Por Daniel Walker
No dia 4 de
outubro de 1911, os chefes políticos do Cariri se reuniram em Juazeiro para
realização de uma Assembleia que foi chamada pelos organizadores de vários
nomes, entre os quais Pacto de paz, Pacto de harmonia política, Aliança
política, Conferência política, Pacto de Haya-mirim e Artigos de fé política.
Mas é com o nome de Pacto dos coronéis que ela figura nos livros de
história de Juazeiro e do Padre Cícero.
Padre Cícero
Na verdade, o
termo Pacto dos coronéis é usado de forma pejorativa e tem a finalidade explícita
de associar o nome do Padre Cícero (que presidiu a Assembleia) ao coronelismo,
como forma de denegrir sua imagem, uma vez que coronelismo é um termo abominado
por muita gente, pois está geralmente associado a fraudes eleitorais, voto de
cabresto, corrupção, banditismo etc.
Tela de
Assunção Gonçalves: O Pacto dos Coronéis
Segundo o
jornalista e escritor Edmar Morel o Pacto dos coronéis realizado em Juazeiro é
“uma página da história do banditismo no Nordeste, um pacto de honra
assinado pelos maiores e mais respeitáveis coronéis que infelicitaram os
sertões do Brasil, atirando homens contra homens e transmitindo o ódio e a sede
de vingança de geração em geração. Uma página celebérrima do cangaceirismo no
Brasil”.
Ao abrir os
trabalhos da referido Assembleia Padre Cícero declarou que, “
traduzindo os sentimentos altamente patrióticos do egrégio chefe político,
Excelentíssimo Senhor Doutor Antônio Pinto Nogueira Accioly, que sentia d´alma
as discórdias existentes entre alguns chefes políticos desta zona, propunha
que, para desaparecer por completo esta hostilidade pessoal, se estabelecesse
definitivamente uma solidariedade política entre todos, a bem da organização do
partido os adversários se reconciliassem, e ao mesmo tempo lavrassem todos um
pacto de harmonia política”.
Padre Cícero e
coronéis do sertão do cariri
Porém os
historiadores inimigos do Padre Cícero, no intuito de manchar sua biografia,
costumam dizer que ela teve a finalidade de solidificar o mandonismo dos
coronéis na região do Cariri através de ajuda mútua e especialmente dar
sustentação política à famigerada e dinástica oligarquia do coronel
Antônio Pinto Nogueira Accioly, então presidente do Ceará, e segundo esses
historiadores, uma oligarquia que era responsável pelo atraso em que se
encontrava o Estado do Ceará.
Pois bem, no
livro Milagre em Joaseiro, do insuspeito historiador americano Ralph Della
Cava, há referência a outra reunião de chefes políticos do Cariri,
realizada em Barbalha, em 1912, um ano após a realizada em Juazeiro, conforme
noticiou o jornal Folha do Povo (Fortaleza, 28.10.1912), cujo objetivo era dar
apoio político ao coronel Franco Rabelo, também como Accioly, presidente do
Estado do Ceará. A ela compareceram, segundo anotou Della Cava, representantes
dos seguintes municípios: Barbalha, Crato, Juazeiro, Milagres, Missão Velha,
Jardim, Brejo Santo, Santana do Cariri, Aurora, Araripe, Campos Sales,
Porteiras, São Pedro (Caririaçu), Assaré, Saboeiro, Iguatu, Quixadá e São
Mateus. Lavras não mandou representante. A notícia não diz, mas com certeza a essa
assembleia Padre Cícero não foi.
Nogueira
Accioly e Afonso Pena
O esquisito é
que dessa outra reunião ninguém fala, quase não existem livros falando sobre
ela, e em momento algum passou à história com o nome de Pacto dos coronéis,
embora a finalidade tenha sido praticamente a mesma da realizada em Juazeiro em
1911, ou seja, dar sustentação a um chefe político. Infelizmente, para
muitos escritores, teve o nome do Padre Cícero - não é coisa séria. Por
que será, hem?
Daniel Walker
Fonte:
http://www.portaldejuazeiro.com
http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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