Por Gilmar Teixeira
Volante de
João Bezerra em Piranhas, Alagoas
Após uma
campanha completamente desastrada e constrangedora em Canudos na Bahia, o
Exército regular não podia mais se ver envolvido em conflitos de natureza
policial, no entanto seu uso era um constante, isto em função de não haverem
ainda forças policiais federais naquela época.
Por outro
lado, todos os governos do Nordeste brasileiro, via crescer velozmente o
banditismo em seus territórios e precisavam criar uma força policial que fosse
capaz de conter esse avanço tão nocivo a todos. Surgem então os pelotões mistos
que ficariam conhecidos pelo nome de Volante. Estas volantes eram compostas por
policiais militares e nativos do agreste e eram em geral comandadas por um
oficial de Exército (tenente ou capitão), ou um delegado de policia, indicados
geralmente por um “Coronel” da região, o que os tornavam conhecidos como
“delegados calça-curta”.
Esses grupos
percorriam grandes distâncias a pé, perseguindo os cangaceiros, na maioria das
vezes, em notada diferença, pois os perseguidos se encontravam muito melhor
armados e municiados que eles, além de contarem com uma verdadeira rede de
apoio formada por coiteiros, simpatizante ou não, que os alimentava e forneciam
até armamentos, enquanto que as forças legalistas, não traziam para si este
mesmo tipo de apoio.
Manoel Neto,
Chefe de Volantes, de Nazaré
É preciso aqui
esclarecer que algumas dessas tropas de Volantes, se utilizavam de métodos
iguais e em alguns casos, até mais cruéis do que os dos cangaceiros para com
aquela gente sofrida, chegando a ter ocorrido diversos casos de roubos,
assassinatos e estupros causados pelos policiais das Volantes. Qualquer atitude
ou deslize era motivo justificado para que houvesse esculacho contra os
moradores, sendo que desta maneira a integridade física e moral do sertanejo e
de seus familiares não valiam absolutamente nada diante daqueles que por
ironia, deveriam se obrigar a os respeitar e proteger. Assim, o sertanejo via
nos cangaceiros, homens que se respeitados, a recíproca seria idêntica,
chegando mesmo a protegê-los.
Outro fator
que dificultava o desempenho das Volantes era que ao contrário dos cangaceiros,
eles tinham que respeitar as chamadas jurisdições, não podendo ultrapassar as
fronteiras estaduais durante as perseguições. Esse impedimento, só bem mais
tarde pode ser resolvido com um acordo firmado por quase todos os estados
envolvidos, e que permitiam que as Volantes quando em perseguição, pudessem
transitar livremente, não mais respeitando fronteiras.
Volante do
Tenente Zé Rufino
Os componentes
das Volantes sobreviviam com baixos recursos governamentais, com armamentos
defasados, em marchas longas e exaustivas, muitas vezes sem alimentos, sem água
de boa qualidade, dormindo mal, chegando a ficar com fardas aos farrapos, por
terem que atravessar a caatinga, em sua maioria formada por facheiros,
macambiras, unhas-de-gato, xiques-xiques, madacarús e quipás. E não foram raros
os casos em que viram em seus quadros, casos de infecções, disenteria,
impaludismos, picadas de cobras, ferimentos à bala, e até tuberculose.
Gilmar
Teixeira
Perfil Coronel Delmiro Gouveia
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