Por Antonio
Morais
Os primeiros
voos da Asa Branca - Postagem e vídeo dedicado ao professor Antônio Dantas.
Região: Asa
Branca foi e é a composição mais laureada, mais difundida dentro e fora do País.
É tida como uma espécie de hino nacional da música popular brasileira. É
natural que lhe perguntemos: - Como surgiu a notável composição?
Gonzaga -
Quando menino, aqui em Exu, eu era também um moleque fazedor de música. Naquela
época não existia desenvolvimento cultural capaz de induzir na gente a
importância daquilo que se estava produzindo. Era um fazer por um simples
fazer. Mesmo assim, aquelas mais do agrado do povo eram por ele selecionadas e
guardadas. Eram sempre as mais simples. Essas coisas que faziam com a ajuda do
meu pai Januário, principalmente na conclusão da frase, saía cantando por aí,
nos forros de pé de serra. Foi nesta fase de minha adolescência que me inspirei
para fazer Asa Branca. Corria uma das grandes secas no Nordeste, castigando
duramente o sertão. Interessante é que, ao chegar ao Rio (de Janeiro), em 1939,
quando tentava conseguir fazer algo como sanfoneiro, frequentava a zona do
Mangue e, nos fins de semana, aqueles famosos programas de calouros de Ary
Barroso. Quando comecei a tocar era um verdadeiro assassino. Assassinava
grandes compositores e cantores como Carlos Gardel, Frazão e Násser, Pedro Vargas,
Elvira Rios, tentando imitá-los, pois, para mim, o importante era tocar e
cantar coisas modernas, de gente grande e famosa.
Quem estava na
moda, evidentemente, era essa gente toda. O negócio era imitar, sem dar bolas
para aquilo que, na verdade, me levou a fama e ao sucesso dos dias atuais: a
música popular, a música do meu pé de serra. Tempos depois, foi que acordei
para realidade. Nessa fase de transformação, de passagem de um polo para outro,
quando imitava os intérpretes famosos da música moderna, música erudita, muito
devo a um grupo de cearenses. Foi o seguinte: O café onde eu tocava era muito
frequentado por estrangeiros. Principalmente marinheiro. Nessa época o mundo
inteiro usava o mar, o principal meio de transporte era marítimo. Isso na
década de trinta, para começo de quarenta. Nesse ambiente, eu ganhava um
dinheirinho dos gringos.
É aí que entra
a história dos estudantes cearenses, universitários. Esse grupo tinha uma república
na Lapa, e sempre ia assistir-me. Depois que fizeram intimidade comigo,
passaram a exigir tocasse música daqui, música do sertão. Insistiram a ponto de
ameaçarem que jamais, a partir daquela data, me dariam dinheiro, como vinham
dando, numa colaboração com as minhas apresentações no citado local. Disse para
eles que aquilo não dava música sertaneja não dava para aqueles ambientes, e
mesmo eu queria tocar música de gente, música de sucesso.
Dias depois,
após meditar muito, resolvi mudar de ideia. Em casa, preparei algo como eles
gostariam de ouvir. Preparei um forró bruto mesmo, legítimo do pé de serra.
Quinze dias depois, para surpresa minha e da rapaziada do Ceará, lancei a música
que tinha preparado, e foi aquele sucesso. O local ficou apinhado de gente que
foi preciso o dono do bar chamar a polícia para manter a ordem, pois todos
queriam ver a minha apresentação do puro baião, do puro forró. Nesse dia, como
costumava fazer, coloquei um pires para receber as contribuições dos presentes.
Encheu ligeirinho, ligeirinho. Findei enchendo uma bandeja. A vibração dos
estudantes foi maior do que a minha. Bom, velho, boa, cabra paidegua. Não lhe
dissemos? Daí pra frente as coisas começaram a andar com maior rapidez. Tempos
depois estava diante daquela figura admirável de Humberto Teixeira.
Creusa Morena - Valseado.
Creusa Morena - Valseado.
Fonte
- Andanças e Lembranças.
Fonte
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