Por Rangel Alves
da Costa*
Eu gosto de
gente, de povo, gosto de pessoas. De conhecidos e desconhecidos, gosto de todo
mundo. Daquele que não me olha, do outro que não me sorri, mesmo do que nega um
cumprimento, ainda assim eu gosto.
Não sei por
que determinadas pessoas são frias, egoístas, vaidosas demais. Atuando como
advogado, raramente vejo um profissional cumprimentando o outro, fazendo uma
educada deferência. E quando vai atuar na parte contrária, então parece que se
torna verdadeiro inimigo.
Mas eu gosto
de pessoas e em qualquer situação. Mesmo que não as conheça, fico distante
imaginando como aquela feição seria num breve diálogo, numa conversa mais
alongada ou em qualquer situação de encontro. Não sei bem o porquê, mas em
algumas sinto como se já as conhecesse de outros tempos.
Sei o quanto é
difícil gostar de pessoas. Pela violência do mundo, pela estupidez corriqueira
e as arrogâncias tão costumeiras, muitos até fogem de qualquer aproximação. E
possuem certa razão. De repente basta um olhar e outro já quer tirar
satisfação, pergunta o que quer com rompante agressivo e até saca a arma no
olhar.
Mesmo temendo
tais possibilidades, ainda assim insisto em gostar de todo mundo. Aprecio
avistar pessoas com aspectos solitários, sentadas nos bancos das praças,
caminhando ao redor dos canteiros, talvez conversando com pombos. E também
daquelas que passam apressadas, quase correndo, sem tempo sequer para olhar
para os lados.
Muitas pessoas
são frias demais, é verdade. Imagina-se até que não gostem de ninguém por perto
e muito menos que possam lhe dirigir a palavra. Viver assim arredias possui
suas motivações. E é por isso mesmo que merecem ser procuradas, ouvidas e
compreendidas. Aos poucos, será possível encontrar as margens da ilha em que se
escondem.
São raras as
ocasiões, mas de vez em quando ouço um cumprimento de alguém que não me lembro
de ter visto antes. Um bom dia ou boa tarde, apenas isso, mas com um poder
magistral de provocar a sempre boa sensação de cordialidade e respeito. Passam,
cumprimentam e seguem adiante. Mas deixam uma vontade danada de ir atrás e
pedir para que digam quem são, o que fazem, para onde vão.
Jamais procuro
interromper o silêncio autoritário de qualquer um que se ache importante demais.
Pessoas existem que se acham escudadas no suposto poder que ostentam. Só falam
com papéis, com números, ao telefone, e quando muito. Nunca estão, não podem
receber, e se estão não há de se esperar um diálogo cordial. O mármore desponta
como se o interlocutor tivesse de estar ajoelhado para implorar.
Que sejam
assim, eu não. Gosto muito de pessoas e tenho certeza que continuarei gostando.
Quando chego ao meu sertão, o prazer maior é cumprimentar aquelas mais idosas,
empobrecidas, viventes nos escondidos e arredores da cidade. E também nada mais
cativante que ter a certeza do quanto elas admiram ser lembradas, visitadas,
chamadas a um proseado. Os olhos cansados brilham, os corações se enchem de
graças, e tudo tão verdadeiro como a própria existência.
Mas é melhor
não gostar e nem falar a cumprimentar com falsidade, a sorrir com ironia ou ter
o outro com desrespeito e inferioridade. Do mesmo modo, muito mais verdadeiro
desconhecer totalmente a tratar de forma diferente toda vez que haja um
encontro. Tem gente que num instante está com uma feição e no outro já está
totalmente mudada. Instáveis demais, com problemas próprios não resolvidos,
gostam de descontar perante os outros suas mágoas e revoltas.
Não posso
dizer que sejam e ajam diferente, que sejam mais cordiais, que compreendam que
todos merecem respeito e atenção. Impossível moldar a conduta do outro,
principalmente quando este sequer tem tempo de dialogar consigo mesmo. E não se
conhecendo, não se gosta. Mas eu gosto de pessoas. E muito. Por isso mesmo que
gosto tanto de você.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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