BAZAR. Não deu outra: encontrei o tão procurado instrumento com a maior facilidade possível, inclusive com direito a escolher o que melhor se adaptasse a função desejada. Comprei, paguei e fiquei plenamente feliz, porém faltava saber como preparar o referido cipó para ele ficar macio e durar enquanto eu viver. Foi aí que precisei retornar ao Jaime para ele me ensinar o processo que eu teria que usar para o amaciamento do instrumento que não seria de tortura, e sim da aplicação de uma boa disciplina.
Aí é que está a conclusão da história: Jaime me entregou um pedaço de sebo de um bode, que na minha conjectura deveria ser da idade dos dinossauros que viveram a milhões de anos nas terras da nossa América. Quando lhe fiz a abordagem da provável idade daquele material, respondeu-me que se eu quisesse melhor, comprasse um bode gordo, entregasse para ele abatê-lo -, entregar-me-ia o sebo, e a carne ficaria com quem tratou o bode, como recompensa pelo trabalho executado.
Passei o velho sebo no cipó-caboclo, que ficou uma obra de arte e de perfeita disciplina. Em seguida agradeci ao cidadão que me indicou o BAZAR e ao Jaime pelo presente do sebo. Mas, comprar um novo bode, não comprei não.
Enviado pelo pesquisador do cangaço:
Antonio José de Oliveira - Serrinha - Bahia
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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Caro amigo Mendes: A referida crônica é uma historinha verdadeira entre eu, as recomençãoes do meu médico cardiologista e os meus indicadores dos locais onde poderia adquirir o necessário cipó-caboclo, o qual continua sendo utilizado em dias alternados nas minhas caminhadas prescritas pelo profissional de saúde. Gostei imensamente da distribuição das imagens na postagem, comprovando assim o seu profissionalismo, inclusive colocando a foto de Virgulino Ferreira no local adequado da escrita.
ResponderExcluirAbraços e só tenho a dizer: Muito grato.
Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha-Ba.
Antonio Oliveira:
ResponderExcluirParabéns pela excelente crônica.
Eu também fiz exames, solicitados pela Dr. Gisele Reis Lopes, uma paulista formada em Cuba, que há mais de seis meses reside em minha casa. Eu também fiz dezenove exames, e fui obrigado a me deslocar até a capital do Estado para uma biópsia. Segundo ela, que me encaminhou, não é especialista em PSA, disse-me que este, apenas apresentou uma inflamação, mas estou aguardando o especialista que viajou,. para passar os medicamentos. Mas creio que dará certo.
Pois é companheiro Mendes: Não é o seu caso (sim o meu), depois dos 70, mesmo sem nenhum sintoma, quando vamos a um médico especializado na área cardíaca, ele solicita exames, que, talvez tenha que fazê-los em outros Planetas. E você sabe que nos tais exames são encontradas "coisinhas" que necessitam o acompanhamento médico?! Assim somos nós.
ResponderExcluirAbraços e obrigado por achar que a escrita da crônica está mais ou menos adequada.
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha-Ba.