Por: Geraldo Maia do Nascimento
Zé
Rocha deixou o seu nome gravado na história dos transportes coletivos de Mossoró.
De um modesto veículo com que principiou as viagens, conduzindo passageiros,
cargas e malas postais, num curto espaço de tempo conseguiu adquirir uma frota
de caminhões que lhe permitiu dominar inteiramente os serviços de transportes
coletivos entre Natal e várias cidades do interior potiguar, tendo como ponto
de apoio a cidade de Mossoró. Era daqui que partiam todas as suas iniciativas
de trabalho e de organização.
Tinha
uma boa equipe de apoio, formada por motoristas, mecânicos, pessoal
administrativo e tudo o mais que necessita para a administração de uma empresa.
Alguns desses colaboradores, no entanto, ficaram famosos na época, pelo jeito
de ser. Vamos lembrar algumas dessas pessoas:
O
primeiro é o seu próprio filho Severino, conhecido por Severino de Zé Rocha.
Era um jovem de temperamento marcado pela intranquilidade, enchendo as estradas
com as loucuras de suas corridas desenfreadas, que enchiam de terror os
desventurados passageiros que por falta de sorte tinham pegado o seu
transporte. Praticava o que hoje chamamos de direção perigosa, pondo em risco,
além de sua própria vida, as dos seus conduzidos. Tanto assim que nas estradas
o seu caminhão era conhecido como “besta fera”.
Um
contraponto ao comportamento de Severino de Zé Rocha era Alfredo. Uma figura
alta, magra, de face chupada e voz macia. Era o mais seguro dos motoristas,
inspirando confiança e estima.
Tinha
ainda uma figura curiosa que era o “Mudo de Rocha”, que viajava sempre em cima
da carga, gritando, bufando, grunhindo, gesticulando para todo o mundo que
encontrava, através da mímica, porque se fazia entender de modo claro.
Com
o passar dos anos outros empreendedores foram instalando em Mossoró os seus transportes
coletivos, prestando assim inestimável serviço a sua população. Na sequência
dos acontecimentos lembramos a figura de Cícero Gadê, que foi descrito pelos
contemporâneos como “um paraibano bom como o diabo, calmaria de um elefante
respirando”. Organizou uma empresa de transporte de passageiros, em ônibus para
Natal, com viagens diárias. O serviço era feito em carros novos, confortáveis,
com estilo de capital, pois tinha até agência de partida e de chegadas das
viaturas, com venda de passagens e etiquetas de bagagem.
Aparece
na sequência Ismael Siqueira com seus filhos mantendo linha de passageiros para
Natal. A sua empresa durou muito tempo e o serviço era regularmente dentro do
horário.
Temos
registro de uma figura que ficou marcada na estrada de rodagem de Mossoró a
Natal que foi a do motorista Antônio de Luís Cirilo. Era um dos poucos donos de
coletivo que guiava o próprio transporte. Dirigiu enquanto a viatura teve
permissão para circular, no mesmo ritmo de trabalho, com as mesmas
peculiaridades, com o modo brusco com que tratava os passageiros, sem atenção
para ninguém.
Na
linha de Fortaleza, Raimundo Agostinho foi o mais popular dos donos de
caminhão. Iniciou as viagens e por muito tempo foi o único a explorar essa
linha entre Mossoró e Fortaleza. Igualmente a Antônio de Luís Cirilo, guiava o
seu próprio veículo. Curiosamente, Raimundo Agostinho nunca teve pressa em
terminar a viagem. Nunca teve hora certa para partir ou para chegar. As demoras
das viagens eram explicadas, pois todo o mundo dizia que ele tinha várias
namoradas ao longo do percurso, e parava em todas para um lanchinho ou a água
resfriada na moringa. A parada do almoço era complementada com o intervalo para
descanso, que se seguia até o sol pender. Nada de pressa. Assim, quem tivesse
negócio com dia e hora marcados, que não fosse no seu carro.
Uma
curiosidade envolvendo Raimundo Agostinho é que como por certo período foi o
única a explorar a linha entre Mossoró e Fortaleza, cabia a ele fazer entrega
de cartas que lhe davam aos montes, tanto para Fortaleza como para Mossoró. Ao
chegar a essas cidades, passava no jardim (em Fortaleza, na Praça do Ferreiro,
em Mossoró, na Rodolfo Fernandes), pegava uma pedra e botava o pacote de cartas
debaixo, dizendo: “- Quem quiser que venha receber aqui”...
Continua...
Autor:
Geraldo
Maia do Nascimento
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