Por: Jorge Remigio
Esse mundo do
cangaço é mesmo muito estranho, já dizia Estácio de Lima. Para entendimento
melhor desse fenômeno, é necessário desvencilhar-se de ideias contemporâneas e
mergulhar de ponta em um passado remoto, brabo e supersticioso. Citarei algumas
crendices extraídas do livro LAMPIÃO, O Senhor do Sertão, da francesa Élise
Grunspan-Jasman, Ed. USP 2006. páginas 227, 228 e 229. Excelente livro por
sinal.
PROTEÇÕES MÁGICAS
* Cangaceiros
não comem tapioca.
* Não sentam
numa pedra que serviu para amolar as facas.
* Só passam
por baixo de uma árvore no seu lado direito.
* Não saltam
por cima de muro, não passam pelas barreiras de frente e sim de lado,
levantando primeiro a perna direita. Segundo Abelardo Montenegro, os
cangaceiros deviam sempre passar por cima de um muro como se passassem por cima
do corpo de seu inimigo.
*Não passam
por cima das barreiras e dos muros, e quando são obrigados a fazê-lo tiram
antes o chapéu. Na mesma lógica, o cangaceiro nunca passa debaixo de uma rede
nem debaixo da corda de um animal amarrado.
* Os
cangaceiros nunca trocam de roupa, evitam tomar banho (conta-se que as
"orações fortes", orações mágicas que Lampião trazia consigo,
perderam seu efeito no dia de sua morte porque ele estabelecera seu acampamento
no leito seco de um riacho e porque chovia: "Oração forte não pega dentro
d'água".
* Não bebem
água de bruços, nem no côncavo das mãos. Quando não tem cabaça ou recipiente
para beber água, é o chapéu que faz as vezes de recipiente. Quando bebem água,
sempre jogam um pouco nas costas.
* Limpam
cuidadosamente os anéis que roubaram e depois assopram neles para atrair sorte
e dinheiro.
* Quando
carregam seus fuzis, tomam o cuidado de só introduzir um número ímpar de balas
(nove), e no momento dos combates contam os tiros para que haja sempre um
número ímpar no fuzil.
* Quando são
atacados de surpresa, cortam as cordas das redes que levam consigo ao fugir.
Deixar uma rede suspensa é prenúncio de morte.
Gostou?
* Quando estão
reunidos numa casa, instalam suas redes de maneira que fiquem na mesma direção
que as vigas.
* Não dormem
com os pés voltados para uma igreja.
* Não utilizam
objetos que tenham relação com o mar, nem os confeccionados com chifre de
animais.
* Há dias da
semana os quais não tem direito de combater e outros que não são propícios às
longas caminhadas ou a uma mudança. Nunca se barbeiam na sexta-feira, a
segunda-feira é consagrada às almas e a terça-feira é fonte de perigo.
* Quando
deixam o seu acampamento, os cangaceiros nunca se esquecem de depositar uma
pequena quantidade de sal no solo para evitar perseguições.
* Os tabus
ligados ao sexo feminino, fonte de perigo, são extremamente estritos. Não
montam em égua prenhe. Antes de subir na sela, verificam se esta não esconde
roupas de mulher. Acham com efeito, que uma camisa, uma calça ou uma combinação
de mulher, introduzidas sob a sela, as deixariam expostas a uma morte certa e
imediata.
* As vésperas
de uma mudança evitam relações sexuais.
* Depois de
manter uma relação sexual não devem viajar durante três dias.
Bem antes da
entrada das mulheres no cangaço, o próprio Lampião impunha aos seus
companheiros todo um ritual cheio de proibições sexuais. Assim, era perigoso
ter relações sexuais nas sexta-feiras, "dia da morte de jesus", e na
véspera de combates quem tivesse cometido o "pecado da carne", devia
emergir nas águas Purificadoras do São Francisco, depois das dez horas da
noite, com a cabeça protegida por um chapéu de palha.
Abraço
cangaceiro
Jorge Remigio
Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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