Autor –
Rostand Medeiros
No dia 24 de
maio de 1926, decolava da base aeronaval americana de Miller Field, em Nova
York, um hidroavião Savoia-Marchetti S 59, pintado com as cores azul e branco,
sendo conduzido por três ocupantes e seguindo em direção sul, estava decolando
o “Buenos Aires”.
O Projeto de
um Herói da Aviação na Primeira Guerra Mundial.
A ideia desta
viagem tivera início em 1925 e tinha como objetivo abrir uma rota aérea para
futuros voos com passageiros. Os autores desta ideia foram os pilotos Eduardo
Olivero, e Bernardo Duggan.
Eduardo
Olivero
Olivero nasceu
em 2 de novembro de 1892, em Tandil, uma cidade argentina localizada na
província de Buenos Aires, a cerca de 350 km da capital do país. Ele era
filho de italianos emigrados para o país platino e durante a Primeira Guerra
Mundial utilizou-se de sua segunda nacionalidade para lutar entres as tropas italianas,
atuando na função de piloto de combate. Ascendeu ao posto de tenente na
denominada “Esquadrilha Baracca” e completou 553 voos de combate. Destes voos
156 foram missões de caça, 262 patrulhas de combate, 61 escoltas de
reconhecimento e de aviões de bombardeio. 11 missões de reconhecimento
estratégico, 14 missões de ataque terrestre contra concentrações de infantaria
austríacos e uma missão para derrubar um balão de observação do tipo Draken.
Documentos apontam que Olivero participou de 25 combates aéreos, em que
derrubou nove aviões inimigos. No fim da guerra é promovido a capitão.
Julio
Campanelli, Eduardo Olivero e Bernardo Duggan
Entre o fim da
Primeira Guerra e o ano de 1924 Olivero participa de diversos raids aéreos na
Argentina e experiências de voo em grande altitude, visando um melhor
aproveitamento aéreo sobre a Cordilheira do Andes. Em uma delas sofreu um grave
acidente que lhe deixou sequelas. Em 1924 realiza diversas experiências com
radiofonia aérea. Em 1925 inicia os preparativos, junto com Duggan, do Raid
aéreo Nova York – Buenos Aires.
Por aqueles
dias a incipiente rota Nova York – Buenos Aires era uma das mais difíceis,
recheada de inconvenientes e problemas, principalmente diante das
características técnicas dos aviões existentes na época. Olivero e Duggan,
concluíram que, para terem um melhor êxito deveriam tentar repetir o trajeto
realizado pelo tenente do Corpo de Aviadores dos Estados Unidos, Walter Hinton.
Vale lembrar que Hinton, junto com o brasileiro Euclides Pinto Martins, haviam
partido, em 1922, da mesma Nova York, em direção ao Rio de Janeiro, no
hidroavião Curttis, batizado como “Sampaio Correa”, sendo esta a primeira
aeronave a voar sobre o território potiguar. O americano, o brasileiro e mais
três tripulantes conseguiram realizar o seu intento, mesmo com muitos
problemas.
Na foto vemos
o norte americano Walter Hilton e o cearense Euclides Pinto Martins, que
possuía forte ligação com o Rio Grande do Norte – Fonte – Coleção do autor
Com os dados
das viagens de Hinton, os argentinos começaram a traçar a sua rota. Decidiram,
como a maioria dos aviadores da época, por utilizar um hidroavião. Concluíram
que a aeronave ideal seria o Savoia-Marchetti S 59.
Na Itália,
acompanham a construção e entrega de sua aeronave que contava com motores de
400hp de potência, a portentosa velocidade máxima de 176 km/h, autonomia de
1.400 km e uma carga de total de 900 litros de combustível. Isso tudo sem rádio
e outras máquinas de apoio ao voo.
Finalmente o
hidroavião é completado com as tradicionais cores nacionais argentinas e
despachado através de navio para Nova York. Neste momento junta-se aos dois
argentinos Julio Campanelli, executando o trabalho de mecânico.
Partindo da
Terra do Tio Sam
Nos Estados
Unidos são tratados com honras, recebendo apoio incondicional das autoridades
locais, inclusive com liberação de aterrissagem em bases americanas durante o
trajeto.
O hidroavião
Buenos Aires
Realizam
várias provas e no dia 24 de maio de 1926, decolam em direção sul, com a
primeira parada será em Chaleston, no estado da Carolina do Sul, depois Miami,
seguindo para Havana, em Cuba. Neste país passam ainda pelas cidades de
Cienfuegos e Guantanamo. Depois seguem para Porto Príncipe, no Haiti, aonde são
ovacionados por grandes multidões, depois Santo Domingo, na Republica
Dominicana, seguindo na seqüência para San Juan (Porto Rico), Ilhas Virgens,
Montserrat, Guadalupe, Martinica e Trinidad e Tobago. Neste ponto deixam de
sobrevoar as paradisíacas ilhas caribenhas e atingem a América do Sul pela
Guiana Inglesa (atual Guiana), chegando a capital Gorgetown, depois Paramaribo,
na Guiana Holandês (atual Suriname), em seguida Caiena, na Guiana Francesa. A
partir deste ponto ocorreria o incidente mais grave de todo o trajeto.
Barca paraense
“Juruna”, vendo sentados, da esquerda para direita, Duggan, Olivero, Mestre
Josino Campos (comandante do barco) e Campanelli, no porto de Belém em 1926.
Existem duas
versões para o que aconteceu com o hidroavião ao sobrevoar o trecho Caiena –
Belém.
Uma delas
afirma que o “Buenos Aires” teve um problema no motor e teve que pousar no
Oceano Atlântico, de frente as costas brasileiras, sendo resgatados por um
pequeno barco pesqueiro, o “Juruna”, que os reboca para uma ilha, na qual o
mecânico Camapanelli pode concertar a aeronave e seguirem para Belém.
A outra versão
afirma que as faltas de mapas detalhadas da região para uma melhor navegação,
além de chuvas torrenciais, fazem a tripulação do “Buenos Aires”,
aparentemente, perder seu rumo, pois os mesmos se vêm com uma completa falta de
combustível, tendo que pousar em um rio da região aonde os pilotos são
resgatados pelo mesmo “Juruna”. O certo é que durante alguns dias o mundo
desconhece o paradeiro dos três argentinos, preocupando todos que acompanhavam
o raid, Após os sete dias de parada eles seguem para Belém e lá são
recepcionados como heróis.
Visão
atualizada do que os aviadores do Buenos Aires observaram de Natal
Na
continuidade do seu trajeto no Brasil seguiram a costa norte brasileira em
direção ao Rio Grande do Norte e no dia 11 de julho de 1926 pousam no Rio
Curimataú, na região da Praia de Barra de Cunhaú. Mas apenas sobrevoaram Natal
as 11:20 da manhã, do dia 11 de julho de 1926.
A Segunda
Aeronave em Céus Potiguares
Qual teria
sido a razão dos argentinos terem ido direto para Barra de Cunhaú e não para a
capital?
Natal (30.000
habitantes na época) possuía razoáveis serviços de apoio e o Rio Potengi era
uma ótima opção para pouso, mas provavelmente neste ponto de uma viagem já bem
atrasada, os aviadores tenham decidido utilizar os mesmos locais de pouso e
trajeto realizados no mês de janeiro do mesmo ano, pela tripulação espanhola do
Dornier Val “Plus Ulta”, que concluirá seu raid Espanha – Argentina, em 10 de
fevereiro de 1926. Apesar de Olivero e Duggan não estarem na Argentina no
momento da chegada dos espanhóis, foi repassado a eles o roteiro dos pousos do
aeroplano espanhol em terras brasileiras. Nesse caso Recife, e não Natal, era o
destino normal após a decolagem do Ceará. Outra razão poderia ser creditada a
falta de um conhecimento mais apurado das qualidades de Natal como destino.
Recife, por ser uma cidade mais desenvolvida e conhecida no exterior naquele
período, era o destino mais correta para os pioneiros aviadores. Vale lembrar
que o raid dos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, mesmo
após os acidentes ocorridos no trajeto, seguiram direto para Recife.
Quem tem a
oportunidade de voar sobre a costa potiguar, entre a Natal e a fronteira da
Paraíba, percebe que além do Rio Potengi e da Lagoa de Guaraíras, o Rio
Curimataú, que desemboca em Barra de Cunhaú, é um dos melhores pontos para o
pouso de um hidroavião. Devido a estes fatos, parece-nos razoavelmente possível
acreditar que, neste período (primeira metade do ano de 1926), Natal ainda não
gozava de todo reconhecimento e prestígio no meio aviatório mundial. Fato que
mudaria consideravelmente já no ano de 1927.
Na bela região
de Barra de Cunhaú os aviadores receberam total apoio do coronel Luiz Gomes,
chefe político da cidade mais próxima, Canguaretama, e só seguiram viagem na
manha de 13 de julho. Eles partiram para Cabedelo, na Paraíba, depois Recife,
Maceió e Aracaju. Na sequência realizaram um percurso mais longo até a cidade
litorânea de Prado, na Bahia, pousando no rio Jucuruçu. De Prado, seguem para o
Rio de Janeiro, Santos, Cananéia, Florianópolis e Porto Alegre.
Na capital
gaúcha Olivero recebe a notícia que fora promovido a major do exército
italiano. Apenas outra jogada de marketing do histriônico ditador italiano
Benito Mussolini, aproveitando as manchetes mundiais sobre este voo.
Depois do
Brasil, os argentinos seguem para Montevidéu e depois a Buenos Aires. São
escoltados na chegada pelo hidroavião espanhol Dornier Val “Plus Ultra”,
orbitam sobre a capital Argentina e pousam com suavidade no Rio da Prata, tendo
percorrido 14.856 km, em 114 horas de voo efetivo. A cidade parou para receber
os seus heróis, tendo muitas bandeiras nos edifícios e muitas autoridades
presentes no desembarque dos aviadores.
Atualmente o
Museu do Forte Independência, em Tandil, guarda peças históricas do mais
importante raid argentino de longa duração.
- Dedico este
texto ao amigo German Zaunseder, compatriota dos aviadores do “Buenos Aires” e
um grande pesquisador da aviação potiguar e da Segunda Guerra Mundial em Natal,
cidade em que decidiu viver com muita satisfação.
Extraído do blog http://tokdehistoria.com.br do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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