Publicado em 25/10/2013 por Rostand Medeiros
O FUSCA FARDADO – O CARRO POPULAR DE ADOLF HITLER
Festa Nazista
e o “Carro do Povo” – Fonte – Tima/Life
A Kraft
durch Freude , que pode ser traduzido como “Força pela Alegria”, a
organização para os tempos livres da DAF - Deutsche Arbeitsfront, a Frente
Alemã do Trabalho, a grande organização corporativa do regime nazi, foi quem
mandou construir a fábrica de Wolfsburg, onde foi produzido o “carro do povo”.
Tudo começou
em 1934 quando o ditador Adolf Hitler encomendou ao engenheiro austríaco
Ferdinand Porsche o desenvolvimento de um pequeno automóvel “para o povo”.
Porsche tinha
sido diretor técnico da empresa Daimler-Benz, mas no começo dos anos 1930
tinha-se estabelecido por conta própria como designer de automóveis de
competição, em Stutgart, no sul da Alemanha. Um dos seus projetos era o de
desenvolver um carro pequeno que fosse, ao mesmo tempo, barato e económico; um
«carro popular», que em alemão se dizia Volkswagen.
O primeiro
estudo foi realizado em 1931 para a fabricante de motocicletas Zundapp, também
conhecida como Zünder- und Apparatebaugesellschaft. O protótipo, com o nome de
tipo 12, foi produzido no ano seguinte, mas logo foi abandonado. Em 1932, este
projeto foi reaproveitado por outra fabricante de motocicletas, a NSU Motorenwerke
AG, mas também acabou por ser abandonado.
Porsche
apresentando a Hitler seu projeto
Em 1933,
Hitler abordou Porsche, que conhecia desde 1924, sobre a realização de um carro
popular e pediu-lhe a apresentação de projetos. Porsche, entre outros,
apresentou um trabalho com base numa plataforma com suspensão dianteira e
traseira com barras de torção, com um motor de 4 cilindros refrigerado a
ar. A carroçaria baseava-se no carro Tropfenwagen desenvolvido pelo austríaco
Edmund Rumpler, um carro em forma de gota de água. Foi este projeto que Hitler
apoiou em 1934, e que foi formalmente contratado com a Reichverband der
Automobilindustrie (RDA), a associação industrial da indústria automotiva.
O carro que
foi encomendado tinha que ter como características, um motor traseiro de 986
cilindradas, 26 cavalos, uma velocidade máxima de 100 km/hora, não pesar
mais de 650 kg, ser refrigerado a ar, e consumir sete litros de gasolina a cada
cem quilômetros. Imitando a solução encontrada pela Ford, com o seu modelo
T, o Volkswagen, também só seria fabricado numa única cor – um azul
escuro acinzentado, quase preto.
Hitler
conhecendo os primeiros protótipos – Fonte – Time/Life
Os primeiros
protótipos foram terminados em fins de 1935, sendo batizados com o código VW1 e
VW2. Os primeiros ensaios em estrada foram realizados de Outubro a Dezembro de
1936, com base em três protótipos, e depois de estes serem analisados por uma
comissão de admissão à produção, composta por representantes de todos os
construtores de automóveis alemães, o projeto foi aceito.
Em 1937 e 1938
foram fabricados à mão, pela Mercedes-Benz, por ordem expressa de Hitler,
duas séries de protótipos, conhecidos pelo nome de VW38. Uma primeira série de
30 e posteriormente uma nova série de 60 unidades, que realizaram ensaios de
avaliação em grande escala.
Foi em 1938
que se decidiu construir uma fábrica para produção dos Volkswagen. O local
escolhido foi a propriedade do conde von Schulenburg, o castelo de Wolfsburg,
em Fallersleben na Baixa-Saxónia, a 80 km da cidade de Hanover.
A empresa que
iria produzir o novo carro foi registada, em 28 de Maio de 1938, com o nome
Gesellschaft zur Vorbereitung des Volkswagens (GEZUVOR) – Companhia para o
desenvolvimento do Volkswagen, que foi mudado para Volkswagenwerk GmbH em
outubro seguinte.
A fábrica foi
lançada por Hitler em 26 de Maio de 1938, sendo aí apresentados os protótipos
definitivos. O New York Times de 3 de Julho descrevia-o ironicamente
dando-lhe o nome de «Beetle» – Besouro. A sua apresentação ao grande público
ocorreu no Salão Automóvel de Berlim de 1939, com o nome de Kdf Wagen –
o Carro Força pela Alegria ! Ao mesmo tempo em que se construía a
fábrica para a produção do carrinho, criava-se uma cidade que teve o nome
provisório de Stadt des KdF-Wagens - Cidade do carro Força pela
Alegria.
Anúncio ao
KDF-Wagen mostrando a caderneta de poupança para organizar o pagamento do
carrinho.
O preço
estabelecido foi de 990 Reich Mark’s, mais 200 marcos para o pagamento dos
seguros, num total de quase 1.200 marcos, fantasticamente divididos em
pagamentos semanais de 5 marcos. O contrato previa a possibilidade de rescisão,
mas a empresa seria indemnizada com 20% do capital pago, não se obrigando a um
prazo de entrega, mesmo que o carro já tivesse sido pago.
Em finais de
1938 havia 150.000 contratos realizados, que chegaram, em Novembro de 1940, aos
300.000, mas nenhum “Volkswagen” foi entregue a particulares. Entre Maio
de 1938 e Setembro de 1939 foram fabricados, à mão, 215 exemplares, sendo que o
primeiro destinado à venda saiu da fábrica em 15 de Agosto de 1939. Estes
exemplares foram todos entregues a dignitários nazistas.
Hitler e seu
carro popular – Fonte – Getty Images
A produção em
série só começou em Julho de 1941, sendo produzidos ao todo 41 modelos,
basicamente militares. Quando em Agosto de 1944 a fábrica foi integrada na
indústria de armamento alemã, sobretudo para produzir os foguetes V1, e a
produção dos KdF-Wagen foi terminada, tinham sido produzidos, ao todo, 630
exemplares.
O primeiro
modelo militar, construído na fábrica da Kdf, foi um carro para oficiais,
com tração nas quatro rodas e um chassi mais elevado, que teve o nome de
Kommandeurwagen e foram construídos 667 exemplares. O modelo tinha boas
qualidades em todo-o-terreno, mas o seu desempenho na estrada era ruim pela
falta de tração. Foi o carro que voltou a ser fabricado em 1946, quando a
fábrica, destruído durante a guerra, voltou a produzir novamente.
Um
Kommandeurwagen preservado
O Kübelwagen,
o modelo seguinte teve muito mais sucesso, tendo sido produzidos 50.788
exemplares. Foi, de fato, o Jeep alemão. Devido o motor refrigerado a
ar, podia ser usado em qualquer região do mundo, tanto no Ártico como no Norte
de África.
O Kübelwagen,
o “Jeep” alemão
Em 1944 o motor
de 984 cilindradas foi substituído por um de 1.131, o mesmo motor que será
usado nos primeiros Volkswagen produzido no pós-guerra. Este modelo voltou a
ser produzido nos anos 60, tanto numa versão militar, como numa civil, sendo
conhecido nos Estados Unidos por “The Thing” – A Coisa!
O Kübelwagen
A outra versão
militar, e a última, produzida durante a Segunda Guerra Mundial
foi o Schwimmwagen. Veículo anfíbio produzido a partir de 1942, com
uma carroçaria completamente estanque, o Schwimmwagen era um bom veículo de
reconhecimento e era tracionado para todo terreno.
O
Schwimmwagen, usando o motor de 1.131 cilindradas que será utilizado depois no
Kubelwagen, foi fabricado até 1944, tendo sido produzidos 14.283 veículos.
Um
Schwimmwagen pronto para o combate
No fim da 2.ª
Guerra Mundial a Volkswagenwerk estava destruída. Quando os soldados da 102.ª
divisão de infantaria do exército americano avistaram a fábrica e a cidade
da Volkswagen, em 11 de Abril de 1945, desconheciam a sua existência porque a
localidade não vinha representada em nenhum mapa. Entretanto, as máquinas para
produção dos automóveis estavam intactas, e havia material armazenado que
permitia o recomeço da produção.
Mais tarde,
com a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação, a cidade passou a ser
responsabilidade do exército britânico. Foi encarregado de reativar a fábrica o
major Ivan Hirst, do Corpo de Engenheiros do exército britânico, pois carros
pequenos eram necessários para as forças de ocupação britânicas.
A fábrica
destruida
Nos primeiros
tempos a fábrica serviu para reparação de Jeeps do exército
britânico, e produção de motores. Logo dois KdF-Wagens foram montados à mão,
para uso do Quartel General do exército britânico. Os britânicos fizeram uma
encomenda de 20.000 automóveis à Volkswagen e até ao fim de 1945 foram
produzidos 1.785 automóveis, e no ano seguinte chegou-se aos 10.000 veículos. O
preço unitário era de 5.000 marcos, sendo entregues à Comissão aliada de
Controle da Alemanha, e distribuídos aos Correios, à Cruz Vermelha e a outras
instituições nascentes no país em reconstrução. Não foram vendidos exemplares a
particulares.
No dia 2 de
Janeiro de 1948 o exército britânico entregou a Heinz Heinrich Nordhoff, um
antigo engenheiro da empresa Opel, a direção da fábrica. Em 1949 os Aliados
entregaram o controle dos bens públicos do estado alemão ao governo federal,
entre estes a fábrica da Volkswagen.
Heinz Heinrich
Nordhoff e os novos “Carros do Povo”
Apesar de tudo
que havia ocorrido, a empresa entregue à Alemanha era uma empresa de sucesso.
Empregava quase 10.000 pessoas, produziria até ao fim de 1949 46.154 veículos,
dos quais 23% seriam exportados para nove países. Uma produção que aumentava
rapidamente. O Volkswagen era o carro mais vendido na Alemanha, tendo 50% do
mercado. A empresa estava a criar uma rede de vendas e de serviço na
Alemanha e no estrangeiro, e tinha inovado ao criar um seguro especificamente
para os compradores de Volkswagens.
Fonte –
vwboxerpatos.blogspot.com
Logo estes
veículos cruzariam a linha do equador e desembarcariam em um grande país
tropical, onde seriam eternamente conhecidos como “Fusca”.
Baseado em
texto encontrado no site – http://www.arqnet.pt
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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