Até 1938 com o
anúncio da morte de Lampião, as cidades do interior do Nordeste viviam em
estado de alerta quanto a indesejável “visita”. No final de maio de 1935 chegou
a notícia em Garanhuns, que Lampião estava para invadir a cidade. Muita gente
com medo, abandonou de suas casas, deixando tudo pra trás. Nas cidades da
região, menores que Garanhus, logicamente as pessoas sabiam que seriam presas
mais fáceis ainda para o facínora. Em todas as cidades da região as pessoas se
preparavam para o combate com cangaceiros. As casas daquele tempo tinham em
seus “para-peitos” buracos para que pessoas de cima das casas pudessem colocar
as armas para guerrear. No final de maio, início de junho daquele ano, chegou a
notícia em Capoeiras da invasão de Lampião e seu bando a Buíque, Pedra e Santo
Antônio do Tará, localidades próximas à Capoeiras. Depois dessas invasões, o
alerta na então vila, pertencente à São Bento do Una, era máximo. No final de
junho o “Velho Moleque”, pai de “Antônio Moleque”, conta a todos que tapeou o
“Rei do Cangaço”. Segundo relato, ele viajava em seu Jeep, de Garanhuns para
Capoeiras, quando foi surpreendido por Virgulino e seu bando, que o ordenou que
os levassem à nossa vila, onde viria “acertar negócios” com o Coronel João
Borrego. O Velho Moleque temendo o pior para a sua terra, disse ao cangaceiro:
- Capitão, o Senhor mandando, eu levo o Senhor pra onde me mandar, mas aviso logo que em Capoeiras tem muito macaco esperando a sua chegada.
Com essa imprudente mentira, o Velho Moleque livrou nossa terra quem sabe de muitas mortes, pois não tinha “macaco” nenhum na vila, apenas o povo pacífico e assustado. Com a informação de que Capoeiras estaria preparada para a sua chegada, Virgulino mandou então que o Velho Moleque o levasse para Serrinha do Catimbau, hoje Paranatama.
O bando parecia cansado, segundo o Velho Moleque.
Vindos de algumas invasões na região o grupo era composto de apenas 9
cangaceiros, que se soube o nome de todos depois. Eram eles: Lampião, Maria
Bonita, Maria Ema, Fortaleza, Cabo Velho, Medalha, Juriti, Moita Braba e Gato.
Poderia ter mais alguns escondidos na mata, dando cobertura, mas que viajaram
no Jeep, apenas esses. Perto de Serrinha, o Velho Moleque deixou o bando, e
partiu. Em Paranatama o combate foi intenso.
Liderados por João Caxeado e Oséas
Correia, o povo de Paranatama botou Lampião pra correr, baleando Maria Ema e
Maria Bonita, além de um cachorro do bando, de nome “Dourado”, que morreu no
local.
Paranatama e Mossoró no Rio Grande do Norte, são as únicas cidades
nordestinas que botaram Lampião pra correr. Na cidade potiguar ainda foi pior
para os cangaceiros, pois lá morreram os cangaceiros Colchete e Jararaca.
(Lampião tinha por prática colocar o nome de cangaceiros mortos em combate em
outros que entravam no bando. Isso fazia aumentar o mito que cangaceiros eram
imortais. Jararaca, por exemplo, se tem conhecimento de três Homens com o mesmo
nome, e Colchete além de ter morrido em Mossoró, tem o seu nome na lista de
mortos na Grota de Angicos em 1938, junto com Lampião, Maria Bonita e mais oito
cangaceiros). Aqui em Capoeiras, o que pouca gente sabe é que depois desse
fato, em 1936 Lampião andou em nossas terras, onde passou despercebido. Andou
pela rua principal, viu as saídas de fuga e chegou até passar na frente da loja
de João Borrego, planejando quem sabe saquear a vila. Antes, em 1934, chegou no
Sítio Alto do Tejo, já dividindo com o Sítio Mumbuca, um casal e uma mulher
mais velha pedindo “arrancho”. Esse casal se dizia vindos de Monteiro na
Paraíba, e a mulher que era mãe da mais nova, e sogra do Homem, deu o nome de
Paulina. A avó do conhecido Miguel David, nascido em 29 de setembro de 1919, de
nome Tereza Borges, ou Tereza de Salú Vicente, deu morada a esse casal, com
quem fez grande amizade. Depois de algum tempo a Senhora Paulina revelou para
Dona Tereza que “Paulina” não era o seu nome verdadeiro, e que também não era
oriunda de Monteiro, que era na verdade uma tia de Lampião, fugida da Polícia
Volante. Lógico que Dona Tereza guardou segredo. Dois anos depois de estarem
morando em Capoeiras, certo dia, num final de tarde, chega na morada dos
forasteiros dois Homens montados à cavalo. Era um “cabra” de confiança do
cangaceiro e o próprio Capitão Virgulino, que estaria com seu bando próximo à
Capoeiras, entre os Sítios Gentil e Caatinga Branca, próximo a Santo Antônio do
Tará, nas terras da Família Vaz.
Segundo Miguel David, que na época era um
“molecote” de 17 anos, a dupla chegou ao sítio vestido normalmente, sem suas
indumentárias de cangaceiros, que pareciam mais com caixeiros viajantes. Dona
Tereza de Salú Vicente, que já fora avisada da visita, matou uma perua e
preparou um jantar para os dois cangaceiros. Miguel Davi e seu primo de mesma
idade cuidaram dos cavalos dos dois, serviço que lhes rendeu umas moedas e um
pequeno punhal. O relato conta que Lampião dormiu dentro da casa da tia,
enquanto o “cabra” passou a noite fazendo a segurança do chefe no terreiro.
Amanhecendo o dia, Lampião agradeceu a Dona Tereza pelo abrigo de sua tia, e
lhe prometeu proteção, disse a ela que qualquer problema que ela tivesse, era
só mandar lhe dizer, que ele resolveria. Não se sabe se o fato de sua tia ser
bem recebida em Capoeiras, ajudou para que Lampião e seu bando nunca agisse
pelas bandas de cá.
Fonte: facebook
Página: Luiz Ribeiro Gomes
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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